Opinião

Editorial | UniFAI: Eu Escolho

Comunidade acadêmica e sociedade precisam estar presentes, colaborativas e vigilantes.

Por: Siga Mais
(Arquivo/UniFAI). (Arquivo/UniFAI).

“UniFAI: Eu Escolho”, é parte de um slogan publicitário da recente história da instituição pública municipal de ensino superior Centro Universitário de Adamantina, que vivencia atualmente processo de nomeação da nova reitoria para o mandato que se inicia dia 1º de julho, com vigência até 30 de junho de 2025.

Antes da abordagem sobre o contexto e desafios do atual processo eleitoral e da gestão do Centro Universitário, um primeiro aspecto a se destacar, reconhecer e valorizar é a disponibilidade daqueles que se apresentaram candidatos: professores doutores concursados do quadro permanente da instituição, com titulação acadêmica, currículo e aptidões que validam e sustentam as pretensões.

Essa disposição ao desafio deve ser reconhecida, sobretudo pela movimentação que se fez para além da zona de conforto, o que implica em entregas, renúncias, diálogos e ação. Os novos gestores têm pela frente um cenário único, jamais visto, e bastante desafiador: consolidar o curso de medicina, revigorar os demais cursos e recuperar alunos e receitas.

Por questões de sobrevivência financeira e institucional, esses desafios estratégicos e as demandas do cotidiano devem ser administrados e vencidos a curtíssimo prazo, e em meio ao ambiente pandêmico e pós pandêmico que reconfigurou as relações, as formas e os fluxos.

Em razão dessas demandas – que são únicas e nunca vistas em razão do momento pandêmico – quem irá gerir a UniFAI precisa reunir as habilidades que vão além das interações acadêmicas. É um desafio de gestão, dentro e fora dos seus espaços físicos.

A pandemia da Covid-19 estimulou as redefinições de relacionamento e interações e acelerou determinados processos nas organizações públicas e privadas, de qualquer setor. Um dos saldos é o fortalecimento dos ambientes digitais, o que atingiu as práticas educacionais em todos os níveis, o que não excluiu o ensino superior, muito menos a autarquia adamantinense.

As instituições educacionais mais tradicionais e conservadoras, estruturadas no ensino presencial, tiveram que se adequar às pressas ao novo momento e experimentar um formato de ensino que veio para ficar. Essa nova característica de aprendizagem no ambiente universitário não é momentânea e deve continuar nas grades em que seja possível essa migração, ou que permita acolher o formato à distância ou híbrido.

Em relação aos cursos da autarquia em que a grade exija aulas totalmente presenciais, atividades práticas em laboratório físicos, interações e outros meios que não podem ser substituídos ou adaptados pelo formato remoto, os desafios são gigantescos: precisam conquistar mais credibilidade, reocupar espaço na instituição e no mercado, consolidar a própria personalidade, se atualizarem e, sobretudo, ter conteúdo moderno e atualizado que preencha as expectativas dos alunos. O curso precisa ser competitivo face à dinâmica do mercado, onde a autarquia, em razão da sua personalidade jurídica pública, corre em desvantagem com as demais instituições e cursos do setor privado. Aqui fora a universidade privada é muito mais habilidosa, prática e ágil para abordar e captar alunos, o que na esfera pública é moroso e conservador.

Se a UniFAI não tiver atrativos, meios, e sobretudo conteúdos acadêmico e estrutural, há cursos que não sobreviverão. Os momentos que virão exigirão argumentos, coragem e atitudes da reitoria.

A interpretação dos membros do Conselho Universitário da UniFAI, sobre  cenário e desafios do ensino superior local foram expressos na votação que permitiu a configuração da lista tríplice, indicando os nomes daqueles que irão conduzir a autarquia adamantinense a partir de 1º de julho. A votação permitiu identificar a expectativa e vontade do colegiado acadêmico.

Por sua vez, ao receber a lista tríplice, o prefeito – que já foi diretor da mesma instituição de ensino e vivenciou os mesmos ritos no seu processo de eleição – decidiu não acolher a expectativa do Conselho Universitário, indicando a chapa que ficou em segundo lugar na votação, para gerir a UniFAI. Destaque-se: não há nada de ilegal na sua decisão, fato que é prerrogativa do chefe do poder executivo municipal, mantenedor da instituição de ensino. Porém, o ato de desconsiderar o colegiado soa estranho, incomum e atípico, conforme conta a história da instituição adamantinense.

