Um incêndio atingiu as instalações abandonadas do antigo curtume Couroada, em Adamantina, neste domingo (5). No começo da tarde equipes do Corpo de Bombeiros estavam pelo local, com apoio de caminhão-pipa da Prefeitura de Adamantina, para tentar conter as chamas.

O fogo atingiu a área de galpões da planta industrial, onde antigamente o couro era processado nos chamados fulões (grandes cilindros horizontais fechados, de madeira). No início da tarde os bombeiros trabalhavam concentrados nesse ponto, para tentar conter as chamas.

(Foto: Siga Mais).(Foto: Siga Mais).

O fogo também atingiu a área de vegetação, ao entorno, bastante seca em razão da estiagem, e avançou para outros espaços do curtume, formando uma grande coluna de fumaça, densa e escura, e com forte odor.

(Foto: Siga Mais).(Foto: Siga Mais).

Ainda em relação à vegetação, um proprietário rural vizinho ao curtume, aos fundos, mobilizou dois tratores com arado e promoveu um aceiro, em sua divisa, para tentar evitar que o fogo da vegetação avançasse em sua área de pastagem.

Veja a sequência de quatro vídeos publicados pelo SIGA MAIS, no momento do incêndio, no início da tarde deste domingo:

Produtos químicos e resíduos industriais

Outra preocupação quanto o local do incêndio, no antigo curtume, é a existência de produtos químicos e resíduos industriais, abandonados nas instalações da empresa, desde seu fechamento o que poderia desencadear em riscos adicionais ao trabalho de combate às chamas, em razão da emissão de fumaças tóxicas. Entre os materiais, o cromo, por exemplo, resultante do processamento de couros.

(Foto: Siga Mais).(Foto: Siga Mais).(Foto: Siga Mais).(Foto: Siga Mais).

Diante desse risco adicional, agentes do Corpo de Bombeiros trabalhavam pelo local protegidos com máscaras com abastecimento de oxigênio por cilindros costais.

A existência de materiais químicos e resíduos industriais abandonados no local foi denunciada pelo Ministério Público da Comarca de Adamantina, conforme Ação Civil Pública n° 1002065-67.2021.8.26.0081, que o órgão fiscalizador ingressou junto ao Poder Judiciário local no mês passado (veja mais).

Fogo no dia anterior

Moradores de propriedades rurais próximas dali disseram que no dia anterior já havia focos de incêndio nas proximidades, que consumiram a vegetação no entorno, como também do outro lado da estrada vicinal que passa em frente ao curtume.

Publicidade

Publicidade

Indústria processava 10 mil coros por dia em Adamantina

A Couroada iniciou suas atividades na cidade em 2002 e sobreviveu por cerca de uma década, fechando suas portas em 2013. Desde então, trabalhadores que foram desligados estão até hoje sem receber os direitos trabalhistas assegurados pela CLT, como férias, décimo terceiro, cesta básica, horas extras, Fundo de Garantia (FGTS) e salários (reveja).

Há funcionários que ainda não conseguiram dar baixa na Carteira de Trabalho, e outros que morreram sem receber o que tinham direito.

O caminho para os trabalhadores foi a judicialização, cuja solução dos casos ainda é incerta e imprevisível. Sem uma informação objetiva, os trabalhadores se sentem no escuro, em meio a um labirinto ainda sem saída, que permita as indenizações a que têm direito.

(Foto: Cedida/Fevereiro de 2020).(Foto: Cedida/Fevereiro de 2020).(Foto: Cedida/Fevereiro de 2020).

Uma das garantias para o recebimento dos direitos trabalhistas é o patrimônio das antigas instalações e propriedades dos antigos donos. A deterioração das instalações da antiga indústria em razão do abandono, saques, furtos e agora o incêndio, traz mais insegurança e incertezas aos ex-trabalhadores, que veem nesses bens a garantia para terem as indenizações trabalhistas, em algum momento, pagas.

A empresa foi grande produtora de couro e chegava a operar com mais de 500 funcionários, 24 horas por dia, sete dias por semana. A produção alcançava o processamento de 10 mil couros ao dia, vindos de diversas regiões do Estado de São Paulo.

Fogo na Couroada em Londrina, em 2018

Em julho de 2018 um incêndio também atingiu a unidade da Couroada, em Londrina (PR). Na ocasião, o fogo tomou parte das peças de couro organizadas em paletes, em uma área do pátio da empresa, que no momento encontrava-se inativada (reveja).

A empresa Couroada se instalou em Londrina em 2007 mas faliu em 2015, deixando uma dívida de cerca de 300 milhões de reais, incluindo indenizações aos ex-funcionários.