Opinião

A vitória dos Republicanos nos Estados Unidos

A vitória de Donald Trump, comportamento do eleitorado e as reações dentro e fora dos EUA.

Por: Paulo Sérgio da Silva (1)
A vitória dos Republicanos nos Estados Unidos

Evidentemente que o discurso de uma campanha eleitoral tende, naturalmente, visando convencer a maior quantidade de eleitores possíveis, a variar bastante através do espectro ideológico. É bem compreensível numa campanha um candidato ser classificado com um discurso conservador e depois no governo moderar-se ou até se radicalizar em algum ponto específico ou no conjunto da obra. O contrário também é válido, um discurso muito radical ou moderado na eleição transformando-se num conservadorismo colossal durante o governo. Então, no momento pós-eleitoral qualquer guinada de comportamento é compreensível numa democracia.

A democracia representativa liberal, entendida como indireta, é a que o eleitor elege representantes para representá-los, ou seja, tomar as decisões pelo eleitor. Logo, haveria nesta uma espécie de compromisso entre os representantes e os representados, algo, claro, questionável. No entanto, a democracia liberal que vivemos é real e não ideal, sendo ela apenas um método de seleção de representantes e não um fim em si mesmo. Dessa forma, os eleitores decidiriam apenas os representantes que iriam decidir por eles, de tempos em tempos nas urnas. Essa visão elitista e realista da democracia visa retirar a esperança do igualitarismo social e panaceia de todas as mazelas sociais concebidas na visão da democracia social e participativa.

Deve-se salientar que a vitória de Donald Trump foi democrática, até porque historicamente o que dá um tom maior à democracia norte-americana é o rodízio do poder entre os democratas e republicanos. Ainda que se proponha na agenda dos republicanos vitoriosos uma suprema corte mais conservadora, ela não deverá desbordar os limites da lei, mas seguir os parâmetros da dura lex sed lex. Os direitos constitucionais e o respeito pelas diferenças e minorias deverão continuar incólumes. É antiquado achar que um governo, ainda que fizesse propostas conservadoras, seria irresponsável a ponto de transgredir os direitos e conquistas sociais democráticas dos Estados Unidos.

A reação alarmista e desesperadora frente ao resultado da eleição, por parte de muitos partidários, ativistas e militantes solitários “da geração z” que atualizam o status de cinco em cinco segundos e muda a foto de perfil minuto a minuto nas redes sociais, é algo compreensível numa democracia ou na ciberdemocracia. Para quem compulsivamente posta hoax de hora em hora e com certa constância o que está fazendo, comendo e o mapa exato de sua localização no momento, não é de se estranhar tanta estranheza e alarmismo sem maior reflexão, para eles o mundo é rápido demais e o processamento da informação, resposta e postagem deve ser na velocidade de um K Computer.

Ultimamente certos candidatos, ao se comportarem de forma mais conservadora, estão trazendo milhões de votos para sua candidatura, sem dúvida o discurso deles reflete o que a sociedade deseja num determinado contexto. Pelo menos o discurso conservador retomou enquanto crença em muitos lugares, um exemplo foi a saída do Reino Unido da União Europeia. Historicamente tem sido muito comum a reação do conservadorismo frente à evolução dos direitos sociais. Podemos citar o caso da Nova Poor Laws (Nova Lei dos Pobres) de 1834 na Inglaterra que veio revogar a Poor Laws (Lei dos Pobres) de 1601, que trazia ajuda aos mais pobres. No início da década de 1970, uma onda de lideranças conservadoras ganharam as eleições para presidente em diversos países como Chile, Inglaterra, EUA, Alemanha, como uma reação ao modelo do Welfare State, inaugurando o que veio a ser denominado de neoliberalismo.

Trump fez promessas polêmicas, agora fica a questão, irá ou não, trair seu eleitorado no exercício de seu governo? Alguns dizem que sim se quiser fazer um bom governo. A questão que surge hoje é como, se Trump se mantiver fiel às suas propostas, isso poderia mudar o mundo? Para tanto, revemos os oito principais pontos defendidos por Trump, de acordo com a fonte BBC Brasil. 1) Menos impostos para os negócios americanos; 2) imigração dificultada e muro na fronteira com o México; 3) suprema corte mais conservadora; 4) mais protecionismo econômico; 5) revisão da política de mudança climática; 6) política nuclear e revisão do acordo com o Irã; 7) fim do Obamacare; 8) temor na OTAN e mudanças das relações com a Rússia.

É provável que em parte, essas promessas tenderão a se realizar. Talvez o sentido maior desse caminho seja uma maior aproximação dos EUA com a Rússia, buscando recriar um antigo mundo bipolar da Guerra Fria. Isso teria um preço, a China é o principal mercado consumidor dos Estados Unidos. De todas essas reformas, a que parece mais notável de acontecer é a mudança da geopolítica mundial, não necessariamente como foi esboçado nas promessas de campanha, mas de uma forma ou de outra, parece que vai mudar.

Porém é provável que boa parte das promessas não venha acontecer. Uma ruptura com a OTAN teria um significado negativo junto aos países da Europa. Mas por outro lado, Trump parece estar decidido a romper com a OTAN, enfatizando que os Estados Unidos não são obrigados a bancar e manter tropas na Europa para defender países caso venham ser atacados pela Rússia. Parece que desta forma os Estados Unidos estariam exigindo uma maior atuação da ONU.

A questão principal é em relação às barreiras de importação. O país pode e deverá diminuir o imposto para as empresas norte-americanas e dificultar a importação. Isto poderia dificultar as exportações da China e Brasil para os Estados Unidos. A questão é saber, será que dá certo? Os americanos estão acostumados com um consumismo de preços baixos nas famosas redes de supermercados, devido aos produtos chineses. Estariam prontos a mudar? Teriam eles encontrado outra fórmula de outro consumismo barato? Precisamos esperar mais um pouco.

(1) Paulo Sérgio da Silva. Doutor em ciência política pela USP e professor da UniFAI | paulosergio@fai.com.br
 

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