Da carta social à rede social
Uma breve análise do encurtamento das distâncias ao longo do tempo.
“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.”
Maria Julia Paes de Silva
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Dias atrás, em uma de minhas aulas um aluno surgiu com um termo que até então eu não conhecia, um tal de “stalkear”. Fui procurar posteriormente e vi que se referia ao ato de vasculhar os perfis e contas de outras pessoas nas redes sociais.
Isso me fez pensar em quantas palavras acabaram surgindo com a invasão das redes sociais nos últimos anos: “like”, “twittar”, “follow”, “unfollow”, “selfie”, entre outras. E o interessante é que muitas delas acabaram sendo incorporadas ao nosso cotidiano e até mesmo “aportuguesadas”.
Os mais velhos (ou melhor, os nascidos antes dos anos 2000) é claro que se lembrarão dos primórdios da era da navegação, quando esperávamos até a meia-noite para iniciarmos a conexão, que era discada ainda. Era comum o uso dos bate-papos nos diversos portais, do ICQ, do MSN e do Orkut (e de sua mini fazenda), vivenciamos uma época onde o “Windows só possuíam mato!”.
Com o passar do tempo, novas redes foram surgindo: O Facebook, o Youtube, o Twitter, o Instagran, o Google+, o Skype, o Snapchat e é claro que não podia faltar o Whatsapp. Enfim acabei citando as mais utilizadas, mas tantas outras existem e com as mais diversas finalidades.
Mas, e a primeira rede social? A carta? Acredito que a pergunta deva ser outra: Alguém ainda escreve carta? Bom, pelo menos as que recebo cotidianamente são apenas de empresas de telefonia, cartão de crédito e folders de propagandas diversas.
Com tamanho avanço das redes e a velocidade que são transmitidas as mensagens, o simples ato de se escrever uma carta acabou caindo em desuso. É claro que você vai encontrar um ou outro que ainda o faz, mas é difícil. E não é muito raro encontrar outros que nem sabem como iniciar uma, pois nunca o fizeram.
Me recordo que na infância escrevia para diversos lugares, como qualquer criança da época eu mandava cartas para ganhar álbuns de figurinhas, para promoções de diversos lugares, para o Papai Noel e programas de TV e até mesmo para embaixadas de diversos países.
O problema era o dinheiro para enviar tanta carta. Por sorte, os Correios possuem um programa chamado “carta social”, onde você adquire o selo por um valor simbólico de 1 centavo e envia sua correspondência (e é claro que eu o utilizava com frequência).
Enfim, o fato é que ao longo do tempo as distâncias se “encurtaram” e o velho hábito de se escrever uma singela carta foi deixado para trás, restando apenas a ideia de que um dia estas foram o que as redes sociais são hoje.
Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.