Opinião

Auto-sabotagem: o que fazer?

Artigo da psicóloga e psicoterapeuta Giovana Lopes fala sobre a auto-sabotagem – aqueles que colocam a pedra no próprio caminho – e os desafios para reconhecer e superar.

Por: Giovana Lopes
Auto-sabotagem: o que fazer?

Todos os seres humanos têm padrões de repetição e a maioria deles são irracionais.
Algumas pessoas calçam o pé direito sempre antes do esquerdo, ou vice-versa; deitam na cama para dormir somente em uma determinada posição; outros sempre dão topadas nas mesmas quinas dos móveis ou gostam de comer determinados alimentos antes de outros.
Quando são acontecimentos corriqueiros, não há grande importância. O problema é quando a repetição é destrutiva, isto é, quando predomina ciclos negativos de repetição em nossas mentes e consequentemente em nossa vida.
São compulsões que levam indivíduos à beira da loucura e destroem vidas - as suas próprias e as dos outros que o rodeiam. Levam a problemas no namoro, casamento, na relação com pais e filhos, na escola e no trabalho.
É claro que a maioria das pessoas não percebe o que faz. Prefere acreditar que a insatisfação é apenas fruto de algo externo, alheio a ele e essa “negação” faz com que ela siga em frente, sempre sofrendo.
Associadas ao auto boicote, há uma gama enorme de emoções negativas.
A culpa, por exemplo, vem em primeiro lugar, e geralmente aparece por se romper uma crença de infância.
Muitas vezes, a pessoa pode estar vivendo situações agradáveis naquele momento, mas mesmo assim não consegue usufruir completamente de uma felicidade. Acaba funcionando como uma criança que pede desesperadamente determinado brinquedo para os pais, mas quando ganha o presente, não consegue brincar com ele. Coloca a pedra no próprio caminho, quebra as próprias pernas, compra um sapato de número menor que o próprio pé, joga uma mochila de 100 kg nas próprias costas, sempre com a bizarra intenção de se frear rumo ao caminho da felicidade, do prazer, do amor. Às vezes nada... nada e morre na praia, sem gozar a vida plenamente com tudo de bom que existe nela.
Esquece que está com uma pedra que ele mesmo amarrou em seus pés e que é isso que o impede que chegue à superfície.
O sentimento de medo também pode estar presente inconscientemente. Também há o medo de se perder o que se conseguiu até o momento atual ou de não levar adiante a realização com o mesmo sucesso. Enfim, de que a sua história, no fim das contas, não dê certo.

A auto-sabotagem pode acontecer também no namoro ou casamento, por exemplo, que é um espaço de luta de poder e de desejos.
É comum o namorado/marido ou a namorada/esposa deixar o outro controlar, dominar e punir, enquanto o outro simplesmente age de forma que esse controle e essa dominação cresçam ainda mais. Ambos seguem um “pacto silencioso”, não importando se ele traz culpa ou sofrimento.
Também é muito frequente uma pessoa casar várias vezes e, apesar de os parceiros serem absolutamente diferentes, criar situações e problemas idênticos com todos eles. Qualquer um pode perceber que há um padrão de repetição - menos ela própria.
É comum encontrar também grandes semelhanças entre cônjuges e seus pais. A pessoa escolhida se assemelha com quem ele mais teve dificuldades: Por exemplo: o pai frio e distante deu origem ao marido insensível. É a representação de uma relação mal-resolvida do passado.
É na infância, então, que se dá a origem dessas repetições, isto é, basicamente na relação entre pais e filhos que se constroem esses padrões. É de traumas, sofrimentos grandes ou pequenos  do começo de nossas vidas que isso tudo nasce. De um sentimento de abandono, nasce a crença de que se tudo aquilo for repetido, as coisas serão de uma vez por todas transformadas.
Tudo isso claro, é insconciente!

Um outro ponto. A auto-sabotagem no trabalho também pode estar presente naquela pessoa que “pula de emprego em emprego” e está sempre culpando seus superiores ou os colegas.
Nos novos empregos há sempre problemas semelhantes aos anteriores.
O relacionamento interpessoal é um fator muito importante no trabalho - tanto quanto dedicação ou competência e as “percepções” das pessoas no local de trabalho muitas vezes são distorcidas por relações mal resolvidas do passado, da mesma forma que no casamento. Pode-se ver um chefe como o pai severo ou uma colega como a irmã competitiva. A auto-sabotagem nasce daí: questiona-se a autoridade do chefe, negligencia-se uma meta, começa-se a chegar atrasado, descumprir ordens, etc. Como forma de combater inconscientemente algo do passado que ainda atormenta no presente.
Controlar a auto-sabotagem ou evitar completamente essas repetições destrutivas é muito difícil, porque elas podem estar consolidadas no inconsciente desde muito cedo.
Uma pessoa pode até perceber sua compulsão em agir daquela maneira e, a partir disso, acreditar que poderá controlar-se da próxima vez. E mais uma vez ela age destrutivamente e crê que na próxima ela evitará e assim por diante.
Estar ciente de seu padrão de repetições é extremamente importante e é o primeiro passo. Mas o caminho para estancar esse comportamento é ir de encontro ao trauma que está na raiz de tudo. Isto é, enfrentar esta tristeza, essa dor emocional. Encarar os medos, os fantasmas de frente e fazer com que eles desapareçam ou que, pelo menos, fiquem quietinhos num canto sem causar estragos.
Na grande maioria das vezes, o único caminho e o mais curto é a terapia, pois é através dela que se poderá trabalhar as origens desses conflitos e consequentemente interromper o ciclo.

Giovana Lopes | Psicóloga – Psicoterapeuta. Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo  (SBPSP). Candidata IPSO  -International Psychoanalytical Studies Organization. Membro da Organização dos Candidatos  da América Latina (SOCAL).
 

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