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O que restou do oeste paulista - outrora um centro de promessas de progresso?

A atuação da classe política, governo e a participação popular nas questões estratégicas da região.

Por: Isabel Gonçalves
O que restou do oeste paulista - outrora um centro de promessas de progresso?

O que restou do interior, desbravado pelos bandeirantes, do oeste paulista, outrora um centro de promessas de progresso? Nada mais do que fazer parte tal do “corredor da fome”, encravado nas ricas terras paulistas, no estado mais rico e poderoso da federação.  Posso afirmar, sem medo de errar, que a nova alta paulista está abandonada, talvez porque não tenha força política, afinal somos apenas dois milhões de eleitores em um universo de aproximadamente 40 milhões, o que será que representa para os políticos do estado 5% de votos?

Não há gestão inteligente no campo, não há visão estratégica de modernização e aperfeiçoamento dos modais de transporte. Hoje, o que liga as cidades são estradas maravilhosas, mas a um custo altíssimo de manutenção e pedágios. Cortando todo o estado havia, há 30 anos, um malha ferroviária robusta que foi destruída por governantes incompetentes que cederam a lobbies. Que futuro haverá para o oeste paulista quando a mais econômica e segura forma de transporte de carga e de gente foi destruída e/ou sucateada para dar lugar a um modal de transporte baseado em fretes caros e que mais nos isola do país do que nos une? E para colorir este cenário com tintas mais sombrias, todo este histórico é desconhecido por significativa parcela da sociedade e, uma vez que o sujeito não percebe a complexidade do problema, não participa de forma ativa cobrando soluções de seus representantes.

O que restou para o oeste empobrecido do estado de São Paulo? Uma região que já foi pujante, hoje amarga um declínio absurdo. Esta região sofre com as agruras do clima, com estratégias equivocadas de gestão do campo, com a desindustrialização, com a incapacidade dos gestores de planejarem uma cidade e região em médio e longo prazo, com a politicagem e por uma total ausência de articulação entre as cidades da região para lutarem por mais investimentos, infelizmente se contentam com migalhas oferecidas pelo governo estadual.

Quando a gente pensa na pujança do estado de São Paulo vem em nossa mente algum tipo de desenvolvimento sustentado, mas infelizmente vivemos um ocaso de investimentos, do pensar e do conhecimento. É triste você ver toda uma região definhando e mais triste ainda é constatar a apatia política. Há muito que ser feito, mas como se a região dormisse em berço esplendido a “elite” política se comporta como se não houvesse nada para que lutar!

Adamantina, uma cidade outrora promissora, hoje amarga o ostracismo, não fosse a brilhante gestão da FAI sob a coordenação do senhor Cardin, talvez a faculdade também tivesse sucumbido. O caso FATEC, infelizmente, ilustra a inoperância que se abateu sobre nossos agentes públicos e desnuda a falta de planejamento. Infelizmente parte significativa de nossa classe política, não compreende o valor do legado, talvez não se dando conta que serão julgados pela história.

Sabemos que as prefeituras do interior, sobretudo nossa empobrecida região, estão em quase estado de penúria, muito devido ao estrangulamento promovido pelo governo federal e estadual, e para piorar o cenário, no caso de Adamantina e região, há nenhuma ou pouquíssima força política, pois, por estas bandas não conseguimos união para eleger deputados, nem estadual, o que dirá federal, mas muito dessa “miséria”, também, é consequência de administrações obtusas, fisiológicas e clientelistas – afinal, sofremos o mesmo mal que assola nosso país, tanto no âmbito federal, como também estadual e municipal – Adamantina não é exceção à regra. Infelizmente, nossos políticos se acostumaram a governar com o que tem, não estão “habituados” a planejar em médio e longo prazo e a buscar novos recursos e investimentos. Outro grande problema - devido ao clientelismo, fisiologismo e apadrinhamento – constituiu-se uma máquina pública extremamente inchada que consome parcela significativa dos recursos, o absurdo número de cargos comissionados ilustra, sobretudo, este triste cenário. Há um sucateamento estrutural e também humano, e um reflexo desse cenário é que, em menos de três anos de administração, 22 ocupantes de cargos de confiança do primeiro escalão foram substituídos.

