Adamantinenses são condenados no Mato Grosso pela morte de Xuxinha; penas são de 25 e 29 anos
Richard Bortolo Jr. foi condenado a 29 anos de reclusão. Matheus Drago Schnoor a 25 anos.
Após 17 horas de sessão do Tribunal do Júri — iniciada por volta das 8h desta segunda-feira (17) e encerrada à 1h da madrugada desta terça (18) — os adamantinenses Matheus Augusto Drago Schnoor e Richard Bortolo Júnior, réus pelo assassinato de Everton Marcelo dos Passos, conhecido como “Xuxa” ou “Xuxinha”, ocorrido em setembro de 2022, foram condenados por homicídio triplamente qualificado: motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima, além de ocultação de cadáver.
Conforme narra o Processo 1010637-21.2022.8.11.0040 da ação penal de competência do Júri, Richard Bortolo Júnior recebeu pena de 29 anos e 2 meses de reclusão, enquanto Matheus Augusto Drago Schnoor foi condenado a 25 anos e 10 meses.
A decisão foi proferida na sessão plenária do Tribunal do Júri, em que o Conselho de Sentença acolheu integralmente a tese apresentada pelo promotor de Justiça Luiz Fernando Rossi Pipino, da 2ª Promotoria Criminal de Sorriso, que sustentou a materialidade e a autoria dos crimes.
Promotor de justiça Luiz Fernando Rossi Pipino (JK Notícias).
Segundo publicação no site do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), o Conselho de Sentença reconheceu todas as qualificadoras descritas na denúncia — motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima — além do crime de ocultação de cadáver. A pena foi fixada considerando a gravidade concreta dos fatos, a atuação conjunta dos réus e as consequências do crime, que causaram intenso sofrimento à família da vítima. “O Júri Popular reafirmou que a vida humana tem valor e que a traição, a crueldade e a covardia não encontram abrigo na consciência do povo de Sorriso. Prevaleceram, uma vez mais, a verdade e a justiça”, destacou o promotor de Justiça Luiz Fernando Rossi, conforme noticiado pelo órgão.
O juiz Rafael Deprá Panichella presidiu o julgamento e, após a decisão dos jurados, fixou as penas, que deverão ser cumpridas em regime fechado. O magistrado também determinou que os réus arquem com as custas e despesas processuais. A defesa poderá recorrer da decisão.
Relembre o caso
Conforme a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Mato Grosso, o crime ocorreu na madrugada de 7 de setembro de 2022, após uma discussão entre a vítima e os réus, que evoluiu para agressões físicas e depois para o homicídio e ocultação de cadáver.
A investigação apontou que os três estavam juntos em uma camionete S10, circulando pela área urbana de Sorriso, quando pararam o veículo e desembarcaram. A partir desse momento, iniciou-se uma discussão por motivo fútil, relacionada a despesas em uma casa noturna da cidade momentos antes.
Após o desentendimento verbal, segundo a denúncia, Matheus e Richard retornaram à camionete e deixaram Xuxinha na via pública. A discussão continuou por meio de chamadas de celular, quando então os dois voltaram com o veículo e atropelaram a vítima.
Camionete usada no crime, flagrada na madrugada do dia 7 (Reprodução).
Em seguida, conforme descreve o Ministério Público, os denunciados desceram do veículo, agrediram Xuxinha com socos e pontapés, arrastaram-no até a carroceria da camionete e seguiram em direção à estrada do Rodoanel. As agressões nesse local foram presenciadas por uma testemunha, que relatou ter visto a vítima receber uma “coça”, expressão popular para designar uma surra.
Já em outro local, para onde a víitma foi levada desacordada e sem possibilidade de defesa, os dois a golpearam na região do pescoço, provocando a morte por esgorjamento. Para tentar ocultar provas do crime, o canivete utilizado foi colocado dentro da cueca da vítima, cujo corpo foi posteriormente arremessado no Rio Lira.
Canivete utilizado no homicídio (Reprodução).
Depois do homicídio, os réus fugiram e retornaram à kitnet onde moravam, ainda sujos de terra e sangue, onde encontraram familiares e conhecidos. Questionados, disseram que haviam ido ao rio. Em seguida, lavaram as roupas e o veículo, na tentativa de eliminar vestígios.
P1: local do atropelamento e agressões; P2: rancho onde a vítima morava; P3: local onde a vítima foi morta e depois lançada no rio (Reprodução).
Ainda conforme o MPMT, uma outra testemunha recolheu um documento e um chip de celular que caíram da vítima durante o ataque e os entregou à polícia. Seu relato, indicando que duas pessoas teriam cometido as agressões, contribuiu para direcionar a investigação e fundamentar o pedido de prisão preventiva dos suspeitos.
O corpo de Xuxinha foi encontrado dia 10 de setembro, no Rio Lira, próximo a uma ponte no anel viário da MT-242, em Ipiranga do Norte, por um pescador que acionou a Polícia Militar. O município fica a cerca de 60 km de Sorriso.
Corpo da vítima localizado no Rio Lira (Reprodução).
No mesmo dia, já com mandado de prisão preventiva expedido, os dois amigos se entregaram à Polícia em Comodoro, a aproximadamente 600 km de Sorriso. Já o corpo da vítima foi sepultado em 12 de setembro, em Adamantina.
Antes da elucidação do caso, as famílias dos três amigos chegaram a publicar postagens nas redes sociais informando que os três estavam desaparecidos. A situação foi noticiada pelo Siga Mais no dia 9 de setembro, dois dias após o crime.
Em memória ao domador de cavalos
A morte de Xuxinha chocou Adamantina, município de cerca de 35 mil habitantes, e Sorriso, com aproximadamente 120 mil moradores. Nas redes sociais, o representante do Ministério Público mato-grossense escreveu sobre o desfecho judicial para o crime. “Ontem, a justiça encontrou o seu caminho. Sorriso/MT e Adamantina/SP — duas cidades distantes — se uniram pelo mesmo propósito: honrar a vida de um domador de cavalos que jamais poderia imaginar ser assassinado pelos próprios amigos de infância. O eco da dor de uma família percorreu quilômetros até encontrar, aqui, acolhimento e verdade. E a memória daquele homem simples do campo, antes lançada às águas do Rio Lira na tentativa covarde de ser apagada, ontem emergiu intacta — resgatada pela verdade e devolvida à dignidade que sempre foi sua”, escreveu o promotor Luiz Fernando Rossi Pipino. “Duas cidades, um só coração. E uma certeza que permanece: nenhuma VIDA será esquecida quando o POVO decide fazer JUSTIÇA”, concluiu na publicação.