Escritora faz 85 anos e é homenageada pelo grupo Rolê Literário
Poesia unindo gerações: grupo reuniu poesias de Geni Omin (Geni Pereira) em vÃdeo-homenagem.

A escritora, artesã e multiartista Geni Pereira – a Geni Omin – é um rosto conhecido entre aqueles que transitam pelas mais barulhentas ou as mais silenciosas atividades culturais, de longa data, em Adamantina. É figura marcante, referência de entusiasmo, disposição, jovialidade e cheia de histórias par contar.
No sábado (2) Dona Geni completou 85 anos e foi homenageada pelo gruo Rolê Literário, de Adamantina. Em uma publicação nas redes socais, o grupo apresentou um vídeo-homenagem, com poesias da veterana. É uma prévia de uma publicação impressa com textos da escritora veterana e os autores locais da nova geração.
Na postagem, Adriana de Lima Barochello, em nome do Rolê Literário, revela o desenvolvimento do livro de contos, crônicas e poesias Flor e Ser, que ainda depende de viabilização financeira, e apresentou o vídeo-homenagem. Assista aqui.
A iniciativa do Rolê Literário repercutiu, na própria homenageada e nos internautas que tiveram contato com a publicação. “Marcos Rodolfo, filho dela, disse que ficou muito feliz e emocionada”, diz Adriana.
Siga Mais ouviu Adriana Barochello, que deu mais detalhes da ação. Ela fala ainda da homenageada e do grupo. Ela conheceu a veterana na Biblioteca Municipal de Adamantina, em 2017, depois do bate papo com o escritor Sandro Nazireu. “Dona Geni veio conversar comigo e ali fizemos amizade, falamos sobre literatura e iniciamos encontros literários quinzenais com outras pessoas que gostam de literatura. Nesses encontros, que acontecia sempre em um café, líamos algum texto literário curto e conversávamos. Tive a oportunidade de ler vários textos de Geni, então me encantei”, revela.
Um pouco de Rolê Literário (Divulgação).
Em relação à homenagem, a ideia inicial era reunir somente os textos da Dona Geni, porém ela queria que tivessem outros autores. “Sempre falava de juntar pessoas mais jovens para incentivar a leitura e a escrita”, destaca Adriana.
Pandemia pausou a versão impressa e levou ao vídeo-homenagem
A homenagem a Dona Geni tem como meta uma publicação impressa. Para isso o grupo panejava um sarau para arrecadar dinheiro para a edição, diagramação e impressão, mas a pandemia da Covid-19 mudou os planos. “Pensamos também em publicar o arquivo na internet, porém antes é preciso resolver outro imprevisto: por inexperiência com a diagramação, o maior problema está sendo na hora de converter esse arquivo, as ilustrações se deslocam e as margens e espaçamentos precisam de ajustes”, revela Adriana. “Acredito que se alguém pudesse ajudar com a diagramação também seria interessante”, convida.
Capa de Flor e Ser, por Taísa Maria Laviani (Divulgação).
A produção do vídeo-homenagem foi a solução temporária, para não deixar que a data do aniversário de Dona Geni se tornasse uma página em branco. Tudo foi resolvido e distribuído no grupo de WhatsApp, hoje com 14 participantes. Os textos foram gravados em vídeo e enviados à Adriana, que dez a edição final e a publicação.
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Liberdade
Geni Omim
A alva ilumina o norte,
Sonolento amanhece o dia,
Ondas lépidas, de leve porte.
A aurora faceia o oceano,
Barcos, velas, a luz vigia,
Olhos, janelas, no mesmo plano
Ante face, a imagem mana,
Desperta o sonho, o grito insano,
Percebe, a torpe ira humana.
Alteia forte e acolho silente.
Livre oferta, no ato profano,
Laços de ferro,
Fogo corrente.
A grave verga, a chaga verte.
Chora tristeza, nesse porto,
Na terra nova a cria inerte.
Breve sorte o vento vagueia
Cativo, súbito, vivo e morto.
Tomba o ébano, beija a areia...
No voo a liberdade
Livre e soberano.
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Da declamação em vídeo publicada nas redes sociais participaram Taísa Maria Laviani, Jaqueline Zaparoli, Alissa Borges, Giovana Koga, Adriana de Lima Barochello e Eduardo Andrade, que narram textos da dona Geni. Já a coletânea que está sendo produzida - com comentários sobre as impressões que tiveram ao texto de Geni Omin e com textos autorais – reúne os jovens escritores Valdir Cardoso, Arthur Damasceno, Leonel Parra, Vitor Gino, Deoene Ananias, somados aos que gravaram o vídeo. Ao todo são onze participantes.
Outros dois integrantes chegaram ao grupo: Rauane Ferrara e Hyan Janegitz. “A intenção é dar continuidade ao projeto. A princípio, finalizar o livro Flor e Ser, depois continuar com o Rolê Literário, continuar com os encontros, incluir mais pessoas. Incentivar a literatura, a escrita criativa, a expressão artística”, diz Adriana.
Capa, conceito da obra e outros desafios autorais
A capa do livro Flor e Ser, já revelada no vídeo-homenagem, foi desenvolvida por Taísa Maria Laviani. Ela é fotógrafa e também participa da coletânea com textos autorais. “A fotografia tem a ver com o conceito do livro (sugere-se que atrás do muro tenha um jardim) e foi selecionada em grupo, já que a Taísa apresentou várias opções de capa”, explica Adriana.
Ela conta que, em grupo, também ficou decidido que cada autor seria representado por uma flor, sendo a flor que representa a Dona Geni a flor principal, no caso, Miosótis. Essas ilustrações são assinadas por Jaqueline Zaparoli.
Dona Geni, a flor principal, no caso, Miosótis. Ilustração de Jaqueline Zaparoli (Divulgação).
Quanto à estrutura do livro, cada jovem autor ou autora selecionou um texto de Dona Geni, fez um comentário sobre o texto dela, escreveu uma mini biografia e apresentou algum texto autoral (poesia, crônica ou conto). Ao todo são 12 textos de Dona Geni na publicação.
Vivência e as experimentações poéticas em Adamantina
O Rolê Literário surgiu no ano passado. “Eu e outros jovens que gostam de escrever estávamos conversando sobre literatura, então falei sobre a Dona Geni, e ali nasceu o grupo. Organizamos reuniões e começamos a estruturar o projeto do Livro que se chama Flor e Ser”, explica. Outros jovens autores, sugeridos pela veterana, também se somaram.
Sobre a vivência e as experimentações poéticas em Adamantina, Adriana descreve o cenário. “A poesia está em todo o canto. Nos poemas da Dona Geni, nas batalhas de rima na Estação, mas infelizmente não é muito valorizada”, pondera. Todavia, a busca por um espaço de debate coletivo, sobre poesia, tem se mostrado positivo, resistente e atemporal. “Por ser um grupo bem diversificado, inclusive pela diferença de idades – a mais jovem tem dezessete, a mais velha oitenta e cinco – os encontros foram sempre muito enriquecedores. Apesar da diferença, a poesia, a literatura e a arte nos aproximou e nos inspirou a organizar algo tão simbólico”, completa.
A poesia unindo gerações (Acervo pessoal).
Adriana finaliza com agradecimentos. “Sobre Dona Geni, gostaria de agradecer publicamente a todo talento e alegria dela, ela é inspiradora e foi a principal responsável por essas sementes que estão germinando”, diz. Ela também agradece ao Marcos, filho da veterana, e a todos os funcionários da biblioteca municipal “Cônego João Baptista de Aquino”, de Adamantina.