Opinião

Tentáculos odebrechtianos na Brasília de todos os cantos

A relação entre Brasília e Adamantina diante da divulgação das delações pelos executivos da Odebrecht, e a negociata de favores, benefícios, vantagens e poder, com moeda pública.

Por: Acacio Rocha | Jornalista | Vereador em Adamantina
Tentáculos odebrechtianos na Brasília de todos os cantos

Os brasileiros se depararam, na última semana, com a divulgação do conteúdo da delação premiada dos executivos da Odebrecht. Foram revelados 179 políticos como destinatários de supostos pagamentos via caixa 2 entre 2008 e 2014, ano em que tiveram início as investigações da Operação Lava Jato. Já a área criada dentro da empreiteira para fazer o pagamento de propinas movimentou mais de R$ 10,6 bilhões entre os anos de 2006 e 2014.

Os números são astronômicos e fica até difícil assimilar o que poderia ser feito com todo esse dinheiro, desviado dos cofres públicos para financiar interesses de políticos e do dono da Odebrecht. E esta –  destaco – é apenas uma fatia da corrupção que movimenta o país, administrada por esta empresa e financiada pelas obras públicas tocadas pela companhia.

Tantas outras, e tantos outros caminhos, também fazem o mesmo papel: negociam favores, benefícios, vantagens e poder, com moeda pública. E todo o montante financeiro de recursos públicos que falta neste país para investimentos em estradas, hospitais, escolas, casas populares, e outras áreas, serviu para alimentar esse esquema criminoso.

Acompanhando o noticiário, chega a assustar a naturalidade com que relatam e delatam a distribuição de propina. Não há qualquer constrangimento diante da autoridade que os interroga, muito menos diante da sociedade brasileira.

Isso torna possível confirmar o que historicamente se vivencia neste país. A corrupção enraizada exige, como rotina, a elaboração de planilhas de obras que considerem esses arranjos, com vista a garantir o favorecimento ilegal de políticos e servidores públicos.  Isso explica o alto custo – desproporcional – das obras públicas, em comparação à uma obra privada do mesmo porte.

É desproporcionar também, quando se compara uma obra pública brasileira como outra semelhante, realizada no exterior, a exemplo dos estádios para a Copa do Mundo as praças esportivas para os Jogos Olímpicos. Tudo aqui é mais caro. E os fatores determinantes para isso, agora se confirmam.

A corrupção é histórica, no Brasil, e está presente na vida pública desde os primórdios da sua colonização, sobreviveu no Império e na República, e ganhou ainda mais fôlego com o endosso lulista do governo do PT, diante de um explícito plano de poder, a qualquer custo, o que foi compactuado com os partidos aliados, a fim de garantir a partilha, o pacto e o silêncio. A evidência petista e de partidos aliados não excluiu outras siglas, que em algum momento, se oportunizaram dos mesmos meios, para as mesmas vantagens.

Como dito acima, a corrupção republicana ganhou volume, robustez e logística tecnológica. A maior construtora do Brasil criou um departamento exclusivo para tratar, com naturalidade, das garantias políticas dadas as políticos, mediante propina. O tema era pauta executiva, com departamento estruturado e executivos com sinal verde para gerir o esquema.

Do outro lado do balcão, políticos esfomeados barganhavam em tudo, lucrando com obras, com votos em plenário, na elaboração e votação de medidas provisórias, na liberação de empréstimos públicos, entre outros meios. O esquema alimentou o caprichos pessoais de um presidente, que sempre sentou-se com o empresariado e faturou com os movimentos sindicais, usando as pessoas como massa de manobra, tendo a esquerda em um bolso e a direita no outro.

O Brasil se viu refém de uma corrente ideológica que imprimiu sua marca de governo. São reconhecidos determinados avanços, mas agora são revelados os custos disso tudo. Para a manutenção de uma série de programas, e por meio deles artificializar uma legitimação que os asseguraria no poder, o País quebrou, seja pelo tamanho ou pela usurpação do Estado. Hoje, é apresentado o tamanho da ferida financeira e social.

