Cidades

Arquitetos e urbanistas propõem nova configuração para centro de Adamantina

Centro de Adamantina: anteprojeto busca conforto ambiental e valoriza pedestre.

Por: Da Redação atualizado: 15 de abril de 2018 | 19h46
Perspectiva do tradicional cruzamento da avenida Rio Branco com a rua Deputado Salles Filho: verde, cores e sombra (Ilustração). Perspectiva do tradicional cruzamento da avenida Rio Branco com a rua Deputado Salles Filho: verde, cores e sombra (Ilustração).

Uma discussão iniciada no ambiente do grupo “Adamantina Sustentável”, pelo Facebook, e o desafio de pensar a cidade, tomaram forma e propõem agora novos desdobramentos com alternativas que podem contribuir para a construção de um ambiente de convivência urbana que promova conforto ambiental e valorize o pedestre na cidade.
A partir da vivência na própria cidade e outras localidades, da carga de aprendizado e da percepção aos temas e iniciativas que podem impactar positivamente no cenário desses lugares, os arquitetos e urbanistas Maysa Pinhata Battistam e Aviter Bordinhon Ribeira (abaixo) construíram uma proposta (anteprojeto) que reconfigura o centro urbano de Adamantina.
A apresentação inicial da sugestão de intervenção urbana foi feita à oceanógrafa, mestre em educação e doutora em educação ambiental Isabel Gonçalves e aos vereadores Acácio Rocha e Alcio Ikeda, no feriado de Sexta-Feira Santa, na Câmara Municipal.
O desafio agora é ampliar a ideia, sensibilizar autoridades, lideranças, população e o próprio setor comercial. Havendo aprovação à ideia e decisão pelos investimentos, o passo seguinte será encontrar caminhos para viabilizá-los.
Os autores da proposta apresentaram a sugestão como uma ideia inicial e defendem a discussão sobre as sugestões e até mesmo a realização de concurso que estimule outros profissionais e apresentarem alternativas para esse cenário. “A participação popular é um direito dos cidadãos previsto na legislação brasileira. E caso o poder público tenha interesse em realizar um projeto que melhore o conforto urbano da avenida Rio Branco, seria interessante um concurso público para que outros profissionais também possam expor suas ideias, focando em estrutura ecológica urbana e conforto urbano”, destacam.

Ideia nasceu em um grupo de discussão

Aviter formou-se em arquitetura e urbanismo em 2016 e Maysa em 2017, pela Unesp de Presidente Prudente. Ambos são nascidos em Adamantina e hoje cursam mestrado, no Programa de Pós-Graduação UEM/UEL, em Maringá (PR). No mercado profissional, trabalham em um escritório virtual que atende Adamantina/Maringá e as respectivas regiões.
Eles tiveram contato com o tema no grupo de discussão “Adamantina Sustentável”, pelo Facebook, criado por Isabel Gonçalves, onde surgiu o questionamento ambiental sobre o Selo Município Verde e Azul que Adamantina recebeu da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e os requisitos são avaliados pelo órgão estadual, junto ao município, para essa certificação.
Sensibilizados com tema, a dupla de arquitetos urbanistas se dispôs a propor soluções reais e viáveis para o poder público, de forma que Adamantina se desenvolva no quesito sustentável e ecológico.
Partiram então do mais básico: a arborização da principal avenida da cidade, a Rio Branco. Todavia, decidiram trabalhar com a ideia de conforto urbano e sustentabilidade para que outros aspectos, além da vegetação, fossem abordados. “Desta forma, trouxemos para o anteprojeto alguns elementos urbanísticos que têm sido debatidos na última década, assim pudemos projetar a cidade para pessoas ao invés de pensar somente a cidade para os carros, e também a questão ecológica, introduzindo vegetação e os jardins de chuva que aumentam a área permeável do solo que está muito escassa na cidade”, explicam.
Segundo a dupla, existem várias cidades no mundo todo em que começaram a implementar um urbanismo voltado para as pessoas e algumas voltadas para uma gestão urbana ecológica e sustentável. Aqui mesmo no Brasil já é possível vivenciar algumas iniciativas, que inclusive foram usadas como referência pelos autores da proposta para Adamantina.
Entre as cidades referência no Brasil, eles citam Belo Horizonte (MG), Campos do Jordão (SP) e o bairro Santana (zona norte de São Paulo). Mundo afora, as referências positivas são  Medellín (Colômbia), Guadalajara (México), Barcelona (Espanha), Paris (França), Seomeoyeonmunhwa (Coreia do Sul) e MaryLand (EUA).

