Memória

A torre da igreja: entre o galo e a cruz

A história do galo da torre da Igreja Matriz de Santo Antônio

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Foto: Milton Ura/No Click com o Senhor Foto: Milton Ura/No Click com o Senhor

“Uma das características da cultura é tornar normal o que não é”.
Leandro Karnal

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Nas diferentes religiões existentes, os símbolos possuem grande relevância para seus adeptos, o que é bem representativo para os cristãos. A cruz, é tida como o seu maior símbolo, e é bem comum a avistarmos nos altos das torres das igrejas.

Em Adamantina, ocorre algo bem atípico, ao invés de uma cruz no topo da igreja, há um galo. Ressalte-se que em algumas cidades mais antigas da Europa, e até mesmo aqui no Brasil, nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro, isso também ocorre.

Mas, qual a história por trás do galo de Adamantina? A Igreja Matriz de Santo Antônio, na década de 1960, já na fase de finalização de sua construção, tinha o Monsenhor Manuel Gonzáles como seu pároco, e este acabou encomendando a obra.

Dois artífices o criaram, os Srs. Elízio Corradi e Alcides Zanandréa. Segundo os relatos que ouvi, estes dois ficaram dias e dias produzindo o “bendito” galo. Este por sua vez, é constituído de folhas de cobre, tem um suporte giratório e um para-raios na sua crista, pesa cerca de 40 quilos e possui cerca de 4 metros de altura.

Mas, por que colocar um galo no topo da igreja? Em algumas tradições, o galo é responsável por afugentar os maus espíritos e as calamidades com seu canto, também foi adotado como símbolo nos cultos masdeístas, nos círculos secretos pitagóricos e posteriormente pelos romanos. Além disso, faz parte de lendas e milagres, como o “Galo de Barcelos”. Representa a virilidade, a bravura, a vida, a perseverança, entre outros.

Já para os cristãos, o galo é muito ligado às tradições natalinas, um exemplo é a própria missa do galo, mas também representa a vigilância e o arrependimento de Pedro, e é nesse sentido que tal símbolo foi colocado no topo da Igreja Matriz de Santo Antônio em Adamantina. Segundo o Monsenhor Manuel Gonzáles, este representaria “o despertar para fé”.

O galo com o passar do tempo, acabou sofrendo com os processos erosivos e acabou sendo revitalizado a alguns anos atrás. Pelo que me recordo, foi a única vez que ele foi retirado da torre. E o mais curioso de tudo isso, foram os inúmeros moradores que vinham ver de perto o galo que só viam de longe.

Por mais curioso, ou estranho que possa parecer, este acaba por refletir apenas mais um traço marcante da história e cultura adamantinense. Aos munícipes, católicos ou não, cabe o justo deslumbre por tão bela obra, produzida a mais de meio século sem a tecnologia que dispomos atualmente.

Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.

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