Mas o contexto do texto, até então, é introdutório para a questão local. Essa é tão importante quanto o que se vê, volumétrico, no Brasil. Por aqui, não foi diferente, pois Adamantina vivenciou um drama recente na história politica local. Respeitadas as proporções, o saldo é de um prejuízo gigantesco aos adamantinenses.

Vários pretextos se fizeram presentes, no cenário local, ao longo dos últimos quatro anos, com conotações de interesse privado sobrepondo ao interesse público, ajustes para pagamento de saldos de campanha, entre outros. Tudo leva a supor que fatores tão comuns na Brasília distante, estão tão presentes e enraizados aqui também.

Adamantina viu a FATEC deixar de ser instalada na cidade por conta de um capricho político e uma coleção de argumentos desencontrados. O anúncio feito em 2011, que confirmou a FATEC para a cidade, não avançou. Agora, sim, algo começa a ser sinalizado, para instalá-la em nossa cidade. A questão do prédio próprio cujo investimento poderia chegar a R$ 20 milhões pelo Governo do Estado, fica pra depois. Hoje, mais importante que construir, é instalar a nova Faculdade.

Além da FATEC, temos a coleção desastrosa de episódios suspeitos protagonizados pela administração que esquentou as cadeiras nos últimos quatro anos: problemas com a gestão de recursos públicos na realização da ExpoVerde, favorecendo colaboradores da campanha; a investigação sobre o Portal da Educação que custou R$ 1 milhão; o desvio do cheque de R$ 276 mil originalmente destinado para pagamento de precatórios e que foi usado para pagar despesas diversas; e a incapacidade de decidir, por exemplo, sobre o terreno para a construção de uma creche-escola, autorizada desde 2013.

Alguns episódios, como ExpoVerde,  o R$ 1 milhão para o Portal da Educação e o caso do cheque de R$ 276 mil são alvo de apuração realizada pelo Ministério Público e Poder Judiciário, que historicamente se colocam como instituições guardiãs das leis, investigando, identificando e punindo os responsáveis.

Soma-se a isso a troca de favores, o pacote de doce, a caixa de “teta-de-nega”, o cinquentão, entre outras moedas, usadas aqui também, para alimentar quem está no poder ou quer ser parte dele. Por aqui, um sagaz político de carreira, expert nessas barganhas, categorizou cada tipo de presente, de acordo com o perfil do presenteado:  para um era uma caixa de doce, para outro uma nota de R$ 50, uma peça de mussarela ou um jogo de facas.

Na Brasília do Planalto Central, relógios caríssimos de R$ 50 mil, eram dados de presentes políticos. Por aqui, na Brasília de todos os cantos, com pouco se compra um voto. E legitima, nesse eleitor, a obrigação do silêncio, como contrapartida ao voto antecipadamente pago.

Todo esse cenário, dentro e fora de Brasília, dentro e fora de Adamantina, deve indignar, estimular o questionamento, e fazer o cidadão aprimorar a decisão pelo voto e o acompanhamento da atividade política. Acompanhá-los pelas redes sociais, pela imprensa, comparecendo às sessões da Câmara Municipal, por exemplo, são iniciativas que ajudam a construir uma nova postura, de maior vigilância social, acerca daqueles que (des)governam, aqui e lá.

O aprimoramento na percepção sobre a atividade política deve ser buscado continuamente pelo cidadão, sempre na garantia dos seus direitos, por uma sociedade mais igualitária e legítima.  O olhar atento, para esses recentes acontecimentos, permite conhecer e interpretar os ambientes de poder e, neles, identificar o papel de cada um, com liberdade e independência de opinião, com vistas a estimular o denuncismo, a roubalheira e a hipocrisia em que muitos ainda tentam se ancorar pela sobrevivência no poder e do poder.

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