Conforto urbano e sustentabilidade

A proposta da dupla de arquitetos urbanistas para a reconfiguração do centro de Adamantina é estruturada em conceitos de conforto urbano e sustentabilidade. Com a definição da ideia, começaram a estrutura-la, a partir da própria percepção sobre a cidade, levantamento de dados a campo e a análise comportamental de como as pessoas se manifestam no local objeto da intervenção. “A fim de conseguir essas informações, fomos várias vezes à campo, fazer o levantamento de medidas e observar como as pessoas usam esse espaço público em Adamantina. Depois dessa etapa, buscamos referências em um urbanismo inovador, funcional e de baixo custo que poderia se adequar às necessidades de Adamantina. Por fim, chegamos a uma proposta de anteprojeto”, contam.
A sugestão de intervenção é sustentada por uma série de argumentos e objetivos, desde assegurar conforto ambiental para quem anda a pé na cidade, até a conscientização e a importância da existência de espaços verdes nas cidades. “Hoje, a paisagem da cidade é inóspita, e o pior dos cenários é que estamos acostumados com ela. Tentamos quebrar este paradigma com este projeto”, destacam.
Maysa e Aviter reiteram que todo cidadão tem direito à cidade e é necessário ter qualidade urbana em Adamantina. “O nosso foco foi exatamente nas pessoas. Tanto aquelas que circulam na Avenida Rio Branco sob sol intenso, quanto o grupo que ocupa as esquinas da cidade para conversar. Pretendemos alcançar o maior número de usuários, priorizando o interesse coletivo”.

Redesenho do centro de Adamantina

A ideia da dupla de arquitetos urbanistas foi construída para fomentar princípios de conforto urbano e sustentabilidade. Eles explicam que o termo conforto urbano refere-se não somente a ideia de arborização, mas sim de toda uma infraestrutura que proporcione, como o nome já diz, conforto ambiental ao cidadão.
Partindo desse contexto, Aviter e Maysa se empenharam em propor um anteprojeto que priorizasse o caminhar do adamantinense pela principal avenida da cidade. Por sua longa extensão, e pelo fato de que as pessoas não se comportam da mesma maneira ao longo de toda a avenida, eles recortaram a área central, em um perímetro que inicia no cruzamento com a avenida Adhemar de Barros e termina no cruzamento com a rua Nove de Julho.
Conforme um levantamento de dados realizado pela dupla, há largura suficiente da avenida Rio Branco para estacionamento de veículos e mais duas faixas de rolamento. Deste modo, pela proposta, as calçadas foram alargadas em 90 centímetros de cada lado e o piso histórico de pedras portuguesas seria mantido.
Assim, o aumento da calçada cria uma faixa de arborização de mesma largura (90 centímetros), com canteiros verdes de grama amendoim (Arachis repens) e árvores de médio porte que auxiliem a melhorar o microclima, intercalando o Falso Barbatimão (Cassia leptophylla) e a Quaresmeira (Tibouchina granulosa), que durante o ano florescem em meses diferentes, criando diferentes paisagens para a mesma avenida.
Em frente à Igreja Matriz de Santo Antônio foi projetado um canteiro central com palmeiras de grande porte (Phoenix Canariensis) que direcionam o olhar para à Igreja e também demarcam a volumetria vertical da torre da Matriz.
Com a criação desta faixa verde nas calçadas da avenida Rio Branco, a área para circulação de pessoas estará mais livre, assim, tanto o comércio popular informal (ambulantes e vendedores de modo geral) como o mobiliário urbano (sinalização, bancos, lixeiras) podem usufruir do espaço criado entre o meio das árvores, liberando a calçada para circulação de pessoas.
Em algumas esquinas da Rio Branco há uma concentração de pessoas (Santander, Pernambucanas, e em outros locais), principalmente aos sábados. A fim de incorporar essas pessoas ao projeto, a proposta é que as esquinas sejam alargadas, de modo que bancos sejam colocados para que essa população permaneça ali, afinal ocupar as ruas é um benefício para a cidade.

