Adamantina – Terra dos absurdos!
O retrato da cidade e seu conjunto de perguntas ainda sem respostas.

Sabemos que as prefeituras estão em quase estado de penúria, muito devido ao estrangulamento promovido pelo governo federal e estadual, e para piorar o cenário, no caso de Adamantina e região, há nenhuma, ou pouquíssima força política, pois, por estas bandas não conseguimos união para eleger deputados, nem estadual, o que dirá federal, mas muito dessa “miséria”, também, é consequência administrações incompetentes, obtusas, fisiológicas e clientelistas.
Infelizmente nossos políticos se acostumaram a governar com o que tem, não estão “habituados” a buscar novos recursos e investimentos e “quando as torneiras secam não sabem de onde tirar água”, este pequeno detalhe separa os grandes gestores dos incompetentes. Outro grande problema (devido ao clientelismo, fisiologismo e apadrinhamento) é que sujeitos despreparadas assumem a chefia de secretarias estratégicas, além de uma máquina extremamente inchada. Há um sucateamento estrutural e também humano, isso é grave e precisa ser revertido, mas para tanto, a população precisa entender este processo e começar a fazer seu papel, que é o de não apenas exigir que a “coisa” certa seja feita e fiscalizar, mas acima de tudo, entender todo este processo e sacudir a cena política partidária.
Pois é, meus caros, infelizmente nossa sociedade não consegue atribuir responsabilidades, isso acontece porque não compreende o que é função do cidadão, da federação, do estado e do município, por não participar da vida pública da cidade, por ser subserviente a qualquer autoridade política como se fossem seres superiores e não o que realmente são, agentes públicos que ocupam cargos públicos para servir a população e não se servir da população.
E tem mais, os vereadores de Adamantina estão por aí, são 9, alguns deles há muito tempo, quem deveria acompanhar de perto – trabalho deles – as contas da cidade certamente conhece a realidade gestora e financeira do município, portanto é inadmissível que tenham permitido que as coisas chegassem a este ponto, São também responsáveis, é também inaceitável que depois que o caldo esteja derramado alguns se arvorem e passem a criticar de forma veemente e visceral, mas pergunto, por que não atuaram antes?
Em poucos dias assistimos um prefeito ser afastado do cargo, o vice-prefeito ser empossado, a dissolução “com custos aos cofres públicos” do antigo secretariado, um novo secretariado composto, para novamente assistir ao prefeito ser recolocado no cargo. É um tanto quando difícil compreender que em pleno século XXI, carregado de novas idéias inovadoras, no que tange a gestão pública e privada, ainda se pense e governe uma cidade como há décadas atrás, com uma política voltada para dentro, baseada na antiga e ultrapassada governança provinciana que privilegia grupos em detrimento de uma visão mais ampla de gestão. Adamantina definha a olhos vistos sem que haja inteligência para reverter o este triste fato, sem planos de gestão, investimentos e ações em curto, médio e longo prazo.
Pergunto o que deveria motivar uma mulher e um homem que se candidatam a ocupar um cargo público? Prefeitos, vereadores, secretários, diretores, cargos de confiança, concursados? Nada mais e nada menos do que servir o público com qualidade e correção. Espera-se de pessoas públicas a grandeza de grandes homens, não a covardia de meros oportunistas que se apropriam do público para benefício pessoal ou como cabide de emprego. É inadmissível, triste e revoltante que em uma cidade pequena como Adamantina o público seja uma forma de garantia de emprego, dessa forma muitos que não tem a mínima ligação, habilidade, competência ou aptidão, ocupam cargos simplesmente porque são bons cabos eleitorais. Qual o custo para a cidade? Qual o custo para a população?
Vivemos tempos tão negros e de uma amoralidade e falta de ética ímpar que trabalhar em benefício próprio ou de grupos, nem causa vergonha nos agentes públicos. Só em um mundo onde nossos agentes públicos e população perderam o sentido de cidadania e política, só em uma cidade onde a cultura e a educação não são prioridade. A prioridade número um deveria ser desinchar uma máquina gigantesca, acéfala, ineficiente e inoperante. Não, isso não é demagogia, é o que fariam as grandes mulheres e homens públicos, aqueles que se candidatam e ocupam cargos para servir ao público e não se servir do público. Uma cidade pequena como Adamantina paga muito bem seus secretários prefeitos e vereadores, mas não tem recebido em troca a competência gestora. Nada mais natural que estes agentes públicos sejam cobrados. Em tempos de crise, medidas extremas e inteligentes precisam ser tomadas, que sejam então, baseadas na inteligência, competência, e planejamento.