Por outro lado, o cidadão não ocupa as arenas de debate e consequentemente, não participa da tomada de decisão, há pouco envolvimento cultural na política, consequentemente, o sujeito não participe da vida pública da cidade. O brasileiro, desde sempre, não é de se envolver em política, por diversos fatores, mas creio que o mais crucial deles é que, em muitos casos, se sente incapaz de fazer parte de qualquer cena política, pois foi educado, por toda uma vida, a ser comandado e aceitar limites de participação. Por este motivo, o cidadão, usualmente, é subserviente a qualquer autoridade política como se fossem seres superiores e não o que realmente são, agentes públicos que ocupam cargos públicos para servir a população e não se servir da população.

É por estas e outras que estamos imersos em um turbilhão de más noticias, na tal “crise” sem presidentes, tudo porque nosso país é pessimamente gerido em micro e macro escala da mesma forma - por governos acéfalos que se comportam como dinossauros famintos de corpo grande e cérebro pequeno.

A questão é: como governantes que loteiam nossas instituições públicas, visando à submissão de nosso sistema político a seus projetos de conservação de poder poderão desenvolver planos estratégicos e políticas públicas que combatam efetivamente os problemas relativos a educação, segurança, transportes, mobilidade urbana, saneamento básico, inovadoras e estratégicas formas de geração de energia, sem que haja apoio e desenvolvimento à instituições e agências reguladoras independentes, responsáveis por formular estratégia e planos de ação, baseadas em pesquisa de ponta, conhecimento técnico e compartilhamento de informações?

Somos bombardeados por sucessivas denúncias de improbidade administrativa, prevaricação, incompetência de gestores (ineptos e incapazes) e MUITA corrupção baseada em desvios de dinheiro público destinado a programas sociais. Parece exagero, mas não é, “graças” a estes desvios, crianças, adultos, velhos, morrem por falta de atendimento, seja por falta de saneamento, seja por falta de segurança, seja por falta de educação, seja por falta de saúde, seja por escolhas equivocadas de transporte. O Brasil tem índices aterradores, cruéis e insustentáveis, mas que em nada alteram a boa vida do péssimo gestor e da corrupção em nosso país ou que sejam capazes de provocar um terremoto nos conluios político partidário e conluios públicos e privados. Por este motivo não existe gestão socioambiental, socioeconômicas e sociopolíticas descentes e sustentáveis voltadas para quem realmente interessa, nossa sociedade.

Dinheiro? Dinheiro nos últimos anos não faltou e nunca se “investiu tanto”, mas mesmo com esta enxurrada de dinheiro NUNCA nossos sistemas (educacional, transportes, saneamento, saúde e segurança) foram tão ineficientes. Mas se dinheiro não foi até a tal “crise” o problema, qual foi o problema? O problema está em como todo este dinheiro é gerido e empregado, quanto mais dinheiro é injetado no sistema e é mal empregado ou desviado, menos ações inteligentes, eficientes de médio e longo prazo são estimuladas. Esta mórbida lógica gera um sistema estéril, pois para movê-lo não é necessário competência na concepção e aplicação dos projetos, pois vivemos no mundo das estatísticas estéreis e marketing populista.

Vivemos no país do superficial, que é o mais simples e visível e fácil de propagandear, mas os subterrâneos, responsáveis pela sustentação em longo prazo são sequer tocados. Vivemos num país do faz de conta, dos números bonitos, mas que são tão estéreis como a terra do sertão nordestino que recebeu rios de dinheiro por mais de 30 anos para ter sanado este problema, dinheiro que foi desviado de forma criminosa por nossos congressistas e governantes.

E como se desgraça pouca fosse bobagem, na educação onde grande parte das “fichas” dos governos, municipal, estadual e federal deveria ser investida - pois seria de um povo educado e culto que partiria a revolução e aperfeiçoamento de nosso retrógrado sistema socioambiental, socioeconômico, sociocultural e sociopolítico - estarrecidos e impotentes assistimos nossas escolas de base sendo sistematicamente sucateadas, como se a formação das crianças e adolescentes não tivesse nenhum significado ou importância na construção de um país socialmente justo.

Pois é meus caros, o governo do estado de São Paulo fechará escolas em todas as cidades do estado, em Adamantina a escolhida foi a Escola Durvalino Grion. O PSDB, de Geraldo Alckmin, é o partido que está no poder no estado de SP há 20 anos, neste tempo de gestão, pra quem não se lembra - darei uma ajudazinha para refrescarem a memória - a Educação do Estado de São Paulo foi devastada, dilacerada principalmente quando entrou em cena a senhora Rose Neubauer, que foi substituída pelo senhor Gabriel Chalita, que não apenas continuou, mas também aperfeiçoou o trabalho de “desconstrução” da educação no estado.

