Memória

Revolta da Vacina em pleno século XXI? Pode isso?

Uma análise dos movimentos contrários à vacinação no século XX e XXI.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Revolta da Vacina de 1904 (Reprodução). Revolta da Vacina de 1904 (Reprodução).

O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança”.

(Aristóteles)

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Nos últimos dias vimos a crescente onda de um movimento nada agradável, trata-se de um grupo que “opta” por “não vacinar” seus filhos. Muitos se baseiam em suas próprias convicções religiosas e outros justificam que a exposição das crianças a uma grande quantidade de vírus seria desnecessária e mesmo prejudicial. Mas, de onde vem tamanho absurdo?

Em 1982, o documentário DPT: Vaccine Roulette levantou uma suposta associação de algumas vacinas a danos cerebrais em algumas crianças. Anos mais tarde, o médico britânico Andrew Wakefield apresentou um estudo relacionando o autismo as crianças que haviam sido vacinadas. Mas, o que de fato é verdade nisso tudo? Bom, absolutamente nada! Wakefield foi aos poucos sendo desmascarado e teve sua licença cassada pelo Conselho Britânico de Medicina.

Infelizmente, teorias de conspiração e questões desta ordem, tomam proporções inimagináveis e doenças até então erradicadas estão acometendo novamente a população. Diversos casos já foram registrados em países europeus, americanos e também no Brasil.

Tudo isso, me recorda um outro movimento ocorrido no início do século XX, a Revolta da Vacina. Tratava-se de uma manifestação popular, ocorrida entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904, na cidade do Rio de Janeiro. O médico sanitarista Oswaldo Cruz, devido aos surtos de varíola, conseguiu convencer o Congresso a aprovar a “Lei da Vacinação Obrigatória”, que dava plenos poderes as brigadas sanitaristas, juntamente com forças policiais, de entrarem nas casas e vacinarem as pessoas à força.

É claro que todo esse processo levou a manifestações contrárias da população carioca, que reagiu criando a “Liga contra a Vacina Obrigatória”. Enfim, o saldo disso tudo incluiu pessoas mortas, feridas, a vacinação suspensa por um período e uma cidade em ruínas.

O fato é que nesta época, tais pessoas na maioria das vezes não chegavam a ter o conhecimento do motivo pelo qual estavam sendo vacinadas, aliado a truculência dos agentes e aos boatos que circulavam, ocasionaram toda essa bagunça. Mesmo assim, depois de muito custo, a varíola acabou sendo erradicada.

Enfim, nos dias atuais e quase 114 anos após a Revolta da Vacina, o conhecimento e a informação são acessíveis a todos, mas infelizmente o que predominam ainda são os boatos totalmente infundados de “supostas” teorias e pesquisas que não fazem o menor sentido em pleno século XXI, e que acabam colocando a minha e a sua família em risco.

Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.

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