Infelizmente alguns grupos ocupam o poder com o compromisso de fazer bem a seus “pares” e não a sua cidade e população. Uma administração destrói o que a outro começou com raras exceções - não há continuidade e o que havia sido feito de bom é destruído sem nenhum compromisso ético, tudo para que a placa não leve o nome do outro.
Basta, se não há nesses senhores a mínima ética administrativa, que ao menos a população entenda que administrações são feitas de continuidade, matem-se o que foi bom e refaz o que estava ruim, mas nenhuma cidade sobrevive quando a cada 4 anos grupos se sucedem tentando redescobrir a roda, simplesmente porque isso trará mais benefícios políticos e financeiros para seus grupos. Isso simplesmente é indigno, imoral e deveria ser punido não apenas pelas urnas, mas também pela justiça, se houvesse justiça para crimes do colarinho branco neste país. E eu computo crime do colarinho branco não apenas o roubo descarado do erário público, mas também a incompetência explicita e a implícita, também!
O que pensar se no quintal do eleitor - onde ele pode atuar e propor mudanças com mais “facilidade” por estar mais próximo - ele não consegue perceber quem são e o que fazem, ou deixam de fazer os agentes públicos? Fazer o que para que este eleitor, que não entende o que se passa em sua cidade, compreenda o cenário municipal, estadual e federal e toda a complexidade política que o envolve em todas as esferas?
Meus caros pensem nos candidatos que virão, na composição política da câmara e da prefeitura, pensem nos problemas da cidade e agora transcendam para o governo do estado e federal. O problema, é o nosso sistema político partidário, são os sujeitos que orbitam na esfera do poder entra ano e sai ano, que não trazem nada de novo, apenas carregam os mesmos vícios do passado, políticos que usam do poder como status ou para impulsionar suas vidas pessoais se servindo do bem público e não servindo ao público, se são probos, em sua maioria, são arcaicos, incompetentes e retrógrados - apenas a boa vontade não faz um grande político - dá para contar em "dedos de uma mão" quem se salva em nosso cenário partidário, infelizmente. Enquanto nós não entendermos isso, continuaremos sendo as vítimas passivas desse sistema mórbido de dominação e poder.
Convido você, através de algumas questões, buscar conhecer um pouco melhor nossa cidade. Creio que todos nós gostaríamos de saber um pouco mais sobre Adamantina... Mas, para tanto, precisaremos saber as respostas.
Vamos lá... O Prefeito de Adamantina é do PSDB, a câmara de vereadores é composta por: 1 vereador do PV, 1 do PR, 1 do PT, 1 PSDB, 1 do PSB e 4 do DEM, total de nove vereadores! Esta é a composição do cenário de poder da cidade.
Como “vive” a cidade governada por estes partidos?
De onde vem o dinheiro que financia a Administração pública: Do comércio? Da Agricultura? De indústrias? Da Usina? Da confecção? Qual a proporção arrecadada em cada setor da economia da cidade?
Quais foram os projetos alternativos - fora do orçamento anual - desenvolvidos pelo executivo? Quais a verbas “extra-orçamento” foi conquistada pelo executivo?
Quais as propostas do executivo foram criadas e estão em execução para atrair novos investimentos para a cidade?
Nestes três anos de governo, quais foram as realizações do executivo?
Quais promessas de campanha foram cumpridas? Quantas restam cumprir? Será possível cumpri-las até o fim do mandato? Se a resposta for negativa, por quê?
Quem são e o que - nestes últimos anos - fizeram para a cidade os vereadores eleitos? Quais os projetos aprovados e propostas?
Agentes públicos ligados à prefeitura estão sendo investigados, pelo Ministério Público Estadual. Por que a câmara de vereadores não se antecipou as estas denuncias?
A cidade sucumbiu a uma epidemia de dengue, com números avassaladores, prostrou significativa parcela dos munícipes (1 caso para cada 30 moradores) sem que o “estado de emergência” tivesse sido decretado pelo prefeito. Por que o estado de emergência não foi decretado?
O que está sendo feito, no âmbito da prevenção, para que nos próximos anos a cidade não seja mais vítima de uma epidemia de dengue? A mesma pergunta cabe a proteção dos cães e da população em relação à leishmaniose.
Por que ainda há obras paradas? Qual a previsão de conclusão?
Por que não foi possível conquistar uma AME para Adamantina?
Por que há mais de três anos não se consegue contratar um pediatra?
O grande problema do Parque dos Pioneiros. Por que ainda não há um projeto efetivo para solucionar os problemas do parque? Se há este projeto, porque ainda não foi colocado em prática? Se há negociações orçamentárias, a quantas anda? Qual a previsão para que as ações para a solução do problema sejam efetivamente colocadas em prática?
As mesmas questões para o estádio e ginásio interditados.
