Entenda por que a instalação de um zoológico em Adamantina não é uma boa ideia
Vereadores querem zoológico na cidade e moradores reagem nas redes sociais

Na verdade, zoológico não é uma boa ideia em lugar nenhum, não seria diferente em Adamantina. O encerramento das atividades de zoológicos por todo o mundo e cada vez mais pessoas questionando a real utilidade desses estabelecimentos são realidade. Em outras palavras, abrir um zoológico pode parecer uma proposta do século passado, tamanho o movimento pela extinção deles.
Os vereadores Hélio José dos Santos e Rogério César Sacoman (Macarrão) apresentaram na Câmara Municipal de Adamantina um pedido para instalação de um mini-zoológico na cidade (veja aqui). O pedido é, na verdade, uma sugestão oficial da casa para a FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas). Ficaria para a FAI a responsabilidade de cuidar do local e não para a administração municipal.
Os vereadores alegam que o mini-zoológico teria o objetivo de "abrigar e cuidar dos animais silvestres que vem sendo sistematicamente capturados em nosso município, bem como em nossa região e, ao mesmo tempo, oferecer mais um importante espaço cultural, educacional e de lazer para a população da nossa região, contribuindo de forma significativa na preservação da nossa exuberante e diversificada fauna nativa".
Antes de tudo, me pergunto para onde estão indo os animais silvestres capturados atualmente na região pelos órgãos ambientais. Certamente já estão sendo encaminhados, portanto, talvez a suposta necessidade por conta do tráfico de animais não faça sentido. O que mais me preocupa são as três características atribuídas pelos nobres parlamentares ao possível futuro espaço: cultural, educacional e de lazer.
Cultural e educacional seria apenas se fosse um local para cuidado dos animais e reencaminhamento – quando possível – para a vida na natureza, sem presença de público, muito menos de cobrança de ingressos. Quando muito, poderia ter visitação monitorada de estudantes com alguém capacitado para alertar sobre como aqueles animais foram parar ali.
Ver animais longe de seu habitat e presos em jaulas não enriquece o currículo escolar de ninguém, já que esses animais não têm o mesmo comportamento que teriam na natureza. Registros de indivíduos com depressão e com problemas psíquicos graves são comuns nesses locais.
Quando Hélio e Macarrão citam "de lazer" como uma das características do estabelecimento, podemos concluir que a ideia trata do velho zoológico, tal qual não deveria mais existir. Dificilmente o tal zoológico manteria visitação apenas com alguns passarinhos apreendidos pela polícia florestal ou outros pequenos animais. O povo quer ver animais africanos, grandes felinos, elefantes, girafas. Logo o mini-zoológico ganharia incentivo para se tornar mais um daqueles locais que as pessoas que se preocupam com os animais querem ver fechados.
Se for para começar algo em favor dos animais na cidade, sugiro a implementação de um programa de castração e eventos de adoção de cães e gatos. Por lei, a administração pública tem obrigação de cuidar dos animais que vagam nas ruas. É também uma atitude sensata para evitar doenças e proteger a população humana.
Espero, portanto, que a FAI não leve adiante a ideia do mini-zoológico e que os vereadores possam tirar dessa situação uma lição, aproveitando o momento para apresentar um projeto de castração e adoção, como disse.
O que me surpreendeu positivamente nessa história toda foram os comentários contra a criação do mini-zoológico no grupo de discussão do Siga Mais no Facebook (veja aqui). A grande maioria dos cidadãos que comentaram não querem um zoológico em Adamantina. Eu tinha certeza que a maioria iria apoiar a criação do espaço. Que bom que eu estava errado.
(*) Fabio Chaves é fundador e infoativista do Vista-se – maior portal vegano do Brasil e segundo mais acessado do mundo – e colunista do portal de notícias da Rede Record, o R7.