O dia em que quase perdemos a inauguração do trem
Um breve relato sobre a inauguração do trem bitola larga em Adamantina.
“A maior necessidade de um Estado é a de governantes corajosos.”
Johann Goethe
* * *
Recentemente, dando uma folheada aqui e ali, acabei relendo alguns trechos de um texto que a algum tempo havia escrito por aqui. Tratava-se de uma lembrança de minha infância acerca das viagens de trem que fazíamos. Pois bem, outros textos, em outros momentos também foram por mim redigidos, enfocando o mesmo objeto de estudo, o trem.
O que se nota e é plenamente evidente a todos os moradores da terrinha e região, é que o trem foi um dos propulsores de suas economias no passado. Sendo diversas cidades criadas a partir do traçado da linha férrea em meio a empreendimentos imobiliários de companhias ligadas a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF). Isso tudo não é novidade alguma em nossa história! No entanto, algumas curiosidades permeiam a chegada do tão famoso trem à terrinha.
Início das obras da ferrovia, em 1940 (Arquivo Histórico Municipal).
Poucos sabem que as dimensões e o tipo de locomotiva se alteraram ao longo do tempo. Nesse sentido, se faz necessário compreender alguns conceitos, como o de “bitola”. Grosso modo, entende-se sobre “bitola” a largura determinada pela distância medida entre as faces internas das cabeças de dois trilhos em uma linha férrea. As bitolas estreitas se caracterizam por dimensões menores que 1 435mm, enquanto que as bitolas largas possuem medidas maiores que esta [1].
Instalaçao dos dormentes de bitola estreita.
Explicações dadas, vamos ao ponto que nos interessa. O primeiro trem a chegar em Adamantina foi o “bitola estreita”, em 20 de abril de 1950. E sobre isso conforme mencionado já relatei em outrora por aqui. No entanto, ao longo do tempo a CPEF decidiu “modernizar” a sua frota, alterando também o tamanho da “bitola” de sua linha férrea.
Chegada do trem de bitola larga, em 9 de dezembro de 1958 (Reprodução: Livro Reviver Adamantina/João Carlos Rodrigues).
Trem de bitola estreita.
E é aí que entramos em uma das curiosidades da terrinha, que é relatada pelo Prof. Cândido:
A bitola larga seria inaugurada em 09 de dezembro de 1958. A inauguração teve o seguinte incidente: A diretoria da Paulista comunicou ao Sr. Prefeito Municipal, que a bitola larga seria inaugurada no dia seguinte em Lucélia, às 12 horas, porque o terceiro trilho ainda não chegado a Adamantina. Foi um “Deus nos acuda”, pois Adamantina não poderia receber tamanha humilhação, em virtude do passado histórico. (1999, p. 103) (Grifo nosso)
E continua:
Prefeito e empreiteira da construção da ferrovia deram as mãos e à zero hora do dia 10, foram retiradas todas as composições da bitola estreita no trecho e colocados os trilhos para a bitola larga e remarcada a inauguração para Adamantina [...]
[...] Assim às 12 horas do dia 10 de dezembro de 1958, chegava o trem especial com bitola larga em Adamantina, trazendo a Diretoria da CPEF, que era composta dos diretores: Clóvis Soares de Camargo, João Sampaio e Humberto Soares de Camargo e dos engenheiros Hernani Rezende de Andrade, Pelágio Rodrigues, Gastão Rocha Leão, Romualdo de Oliveira e Charles Murdock. (Idem)
Trem de biotola larga.
Modelo de trem de bitola larga, em 1958 (Reprodução: Livro Reviver Adamantina/João Carlos Rodrigues).
Assim, a terrinha inaugurou o “moderno trem bitola larga”, com uma obra feita da noite para o dia, tamanha rapidez de todos os envolvidos na conclusão da obra. No entanto, além da história e da curiosidade fica uma reflexão para os dias atuais e para os atuais “candidatos” ao Executivo da terrinha: Quando o “Poder Público quer” (ou tem interesse), a coisa sai do papel num piscar de olhos! Não é mesmo?
Tiago Rafael dos Santos Alves
Professor, Historiador e Gestor Ambiental
Membro Correspondente da ACL e da AMLJF