Memória

Entre a religiosidade popular e os santos de fachada

Uma breve análise sobre a construção de oratórios nas fachadas das casas.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Entre a religiosidade popular e os santos de fachada

“Ó Deus salve o oratório / Ó Deus salve o oratório / Onde Deus fez a morada / Oiá, meu Deus, onde Deus fez a morada, oiá / Onde mora o calix bento / Onde mora o calix bento / E a hóstia consagrada / Óiá, meu Deus, e a hóstia consagrada, oiá. ”
Calix Bento

* * *

O sagrado sempre remonta algo que envolve a “proteção” e a “segurança”, independente da crença. Daí a ideia de se introduzir símbolos, monumentos, estátuas e inscrições nas portas, entradas de cidades, praças e nas próprias casas.

Em Adamantina, além do que fora acima citado e é claro, devido a sua população no início de sua formação ser de maioria cristã-católica, é comum presenciarmos pequenos oratórios nas fachadas das casas mais antigas. Tal costume chegou no Brasil por meio dos europeus e da religiosidade popular local. Mas, de onde vem tal tradição? Em breve relação com o tema, podemos elencar algumas “suposições”!

Era comum na idade média os senhores feudais possuírem igrejas dentro de seus domínios, os mais abastados adquiriam “relíquias” (nem sempre “verdadeiras”) de seus santos protetores, as quais ficavam sob seus cuidados. Porém, a população mais pobre, os servos, não tinham a mesma possibilidade de adquirirem tais objetos sagrados, quiçá construírem igrejas. Daí a necessidade de se construírem pequenas “casinhas” de madeira, onde depositavam seus objetos de devoção e proteção.

Ao longo do tempo, esta tradição se alastrou pela maioria dos países europeus católicos, e com as grandes navegações, esta acaba desembarcando no continente Americano. Em cidades interioranas, é bem comum presenciar em algumas casas esses pequenos retábulos, que por aqui se chamam oratórios, e normalmente ficam em locais de destaque das casas.

Alguns desses oratórios chegam a compor inúmeras coleções de arte sacra, e podem ser visitadas em inúmeros museus pelo Brasil, cada qual trazendo as suas características e especificidades dos séculos e localidades que foram produzidos.

Por aqui, esses oratórios além de serem encontrados em madeira, dentro das casas e em meio ao recôndito familiar, também são encontrados em meio a fachada e arquitetura de algumas das residências mais antigas, simbolizando como já mencionado, a devoção particular do morador e proteção almejada pelo mesmo.

Enfim, em tempos de estado laico, com Santos ou sem Santos, o que vale a pena destacar são as características particulares de uma das fatias da história de Adamantina, em especial de sua arquitetura. E como já mencionado outrora, aqui e acolá, questiono e indago: Por que não se retomar as discussões sobre a lei de tombamento?

Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.

Publicidade

P&G Telecomunicações
Cóz Jeans
Shiba Sushi Adamantina

Publicidade

Insta do Siga Mais