Por que foram escolhidos secretários que são moradores de outras cidades? O município carece de massa crítica capaz de assumir estes cargos?
Por que a prefeitura está tão inchada de cargos comissionados? Qual relevância desses cargos? Quem são e como atuam estes contratados? São essenciais e de atuação significativa e relevante para a administração da cidade?
Por que concursos públicos foram anulados por solicitação do Ministério Público?
Por que faltam remédios de distribuição gratuita?
Porque faltam máquinas, e ônibus que levam doentes para outras cidades carecem de manutenção?
Por que escolheram comprar um terreno que não constava no plano diretor para construção de casas populares? Ou, este terreno consta no plano diretor? Era de conhecimento das autoridades que parte desse terreno era em um Área de proteção Ambiental –APA? Se era do conhecimento do poder público qual a justificativa para comprar este terreno em sua totalidade, incluindo a APA? Por que esta compra foi aprovada pela câmara de vereadores por 7 votos contra 1. Qual é a justificativa dos vereadores?
Por que, em quase três anos de mandato da atual gestão, nenhuma casa popular construída?
Em relação a incrível história inacabada da Faculdade de Tecnologia - FATEC, aprovada no ano de 2012, por que passados tantos anos de sua aprovação as aulas ainda nem começaram?
Se havia um terreno pré-estabelecido, com infraestrutura e facilidade de mobilidade urbana e intermunicipal, por que não foi escolhido?
Se havia um plano de modernizar outras áreas da cidade, usando a FATEC como polo irradiador, qual foi a estratégia? Constava do plano diretor? De onde viriam às verbas para efetivar esta ação? Havia um plano de mobilidade urbana e infraestrutura com verbas definidas?
Qual o lugar escolhido para o funcionamento provisório da FATEC? FAI ou Madre Clélia? Se o Colégio Madre Clélia foi o escolhido, por que privilegiar um local onde há um custo mensal de 12 mil reais de aluguel. Já se a escolhida foi a FAI, haverá necessidade de arcar com as despesas da quebra de contrato com o Colégio MC?
A Usina, que outrora foi um “modelo” de segregação de lixo, hoje nada mais é do que um reflexo da cidade, uma caricatura do que poderia ter sido. Quando saio para pedalar e passo por um lixão da cidade, volta e meia o tal está em chamas, em combustão espontânea.
Por onde andará a CETESB? Por que este passivo não está totalmente coberto para evitar as ações dos agentes físicos? Por que a coleta seletiva de lixo não é feita com caminhão próprio e destinado apenas para este fim?
Quanto ao Aterro Sanitário - que foi construído no Bairro Boa Vista - quanto custa, mensalmente, para o município? Como é tratado o chorume? As células são devidamente isoladas de qualquer contato com o solo e ar? Por que não há uma campanha massiva para que a população recicle seu lixo, com devida coleta seletiva? Enterrar todo o lixo em um aterro sanitário, sem que haja a separação do lixo reciclável, diminui, praticamente, a vida útil do aterro em 2/3, as autoridades estão cientes disso?
Festas, muitas festas! Dinheiro em profusão para irrigar eventos com verbas “recebidas” do governo federal e estadual, para bancar artistas de “extrema relevância” para a cultura nacional. Por que privilegiar shows de determinado estilo musical? Por que não buscar alternativas de outras atividades culturais para cidade com a mesma assiduidade que a de shows?
Precisamos compreender os meandros do poder da cidade e seus agentes, conhecer intimamente as propostas dos candidatos e cobrá-los, saber também sobre a composição política da câmara de vereadores e da prefeitura, refletir e problematizar as “motivações” políticas e também sobre as potencialidades e problemas da cidade.
O problema, infelizmente, está enraizado em nosso sistema político partidário, ocupados por sujeitos que orbitam na esfera do poder entra ano e sai ano, que não trazem nada de novo, ou muito pouco, apenas carregam os mesmos vícios do passado. Infelizmente muitos políticos usam do poder como status, para impulsionar suas vidas pessoais ou dos “seus”, se servindo do bem público e não servindo ao público, se são probos, infelizmente, muitos, são arcaicos, incompetentes, retrógrados, pouco inovadores e nada visionários - apenas a boa vontade não faz um grande político. Há no município, sim há, políticos sérios, comprometidos e atuantes - antigos políticos e jovens políticos - mas estes devem ser maioria, nunca a minoria. Enquanto nós não compreendermos todo este processo, continuaremos sendo as vítimas passivas desse sistema de poder.
Sobre a autora | Isabel Cristina Gonçalves é Adamantinense, Oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental. Atualmente trabalha como pesquisadora, Pós-Doutoranda, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: "Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação - REDELITORAL NORTE SP" | Acesse aqui o perfil de Isabel Gonçalves no Facebook.