Pois é, ligue os pontos, pensem, vocês realmente acreditam que as administrações dos municípios e governo do estado não estão diretamente ligadas a este nefasto estado de coisas? Mas o que fazer se o sujeito não percebe que em seu estado e em sua cidade, tão próxima a ele, os “malfeitos” são praticados da mesma forma que a criticada no governo federal, onde impera incompetência gestora, compadrio e “desrespeito” aos cofres públicos?

O que pensar se no quintal do eleitor - onde ele pode atuar e propor mudanças com mais “facilidade”, por estar mais próximo - ele não consegue perceber quem são e o que fazem, ou deixam de fazer os agentes públicos? Fazer o que para que este eleitor, que não entende o que se passa em sua cidade, compreenda o cenário municipal, estadual e federal e toda a complexidade política que o envolve em todas as esferas? 

Infelizmente a incompetência governamental generalizada em nosso país não configura mal, pois os prejuízos podem e são terceirizados para a população que fica com o ônus de uma péssima gestão, afinal o Brasil é habitado por um povo dócil e apático disposto a arcar com o ônus em silêncio nada inocente, mas sim complacente e em muitos casos, cúmplice.

A corrupção institucionalizada sequer é percebida e, se sim, ela é atenuada e tamponada na promiscuidade de interesses pessoais de nosso dia a dia.

Direita e esquerda, conservadores e progressistas se engalfinham e lutam pela versão que será divulgada nas mídias e debatidas nas redes sociais, em um debate superficial, carregado de má fé intelectual, que leva o debate do nada a lugar nenhum!  Nada, efetivamente nada, absolutamente nada de concreto está sendo discutido para sepultar este abismo social do país. Brasil onde - depois de 20 anos de estabilização da moeda - os mais ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres. Duas décadas perdidas e nenhum esperança pela frente! Assim caminha nossa triste sociedade....

Mas passados 20 anos desde a estabilização da moeda e de governo de direita e esquerda, nosso sistema elétrico está sucateado e baseado em caras e poluentes matrizes energéticas, que sustentam as termoelétricas, que por seu lado evitam o colapso do sistema; o transporte entre estados é feito basicamente pelo modal menos eficiente e mais caro; o transporte urbano é baseado na premissa de que seres humanos são gado; a saúde pública "solicita" que o povo espere "ano" por cirurgia ou exames – afinal, quem tem câncer "pode" esperar -; nossa educação é inclusiva na quantidade, enquanto a qualidade abandou as salas de aula - segundo o relatório do Movimento Todos pela Educação, mais de 2 milhões de crianças em nosso país não frequentam escolas. 1,6 milhão de adolescentes, entre 15 e 17 anos, abandonam os estudos. Dos alunos que concluem o ensino médio apenas 9,3% sabem matemática, destes apenam 27,2% conseguem interpretar textos. Esta é a mão de obra colocada todos os anos no mercado de trabalho, que acolhe estes jovens em trabalhos nada especializados que pagam o mínimo.

Não se iludam, meus caros, na escala de prioridades de nossos governantes, primeiro vem quem os coloca lá, ou seja, quem paga a campanha. Segunda prioridade, os cargos loteados para alimentar as coligações espúrias. Terceira prioridade, os cargos para os militantes profissionais que de forma quase visceral e violenta (existem vários formas de violência) são os responsáveis pela força da campanha. Tudo isso “alimentado” pela sangria descarada dos cofres públicos, ma fé e incompetência administrativa. E por último na escala de prioridades, vem a população e suas necessidades básicas, saneamento básico, saúde, segurança, educação, transporte. Por isso não sobra dinheiro, pois nesta escala de prioridades ele é sugado ao longo do seu sujo percurso ou desperdiçado nas mãos de incompetentes. Por estes motivos não existe muita coisa boa vindo de nossos governantes, devido a tudo isso a cada dia que passa nossa esperança se esvai.

(*) Isabel Cristina Gonçalves é Adamantinense, Oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental. Atualmente trabalha como pesquisadora, Pós-Doutoranda, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: "Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação - REDELITORAL NORTE SP".

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