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João Passarinho: o colecionador de histórias

Passarinho abre seu baú de histórias e conta tudo desde que chegou à cidade, em 1949.

Por: Da Redação atualizado: 1 de fevereiro de 2016 | 19h22
João Passarinho conta seus causos e histórias, para grupo de estudantes, na praça, centro de Adamantina (Foto: Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Adamantina). João Passarinho conta seus causos e histórias, para grupo de estudantes, na praça, centro de Adamantina (Foto: Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Adamantina).

O funcionário público João Passarinho (70) é unanimidade na opinião de quem o conhece. Homem simples, apaixonado pela família, pela vida, pela religião, pelo trabalho e por fazer sorrir.
Para cada palavra, tem uma história, geralmente com marcas de humor ou ensinamentos. Essa é sua dinâmica diária, que inspira e motiva quem está à sua volta.
É casado, pai de dois filhos e celebra a infância da primeira neta. Trabalha hoje na Biblioteca Pública Municipal “Cônego João Baptista de Aquino”.
Passarinho foi procurado pelo SIGA MAIS para contar sua história. Recebeu as perguntas e devolveu as respostas escritas à mão, na frente e verso de 7 folhas de caderno, onde traz, no relato, sua história de vida.

 

 

Passarinho chegou a Adamantina em 1949, no primeiro trem que fez parada na cidade

João Passarinho está em Adamantina desde 1949. Seu pai era ferroviário e foi transferido, vindo de Herculândia. “Meus pais alimentavam a esperança de uma cidade que cresceria muito, impulsionada pela chegada da linha férrea”, diz.
Ele e a família chegaram a Adamantina no primeiro trem que fez parada na cidade, e que é objeto de uma foto histórica. “Adamantina estava em festa com a chegada do trem e todos estavam ansiosos com tão célebre acontecimento. No entanto, desconhecíamos tudo isso”.

 

O esperado primeiro trem parou na plataforma da estação ferroviária local, trazendo um vagão de carga denominado “tatuzinho”, e nele, os pertences da sua família, como os poucos móveis, roupas, utensílios e animais domésticos. “Para nossa surpresa aquela multidão festejava a chegada do trem. Desembarcamos e corremos até o vagão de carga para ficar com os animais, assustados com a queima de fogos”, lembra. “Foi uma verdadeira aventura. Os animais se debateram e alguns fugiram dali mesmo”, recorda.

Dificuldades, superação e esperança

João Passarinho, os quatro irmãos e seus pais foram morar em uma casa, na antiga colônia designada aos ferroviários, com 36 casas, depois chamada de colônia da Fepasa. “A nossa casa era a de número 18”, diz. Próximo de sua casa, na área onde hoje é a Praça Euclydes Romanini (praça dos patos), o pai de Passarinho cultivou feijão, mandioca, milho, quiabo, melancia e batata-doce, para consumo da própria família. “Todos os filhos participaram do plantio e da colheita”, lembra. A família tinha ainda criação de porcos e cabras.
Estabelecidos assim na nova casa, o irmão mais velho de João Passarinho conseguiu emprego no Cine Adamantina, localizado na atual rua Deputado Salles Filho. Outro irmão trabalhava como engraxate, percorrendo as ruas da cidade. Duas irmãs foram trabalhar como domésticas, quando traziam as sobras das refeições dos patrões para casa. “As próprias patroas diziam: faz sempre mais pra sobrar e levar aos seus irmãos”, relata. “A chegada das minhas irmãs, à noite, era de grande alegria”, completa. Mais tarde, as irmãs passaram a trabalhar como catadeiras de café e amendoim, nas máquinas de beneficiamento.
Passarinho cita que foi um período de dificuldades, porém, de superação e esperança, sobretudo pela forte motivação de sua mãe. “Dificuldades haviam, mas também tínhamos esperança de dias melhores. E esta certeza era afirmada quase que diariamente pela minha mãe, que sempre foi otimista e transmitia isso a nós”, relata.

