Em breve, poderemos ter avisos em produtos à base de carne semelhantes aos das embalagens de cigarro
Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou carnes processadas no grupo de mais alto de risco para o desenvolvimento de câncer.

A notícia tem agitado o mundo inteiro e é pauta em todas as redações de jornalismo. E não é para menos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou carnes processadas no grupo de mais alto de risco para o desenvolvimento de câncer, ao lado do cigarro e de outras substâncias perigosas (entenda no Vista-se). As carnes in natura ficaram logo atrás no nível de risco, mas é provável que em alguns anos alcancem também o alerta máximo da OMS.
É claro que eu fiquei animado com a notícia. Não porque está confirmado que milhões de pessoas vão morrer pelo que estão comendo (inclusive algumas que eu estimo), mas pelo fato disso ser agora algo oficial, legitimado. Não são “aqueles vegetarianos chatos” que estão enchendo o saco, é a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a saúde quem diz.
Essa nova classificação da OMS é importante porque é o primeiro passo para que entidades de saúde dos países reformulem suas diretrizes internas e não recomendem mais o consumo desses produtos.
Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde já admitiu que uma alimentação sem nada de origem animal pode ser saudável. Você pode relembrar esse marco na divulgação do veganismo em nosso país em uma matéria que escrevi em dezembro de 2014 (relembre no Vista-se).
Agora, com esse tapa na cara da sociedade vindo da OMS, é muito provável que, em alguns anos, tenhamos avisos nos produtos cárneos como temos hoje nas embalagens de cigarro. Você pode achar que eu estou exagerando, mas acompanhe o meu raciocínio.
Em 1944, médicos eram os protagonistas das campanhas da marca de cigarro Camel. Se você não acredita, assista ao comercial de TV da época (assista aqui). Há apenas 6 anos, antes da Lei Antifumo, era comum ir a um bar de música ao vivo e quase não conseguir enxergar o show por causa da fumaça dos cigarros. Em restaurantes, havia áreas reservadas para quem fuma. Quem em sã consciência poderia imaginar que as coisas se encaminhariam para onde estão hoje?
Ninguém mais tem dúvidas de que o cigarro é um produto cancerígeno se até a Philip Morris, uma das maiores fabricantes de cigarros do mundo, admite isso em seu site (veja aqui, em inglês). Ninguém acha bonito fumar e quase todo fumante diz que está tentando parar. Isso porque sabe a idiotice que é fumar.
Em paralelo, com algumas décadas de atraso, vemos mais e mais estudos comprovando que a carne e outros produtos de origem animal são prejudiciais à saúde. A OMS juntou e reconheceu mais de 800 estudos publicados ao longo de 20 anos e deu o seu parecer. Foi exatamente o que ela fez com os cigarros no passado.
Esse carimbo de reprovação que a OMS deu às carnes pode fazer com que leis sejam criadas para que o imposto sobre elas sejam maiores ou para que propagandas relacionadas ao seu consumo sejam vetadas da TV, por exemplo. Aconteceu com o cigarro e eu tenho certeza que em algum momento vai acontecer com as carnes. Posteriormente, laticínios e ovos também receberão alertas oficiais.
Em breve, portanto, poderemos nos deparar com embalagens de mortadela, salsicha, linguiça, carne-seca, peito de peru, presunto e outros produtos similares com um grande e claro aviso:“O Ministério da Saúde adverte: este produto causa câncer”. É claro que ainda vão ter muitos carnistas – assim como há muitos fumantes atualmente –, mas nunca poderão dizer que não sabiam.
Assim como hoje nos surpreendemos ao saber que médicos faziam propaganda de cigarro, logo vamos nos chocar ao lembrar do que acontece atualmente com os produtos cárneos. Em alguns anos, vamos lembrar disso e dizer: “Nossa! Tinha apresentadora, atores famosos e até atletas e nutricionistas indicando o consumo de carne na TV!”. E eu vou estar lá para escrever sobre isso.
Sobre o autor | Fabio Chaves é fundador e infoativista do Vista-se – maior portal vegano do Brasil e segundo mais acessado do mundo – e colunista do portal de notícias da Rede Record, o R7.