Entre os pontos elencados pelo poder executivo municipal para justificar a decisão do prefeito, conforme nota à imprensa e também publicada no site oficial da Prefeitura, foram destacados como fundamentais o diálogo entre o prefeito e a reitoria e a relação de confiança entre ambos. É sabido que a chapa que obteve a maior votação no Conselho Universitário representa uma candidatura alternativa ao atual modelo, condimentada ainda por uma desavença entre o prefeito e seu ex-vice diretor quando da direção das Faculdades Adamantinenses Integradas, que agora se candidatou como vice-reitor para a chapa que liderou no Conselho Universitário. Na época, por divergências, o ex-vice diretor deixou a cadeira da FAI antes de concluir o mandato na autarquia.

Essa desavença pôs temperatura em uma recente entrevista do prefeito no rádio, onde mencionou que essa situação retardou etapas nas demandas ligadas ao reconhecimento do curso de medicina, já que com a saída do diretor (função exercida pelo vice-diretor em razão do afastamento de Márcio Cardim para participar das eleições municipais de 2016), foi feita uma nomeação “tampão” até que ocorresse a nomeação e posse do primeiro reitor, o que se deu em 1º de julho de 2017, e que encerra seu mandato em 30 de junho próximo.

Assim, desde a instalação do curso de medicina, em 2015, até agora, essa área vem exigindo atenção e aportes para a estruturação do seu ambiente de aprendizagem, dentro e fora das dependências dos campi, o que envolve corpo docente qualificado e efetivado no quadro, laboratórios, adequações na grade, convênios para estágios e internato, obras e investimentos, entre outros pontos decisivos e estratégicos para funcionamento do curso.

E ainda, outros pontos chamaram a atenção: o esvaziamento do próprio curso de medicina e outros cursos, a baixa relação candidato-vaga, evasão escolar, inadimplência e até mesmo problemas na estrutura e laboratórios foram apontados pelos alunos, muitas vezes com seguidos protestos como carreatas, passeadas e outras manifestações públicas nunca vistas na cidade.

Também, há em andamento um projeto de regionalização dos serviços de saúde, cujo desenho operacional feito pelo poder executivo adamantinense visa integrar e ampliar os serviços da saúde pública e rede credenciada, como por exemplo na Santa Casa local, onde a UniFAI tem realizado pesados investimentos com a contrapartida legal de utilização dos espaços e serviços do hospital para atividades práticas de estágio e internado dos estudantes.

Assim, é visível a presença da UniFAI como financiadora de grande parte desse novo arranjo estrutural na saúde pública. Sem o dinheiro da autarquia, muitas das intervenções em modernização dos espaços e equipamentos das redes pública e credenciada poderiam demorar mais para acontecer.  Em meio a toda pauta de investimentos, a UniFAI convive com o comportamento negativo das receitas e queda no ingresso de novos alunos, o que traz sinal de alerta e preocupação nas contas da autarquia.

A presença da instituição nesse projeto de regionalização dos serviços de saúde foi assinalada com destaque na mesma nota da Prefeitura de Adamantina, sobre a chapa escolhida pelo prefeito. Subjetivamente, a autarquia é colocada como garantidora financeira de um projeto que pode eventualmente carregar as condicionantes validadoras “ensino, pesquisa e extensão”, porém é imprescindível que a UniFAI não se afaste de sua finalidade institucional.

Qualquer direcionamento ou uso da instituição para viabilizar este ou aquele eventual plano político ou de poder devem ser rechaçados, combatidos e denunciados, com a preocupação central de preservar a autarquia como bem maior do povo adamantinense, e não deste ou daquele que tente se colocar acima dos valores e princípios fundamentais da coisa pública e do fazer educacional.

Em qualquer cenário, sob qualquer liderança, a reitoria responderá pelas conquistas e perdas. O plano de gestão proposto como condicionante à candidatura deve ser executado com a ousadia e responsabilidade que o tema merece, e com a cautela que o atual tempo exige. Ao prefeito, cabe também a responsabilização direta ou indireta pelos avanços e retrocessos.

O que cabe a cada cidadão, funcionário da UniFAI e estudantes da autarquia é monitorar as escolhas. A estrutura pública é regida por um amplo aparato legal, sob fiscalização e controle internos e externos. Todo cidadão, estudante, funcionário, e órgãos como Ministério Público, Tribunal de Contas e Câmara Municipal, têm o dever de acompanhar a execução do plano de gestão, contas públicas, contratos, compras e todos os passos da autarquia, em qualquer tempo, em especial nos tempos que virão.

Assim, enfim, comunidade acadêmica e sociedade precisam estar presentes, colaborativas e vigilantes.

À nova reitoria da UniFAI, sucesso na jornada que se abre logo mais, em 1º de julho, o primeiro dia de um ciclo decisivo para o futuro da instituição e da cidade de Adamantina.

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