Começou a trabalhar aos 13 anos

O primeiro emprego de João Passarinho no comércio ocorreu quando tinha 13 anos, na filial do antigo Grande Hotel, localizado na alameda Navarro de Andrade, proximidades da igreja matriz. Ficou por alguns meses nesse emprego, passando a trabalhar depois na torrefação e moagem do Café Bongiorno, de José Civente Filho (Zeca Vicente), permanecendo ali por 7 anos, como caixa, torrador de café e empacotador. Além das vendas na cidade, vendia café em Lucélia, Flórida Paulista, Pacaembu, Quebra-Côco, Alto-Iris e Irapuru.
Deixou a torrefação e foi trabalhar em uma fábrica de móveis, ficando pouco tempo, ingressando em seguida como terceirizado no IBC (Instituto Brasileiro do Café), como ajudante geral. Porém, obteve destaque e foi percebido, passando a apreender as tarefas do escritório, e assumindo esse novo ofício. Ficou no IBC por mais 7 anos, quando se desligou e passou a trabalhar na Cooperativa Camda, como auxiliar de escritório, quando então foi convidado a trabalhar no Sakai, como controlador de estoque. Após um período lhe ofereceram a gerência de uma filial, onde permaneceu por 4 anos, solicitando depois sua transferência para a filial de Andradina, onde ficou 5 anos. No Sakai, ao todo, foram 20 anos de trabalho e dedicação.


Depois, prestou concurso na Prefeitura de Adamantina, onde está até hoje, tendo ingressado em janeiro de 1996, completando agora duas décadas de serviço público. Na Prefeitura, trabalhou na Secretaria de Assistência Social, e em 2013 foi transferido para a Biblioteca Municipal. Hoje, presta atendimento ao público, põe-se a contar histórias em atividades na própria Biblioteca ou escolas e instituições, e aprendeu a fazer recuperação de livros, com pequenos reparos.

A motivação para o trabalho

João Passarinho se diz inspirado, diariamente, para ir trabalhar. “Nunca parti para o trabalho estando triste. De manhã sempre estou bem disposto e contente. O motivo é: estou vivo, tenho forças para o trabalho e tenho aonde ir, que é um lugar sagrado onde obtenho o meu ganha-pão, para o sustento da família”, celebra.
Ele ensina que é preciso estar bem, também, com os colegas de trabalho e os chefes. “Há 57 anos trabalhando, jamais tive um chefe ruim. Todos deixaram saudade”, relata. “Além disso, faço o que gosto, com atenção, vontade, prazer e, principalmente, com amor”, ensina.

Tecnologia e tradições

Passarinho convive diariamente, no seu trabalho, com o universo da leitura, dos livros, da tecnologia, e se relaciona com um público eclético, entre eles, muitos são crianças, adolescentes e jovens. E vê com preocupação a submissão desse público às tecnologias, que são úteis, estão para servir, mas muitos deixam ser conduzidos.
Outra coisa que lhe entristece é testemunhar a baixa procura por livros, leitura e estudos. “As pessoas não gostam de ler, estudar, de pesquisar à fundo. Preferem extrair cópias de trabalhos escolares, da internet, sem ao menos ler”, exemplifica. “Há muito desinteresse, e se pensarmos que esses serão os futuros profissionais, a preocupação aumenta”, questiona.

A vida em família

Na condição de filho, João Passarinho destaca ter a consciência tranquila. “Sempre obedeci meus pais, acolhendo suas orientações e conselhos”, diz. Ele se apropriou desses ensinamentos e da vivência, para oferecer a melhor formação aos filhos. “Sempre fui um pai presente, assim como nunca usei censura nas palavras para falar com eles”, relata. “Converso com eles o que recebi da minha mãe: perdoar sempre, vingar-se jamais, não discutir, não pegar um centavo que não seja deles, para que possam olhar para todos sem sentir vergonha ou algum tipo de constrangimento”, ensina. Em relação à esposa, é objetivo: “Como marido faço o possível e o impossível para que a minha esposa sinta-se feliz”, completa.
Passarinho fala também da sua relação com os seus irmãos. “Nunca perdi a amizade com os meus irmãos, ou vice-versa”.

Mais recentemente, Passarinho tem experimentado a condição de ser avô, e usa de todo o carisma, cuidados e carinhos, na formação da neta. “Aos setenta anos, dominado por um anjo de três”, diz. E usando da sabedoria popular tão presente em suas colocações, tomadas de humor e ensinamento, solta: “avô é um burro que os filhos amansaram para os netos montarem”, brinca. “Sinto-me o avô mais feliz do mundo. Filhos, netos, bisnetos, enfim, são bênçãos de Deus, no tempo certo”, completa.

É pensando no futuro, e usando sua neta como uma moradora desse futuro, que Passarinho defende um mundo mais humano, com justiça, amor e verdade, sem violência, sem drogas e sem preconceito. “Um mundo em que uma pessoa não represente perigo à outra”, define.
Religioso, Passarinho tem participação ativa junto à Igreja Católica de Adamantina, sobretudo junto à Comunidade da Igreja Matriz de Santo Antônio.

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