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Adamantina não suportará mais um desastre administrativo

Convivemos em Adamantina com a falência da gestão dos sistemas públicos. As eleições e tempo de escolha e decisão de aproximam, e serão determinantes para o futuro da cidade.

Por: Isabel Gonçalves | bel_oceano@hotmail.com
Adamantina não suportará mais um desastre administrativo

(Com)Vivemos em nosso país, em todas as esferas – municipal, estadual e federal - uma mistura aterradora: corrupção potencializada pela incompetência administrativa e distribuição de cargos - não para quem de competência, mas para apadrinhados (cargos de decisão ocupados por ineptos e incapazes).

Na escala de prioridades de administrações públicas: primeiro vem quem os coloca lá, ou seja, quem paga a campanha; segunda prioridade, os cargos loteados para alimentar as coligações, muitas delas, espúrias; terceira prioridade, os cargos para os militantes profissionais que de forma quase visceral e violenta são os responsáveis pela força da campanha. Tudo isso “alimentado” pela sangria descarada dos cofres públicos, má fé e incompetência administrativa; e por último, na escala de prioridades, vem a população e suas necessidades básicas: saneamento básico, saúde, segurança, educação, transporte, entre outros. Por estas e por outras que não há dinheiro para investimentos, pois nesta escala de prioridades ele é sugado ao longo do seu sujo percurso, ou desperdiçado nas mãos de incompetentes, infelizmente, não há muita coisa boa vindo de nossos governantes.

O problema está encravado nas entranhas de municípios, estados e federação. Alimentado por políticos corruptos e/ou incompetentes e políticas tacanhas. O cerne da questão nunca é atacado. A sociedade está refém de vontades politiqueiras, populistas e corruptas, engendradas não mais nos porões da corrupção, mas hoje em dia, às claras, para quem quiser ver, nem mais disfarçar se dão ao trabalho, imersos na podridão do toma lá-da-cá público e privado.

No caso dos municípios, mais próximos a nós, sabemos que as prefeituras estão em quase estado de penúria, muito devido ao estrangulamento promovido pelo governo federal e estadual, e para piorar o cenário, no caso de Adamantina e região – por exemplo -, há nenhuma, ou pouquíssima força política.

Por outro lado, no que tange a gestão, infelizmente nossos políticos se acostumaram a governar com o que tem, não estão “habituados” – não possuem habilidades e competência para isso - a buscar novos recursos e investimentos, condenando a cidade e viver com/de migalhas. Outro grande problema - devido ao clientelismo, fisiologismo, conluios e apadrinhamento - é que sujeitos despreparadas assumem secretarias, além de uma máquina extremamente inchada. Há um sucateamento estrutural e, também, humano, este quadro é extremante grave e precisa ser revertido.

Pois é meus caros, um povo que elege corruptos e incompetentes não é vitima, é cúmplice! Enquanto não mudarmos esta apatia arraigada em todos nós, não haverá voto que seja capaz de promover uma efetiva mudança ética e gestora.

Adamantina nos últimos 20 anos, foi administrada por 3 prefeitos, um deles  depois de 8 anos no poder está inelegível, um o outro foi cassado pela Justiça e também, pelo legislativo. Apenas um prefeito, em 20 anos, cumpriu o mandato sem máculas em seu currículo, ou seja, mantêm sua elegibilidade. Em 20 anos, apenas um prefeito! Será que o fato de Adamantina parar no tempo, ou pior, regredir, não está diretamente ligado a este triste cenário? Mas o agravante, que em minha opinião é o mais relevante, é: que tipo de gestão desenvolveu estes agentes públicos na cidade?

Convivemos em Adamantina com a falência da gestão dos sistemas públicos. A premissa básica para compor um secretariado deveria ser técnica, nada além disso, mas assumem estas pastas sujeitos sem habilidades e competências para o cargo, o que leva a prefeitura a fazer contratos com empresas especializadas para resolver “problemas”, ou gerenciar sistemas que deveriam ser de competência da prefeitura, gerando mais gastos.

Entra ano e sai ano, dependendo do grupo que assume o poder, empresas serão beneficiadas com contratos – isso é normal e usual – em muitos casos muito bem vido -, mas deveria ser apenas e tão somente para cobrir deficiências e lacunas, não regra – mas se torna usual quando o funcionário de carreira é desprestigiado em detrimento a estes contratos. A inteligência que poderia ser montada na prefeitura se desfaz, funcionários desvalorizados passaram a ser meros executores de atividade corriqueiras e não colaboradores da gestão.

