Memória

Lendas brasileiras (III): a mula-sem-cabeça

A mula-sem-cabeça: origens e sua inserção na cultura popular brasileira.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Lendas brasileiras (III): a mula-sem-cabeça

 “Moça braba, mardosa e travessa / Vira mula sem cabeça... / Juazeiro era a cidade, / Onde tudo aconteceu / Uma velha muito rica, / Quis casar com um jovem padre... / O padre contrariado, / Resistiu à tentação / Mas a velha insistente, / Conduziu-o ao pecado...”
(Mula-sem-cabeça – Grupo Pererê)

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Dando prosseguimento aos textos do mês de agosto, nesta semana optamos em falar de um dos personagens mais emblemáticos do folclore brasileiro, a mula-sem-cabeça. Trata-se de como o nome já anuncia, de uma mula que ao invés de ter uma cabeça, possui uma tocha de fogo no lugar. Mas, de onde veio tal tradição?

Sua lenda, tem origem nos povos da Península Ibérica, sendo trazida para o Brasil por estes, que naturalmente vieram colonizar também outras regiões da América nos idos do séc. XVI. Dessa forma, existem muitas versões acerca desse ser.

Uma das versões diz que, uma moça ao se deitar com seu namorado antes do casamento, teria virado a tal mula. Em outra, namorado é substituído por um padre. Dessa forma, o que se percebe em relação a tal lenda, é o controle das relações amorosas das filhas, uma espécie de “padrão moral” para as décadas passadas, e que muitas mães faziam questão de repeti-la e neste caso especifico, de se resguardar o celibato dos sacerdotes.

Segundo a tradição, a tal mula sai em disparada pelos campos, e destrói tudo que entra no seu caminho. Depois de estar exausta ou de se ouvir três cantos do galo, ela voltaria ao normal. Uma das formas de quebrar o encantamento, seria feri-la ou até mesmo ser amaldiçoada pelo padre que fora o estopim do encanto. Ressaltamos que estas são apenas algumas, das diversas formas de encanto e desencanto da mula, cada qual traz as especificidades de onde e de como se conta a lenda.

Além do Brasil, outros países como México e Argentina também possuem lendas relativas à mula-sem-cabeça, cada qual com suas particularidades e traços culturais próprios. E em tempos de revalorização da cultura brasileira, aqui fica novamente a nossa deixa, para que lendas, histórias e personagens do nosso folclore sejam sempre lembrados e repassados às gerações vindouras.

Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.

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