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O que cobre os rombos da péssima administração pública? Impostos!

Quando há incompetência administrativa, o que era para ser revertido em bem comum, passa a ser prejuízo - perda.

Por: Isabel Gonçalves
O que cobre os rombos da péssima administração pública? Impostos!

Para termos uma visão com contexto sobre a gestão de sistemas complexos precisamos compreender a lógica envolvida em todos os processos, desde a origem até o seu final. Essa premissa deve ser aplicada em tudo o que nos cerca, desde o sistema de saúde até o de produção agrícola, por exemplo. Para compreendermos com contexto a complexidade desses sistemas, é imprescindível focar nossa atenção em algumas questões básicas.

Para melhor compreensão, usarei o campo para exemplificar: em algum momento famílias foram deslocadas do seu lugar de origem (migrando para cidades), ou induzidas, em nome da lógica produtiva, a substituírem suas plantações de alimentos por monoculturas, como plantação de fumo, cana, eucalipto, soja, entre tantas monoculturas que dominam o cenário produtivo brasileiro.

Neste cenário, questões precisam ser levantadas. Esta migração da zona rural para a cidade foi planejada, ou foi difusa ocupando espaços sem estrutura básica nas cidades? Este ciclo migratório no século XXI continua? As cidades têm estrutura para continuar recebendo este contingente? Há disponibilidade de empregos? Existe uma ação efetiva para fixar o trabalhador no campo e estimular a agricultura familiar? Como é gerida a produção no campo? Quais os cuidados ambientais com solo, água e ar? Predomina a produção com sementes transgênicas? Quais os tipos de agrotóxicos utilizados? O desmatamento está sendo duramente coibido?

Uma vez que o produto foi colhido. Quais as formas de transportes escolhidas para fazer o percurso campo-empresa? Existe uma malha ferroviária robusta que de conta do escoamento da safra? Nossos portos e ferrovias se modernizaram? Ou ainda continuamos utilizando ultrapassados portos e ferrovias privilegiando o transporte de carga por caminhões, que além de ser mais caro, deixam as rodovias estranguladas e mais perigosas?

O setor produtivo respeita e estimula seus funcionários e sua comunidade através de valorização do trabalhador e investimento na cidade exercitando sua função de responsabilidade social? A empresa que processa este alimento trata seus efluentes? Atua a partir do princípio da responsabilidade social? Respeita a legislação trabalhista? Há trabalho escravo ou infantil envolvido na produção ou na obtenção de matéria-prima?

Mais uma questão, onde é depositado o resíduo do meu consumo?

São algumas questões que devem ser respondidas pelas empresas, governos, órgãos responsáveis pela fiscalização, normatização e regulação, e, compreendidas pela sociedade como fundamentais para a gestão inteligente e eficaz de sistemas.

Quando a sociedade ignora todo este processo passa a dar um cheque em branco para que os nossos governantes façam a gestão do modo que lhe convier. Que atualmente, em muitos casos, é praticada de forma acéfala e baseada em conluios partidários e incompetência administrativa, que privilegia decisões políticas e não técnicas. A má gestão de um sistema traz prejuízos avassaladores para toda a sociedade, pois não há ganhos, apenas perdas. Na realidade, quem ganha neste processo são apenas alguns empresários que ficam mais ricos e governos que não são cobrados por sua incompetência administrativa. Um exemplo, quando há perda em um setor por má gestão o prejuízo é certo, são milhões e/ou bilhões perdidos que poderiam ter sido investidos para a melhoria da logística que engloba todo o ciclo produtivo que abarca não apenas os aspectos socioambientais, mas também socioeconômicos, sociopolíticos e socioculturais.

Quando há incompetência administrativa, o que era para ser revertido em bem comum, passa a ser prejuízo - perda, onde dinheiro que deveria ser investido em logística ou saúde, educação, saneamento é jogado no ralo. Para compensar este problema, mais imposto é sugado da sociedade para cobrir lacunas, ou seja, perde-se duas vezes. Na realidade se perde infinitamente, pois imposto em nosso país além de ser retido na fonte é cobrado em cascata.

Quando nossa sociedade não reflete sobre todo este sistema, a vida de nossos políticos - que administram nosso país de forma acéfala e que privilegiam a ocupação de cargos de gestão, distribuindo cargos de decisão baseados em conluios partidários, compadrios e militância, em detrimento da eficiência e competência administrativa de técnicos de carreira – fica um tanto quanto fácil, pois eles não prestam contas de sua incompetência. Então qual a vantagem - para governos que querem se perpetuar no poder, custe o que custar – em educar e dar cultura para um povo? Um povo que tem habilidade e competências para compreender o contexto e complexidade de temas tão significantes para suas vidas como estes, jamais daria vida fácil para partidos políticos e políticos corruptos e/ou incompetentes e/ou incapazes como brotam, aos montes, hoje em dia.

A gestão em nosso país não é tratada como algo imprescindível e vital para a real qualidade de vida para os brasileiros. Pois gestão deve ser pensada e efetuada por pessoas competentes e não por políticos incompetentes que não são preparados para os cargos. Agora reflitam sobre a sua cidade e em todas as demandas – saúde, educação, segurança, manutenção de ruas, gestão do campo, gestão dos resíduos sólidos, moradia, saneamento básico, projetos estratégicos criados que visem a captação de recursos, planejamento de médio e longo prazo, entre outros - pensem nos agentes públicos responsáveis por estas demandas, eles têm competência para dar “conta do recado”?  Prefeitos, vereadores, secretários e diretores que ocupam cargos administrativos em sua cidade, algum empresário, em sã consciência, os colocariam para ser gestor em sua empresa? Agora transcendam esta questão para o estado e federação.

Que país pode efetivamente ter uma gestão competente quando se privilegia a politicagem em detrimento da competência administrativa? A resposta é fácil, NENHUM! Entendeu por que é mais fácil criar novos impostos e/ou aumentar a alíquota dos já existentes? Pagamos impostos de primeiro mundo e recebemos serviços de países de quinto mundo! Isso porque toda esta dinheirama é mal gerida, simples assim. Pagar imposto, hoje, em nosso país é como jogar água em um balde furado, por mais que você aumente o fluxo de entrada, sempre haverá perdas, pois em lugar de arrumar todos os furos (uma radical reforma estrutural), preferem tapar um ou outro furo e colocar mais água (impostos), isso é insano, ilógico, incompetente, para dizer o mínimo.


Sobre a autora | Isabel Cristina Gonçalves é Adamantinense, Oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental. Atualmente trabalha como pesquisadora, Pós-Doutoranda, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: "Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação - REDELITORAL NORTE SP".
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