Assim, a cada novo ano, um novo grupo toma o poder, desfaz o que o outro fez e com os seus passa a governar. Seria muito mais barato e produtivo para a cidade se os funcionários concursados fossem valorizados, recebessem treinamento especializado e, que constantemente se atualizassem em cursos de formação – incluindo professores - que formassem um grupo de inteligência. A prefeitura deveria investir nestes funcionários de carreira, promover cursos de aperfeiçoamento dos grupos, que assim, desenvolveriam habilidades e competências para resolver os problemas da cidade e, em conjunto com os secretários e diretores, criassem novos projetos e planejassem a Adamantina em médio e longo prazo.

Dessa forma, mesmo que um grupo diferente assuma o poder, sempre haverá um corpo de funcionários competente para executar as funções, sem a necessidade de contratos milionários com “outros”, afinal, os funcionários da prefeitura concursados permanecerão no cargo por décadas enquanto um mandato de um prefeito e de seu grupo é de quatro anos. Isso é política pública, meus caros. Por este motivo, a prefeitura deveria investir na capacitação e qualificação de seu quadro de funcionários concursados.

Mas, infelizmente, pelo que temos acompanhando até o momento, este não é um pré-requisito básico na contratação de profissionais que ocuparão estes cargos de confiança comissionados, muito pelo contrário, infelizmente, a prefeitura passa a ter um quadro inchado por grupos ligados ao prefeito da vez que não fazem jus a seus salários.

Ao fim e ao cabo, os municípios são a base de sustentação de deputados – federal e estadual - e dos governadores, se realmente queremos mudar o estado de “coisas” de nosso país, é imperativo começarmos por nossa cidade.

Cabe ressaltar, que o próximo corpo gestor, que administrará a cidade, receberá excelentes salários, logo, no mínimo, para assumir as funções administrativas, deveria ser exigido que os novos agentes públicos tenham habilidades e competências para executar as demandas desta pasta e gerenciar o grupo de funcionário.

Os cargos comissionados, ligados às secretarias, deveriam ser ocupados, também, por especialistas da área, para, dessa forma, com um grupo qualificado, buscar resolver os problemas gerencias de Adamantina e criar novos projetos estruturais e estruturantes.

Ouvi, atentamente, o debate entre os candidatos a prefeito de Adamantina, e posso classifica-lo, sem sombras de dúvida, como fraco. Não sei se o formato do debate engessou a resposta dos dois candidatos - 2 minutos para respostas -, mas mesmo neste curto espaço de tempo, entre réplicas e tréplicas, seria possível informar a sociedade com mais profundidade. Mas isso poderá ser corrigido em novos debates e em boletins informativos voltados para informar a população.

Gostaria de ter ouvido mais sobre as propostas e estratégias de ação dos candidatos: o que farão, como farão e de onde virarão os recurso. Gostaria de saber, também, quais serão as equipes que formarão o novo governo, o currículo dos novos secretários.

De onde virão os recursos que financiarão a Administração pública: Do comércio? Da Agricultura? De indústrias? Da Usina? Da confecção? Qual a proporção arrecadada em cada setor da economia da cidade? Qual o plano de atrair novos investimentos?

Quais serão os projetos alternativos e inovadores? Quem serão os responsáveis por planeja-los e buscar recursos? Espero que os candidatos a prefeito, ao pleitear o cargo, ao menos tenham se debruçado para estudar as potencialidades e problemas da cidade.

Outro ponto de extrema relevância: quem são e o que - nestes últimos anos - realizaram os vereadores eleitos? Quais os projetos aprovados e propostas? Quais as propostas e currículo dos novos candidatos a vereadores? E quando exalto o currículo, não me refiro a diplomas, mas sim, realizações, ações, ideias, habilidades e competências para assumir este cargo.

Meus amigos, ninguém será voluntário, todos serão muito bem remunerados e precisamos, sim, nos comportar com extrema crítica, pois elegeremos os responsáveis pela gestão dos sistemas públicos dessa cidade para os próximos 4 anos, e isso não é pouco!

Precisamos compreender os meandros do “poder” e seus agentes, refletir e problematizar as “motivações” políticas de cada candidato, conhecer intimamente as propostas dos candidatos e cobrá-los, pois Adamantina não suportará mais um desastre administrativo!

Isabel Cristina Gonçalves | Oceanóloga, Mestre e Doutora em Educação Ambiental. Pós-doutorado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: "Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação - REDELITORAL NORTE SP" & KAOSA ONG.

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