Sombra, cores e flores na Rio Branco

Na proposta, os arquitetos urbanistas escolheram espécies vegetais que pudessem garantir alguma atratividade estética ao longo das estações, não priorizando somente o conforto urbano e a sustentabilidade. Algumas destas espécies florescem em meses diferentes, proporcionando mudanças estéticas significativas na paisagem da Avenida, posto que em cada época do ano será de uma cor predominante (amarela ou lilás).
Além disso, com o alargamento das esquinas, estas ficam mais próximas com o lado oposto da via, facilitando a travessia de um lado para o outro da Avenida Rio Branco.  Para direcionar os pedestres a atravessarem na faixa, foi proposto um jardim de chuva. Os canteiros verdes permeáveis, os jardins de chuva e as árvores caracterizam a implantação da estrutura ecológica urbana, sendo que, os dois primeiros aumentam a taxa de permeabilidade do solo que é tão rara na cidade
O jardim de chuva tem dupla função: estético/paisagística e de estrutura ecológica sustentável. Ao chover, ele armazena parte da água que escoa pelas sarjetas, o que faz com que a velocidade e o volume de água pluvial que escorre pela Avenida diminua, influenciando de certa forma, em reduzir alguns pontos de alagamentos da cidade de Adamantina. O jardim de chuva teria plantas das seguintes espécies: Herbácea (Philodendron xanadu) e a Moreia (Dietes grandiflora), ambas de crescimento lento e de pouca manutenção.

Rua Deputado Salles Filho

Segundo os autores da proposta, a rua Deputado Salles Filho tem grande potencial de se transformar em uma rua de pedestres (calçadão). Eles citam como principal problema dessa rua a aridez decorrente da extrema falta de vegetação, e calçadas muito estreita. “Contudo, esta rua conta com um dos maiores fluxos de pessoas no centro da cidade por se tratar de uma via de comércio e serviços”, reforçam.
Deste modo, o projeto prevê também o alargamento das calçadas para melhorar a circulação de pessoas, bem como faixas de canteiros ao longo das sarjetas com árvores de médio porte para melhorar o microclima local, além de manter a pista de rolamento em uma só direção.

Devolutiva à comunidade

Os arquitetos e urbanistas Maysa e Aviter têm uma trajetória bastante semelhante. Ambos nasceram em Adamantina e se conheceram no ensino médio, quando estudaram juntos. Entretanto a aproximação mesmo veio com a opção do curso de graduação e a mesma faculdade, quando aos 18 anos deixaram a cidade para cursar arquitetura e urbanismo na Unesp de Presidente Prudente, onde passaram a residir.
Maysa morou fora do Brasil, por cinco meses. Hoje, os dois residem em Maringá, onde cursam mestrado na mesma área. Estão com frequência em Adamantina, onde moram seus familiares. “Trabalhamos juntos em projetos de extensão na universidade, e por compartilhar de valores e postura profissional semelhantes tínhamos a ideia de sermos sócios. Na verdade, esse projeto consolidou ainda mais essa ideia”, revelam.
Em relação ao convite para discutir a cidade e a formatação da proposta de intervenção urbana, a dupla destaca a iniciativa como uma devolutiva. “Temos a intenção de contribuir com a cidade de Adamantina de alguma forma, posto que somos formados por uma universidade estadual que é dependente de dinheiro público oriundo de impostos, portanto, nada mais justo usarmos nosso conhecimento para retribuir a todas às pessoas que contribuíram de alguma forma para a nossa formação acadêmica”, completam.

Publicidade

Cóz Jeans
Shiba Sushi Adamantina
P&G Telecomunicações

Publicidade

Insta do Siga Mais