Cidades

Usina de Adamantina chegou a processar lixo da região, hoje é subutilizada

Lugar faz triagem do lixo coletado às quintas-feiras e convive com falta de investimentos.

Por: Acácio Rocha atualizado: 6 de novembro de 2015 | 08h25
Funcionários da Usina realizam triagem do lixo que é transportado por esteira (Foto: Acácio Rocha). Funcionários da Usina realizam triagem do lixo que é transportado por esteira (Foto: Acácio Rocha).

Instalada em 1989, antes mesmo da pauta ambiental ganhar espaço e visibilidade com a realização da ECO-92, Adamantina já contava com sua Usina de Triagem de Materiais Recicláveis e Compostagem em funcionamento. Tanto é que a experiência local foi exposta na própria Conferência, realizada naquele ano, no Rio de Janeiro.
Segundo reportagem publicada na época pelo Jornal Verde, editado nos anos 90 pelo Banco Mercantil do Estado de São Paulo, assinada pelo hoje jornalista Acácio Rocha, a usina chegou a ter um quadro de 32 trabalhadores, com capacidade de processamento de 50 a 60 toneladas/dia. E processava, inclusive, resíduos de outras cidades, como de Junqueirópolis, que eram trazidos a Adamantina.
Hoje, passados 26 anos desde seu início de operação, a Usina convive com o sucateamento e poucos investimentos. É uma estrutura com grande potencial e de importante valor socioambiental, porém sobrevive precariamente, com subutilização do seu potencial.
O poder público reconhece as limitações estruturais e informa que tem buscado recursos financeiros junto aos governos estadual e federal para a execução de melhorias, mas sem sucesso.
De acordo com fontes da Prefeitura de Adamantina, a Usina necessita de reparos estruturais imprescindíveis ao seu correto e pleno funcionamento, pois não recebe investimentos há muitos anos.
Mesmo com as dificuldades, a Prefeitura de Adamantina declara que a Usina estaria cumprindo o seu papel. Segundo informado, é feita a triagem de 100% do material coletado às quintas feiras, durante a coleta de lixo reciclável realizado em Adamantina. Porém os resíduos coletados nos outros cinco dias da semana (segunda, terça, quarta, sexta e sábado) são depositados diretamente no aterro sanitário, em valas, quando também poderiam sofrer alguma triagem, com ocorria em anos passados, permitindo um maior aproveitamento comercial do volume de resíduos, e a redução do montante depositado no aterro.

O lugar

A estrutura da Usina de Lixo de Adamantina foi visitada pelo SIGA MAIS na última semana de outubro. Na conversa com funcionários e na observação do local, foi possível identificar uma série de problemas organizacionais e estruturais.
No que se refere à estrutura, percebe-se o sucateamento das máquinas e equipamentos, o que também foi relatado pelos trabalhadores, exigindo frequente manutenção e reparos, que geralmente são pontuais e específicos, para resolver o problema momentâneo. Também foram vistas peças que antigamente compuseram a estrutura de engrenagens da Usina.
No que se refere aos aspectos organizacionais, a reportagem deparou com parte da área verde tomada por mato, pátio operacional sujo e grande volume de rejeitos já submetidos a triagem, aguardando remoção ao aterro, o que contrasta com imagens aéreas produzidas em setembro de 2011.
Porém, destaca-se o esforço dos trabalhadores da Usina, que se arriscam em meio a um universo insalubre e de alto risco.

Lixo misturado

A oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental Isabel Cristina Gonçalves é adamantinense e atualmente trabalha como pesquisadora em seu pós-doutoramento pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Em 2000 defendeu sua dissertação de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande tendo como tema a Usina de Reciclagem e Compostagem de Adamantina.
Segundo Isabel, no período da sua pesquisa sobre a Usina, há mais de 15 anos, já identificou uma série de limitações estruturais graves, o que se acentuou com o passar dos anos, sobretudo sem os investimentos que são imprescindíveis ao local.
Isabel explica que o lixo recebido pela Usina de Adamantina é despejado em algo semelhante a um funil, que se liga a uma esteira rolante que passa pelos catadores, e estes abrem os sacos de lixo oriundos das residências e espalham o conteúdo na esteira.
Mesmo com as ações de estímulo e conscientização à coleta seletiva realizada pelo poder público, a pesquisadora adverte que o lixo que chega até os catadores vem todo misturado, já da coleta, composto por resíduo, composto orgânico e material reciclável, cabendo aos catadores fazer a triagem manual enquanto a esteira se move. Mesmo num dia exclusivamente destinado à coleta seletiva – quinta-feira – a triagem ainda resulta em um grande volume de rejeito orgânico e outros materiais de baixo aproveitamento, que depois são transportados e aterrados.

Reaproveitamento

Mesmo com essa limitação operacional, decorrente da insuficiência da estrutura física e humana do local, a Usina consegue reaproveitar uma parcela dos materiais recicláveis descartados diariamente pelos adamantinenses. O volume de reaproveitamento poderia ser maior se houvesse a correta separação na origem, ou seja, nas residências e empresas, e que o poder público, por sua vez, desse também a correta destinação.
Entre os materiais recicláveis vendidos periodicamente pela Usina estão os diversos tipos de plásticos, papéis, papelão, vidros, alumínio e metais, que são retirados no próprio local por empresas que atuam diretamente com reciclagem ou comercializam esses materiais para outras empresas que irão processar e reaproveita-los.

Novos investimentos

Essa dinâmica da coleta seletiva tende a ser ampliada coma melhor estruturação operacional. Um recente projeto de lei de autoria da Prefeitura Municipal, aprovado pelos vereadores, prevê a utilização de R$ 713.138,20, por meio de convênio com o Governo Federal, para construção de barracão de coleta seletiva de lixo na Usina de Reciclagem.
Além do espaço físico e equipamentos, a proposta prevê um projeto técnico-social para a inserção de catadores no sistema de cooperativismo, paralelo a um conjunto de ações de conscientização da população.

Veja também | Os caminhos do lixo: como Adamantina trata a coleta dos resíduos sólidos
 

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