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Adamantina e o Xisto. Vocês sabem o que é Fracking? Deveriam saber!

É importante a comunidade local ficar muito atenta, pois além da absurda quantidade de água utilizada no processo de extração do gás, há sérios riscos de contaminação da água subterrânea.

Por: Isabel Gonçalves
Adamantina e o Xisto. Vocês sabem o que é Fracking? Deveriam saber!

É importante a comunidade local ficar muito atenta, pois além da absurda quantidade de água utilizada no processo de extração do gás, há sérios riscos de contaminação da água subterrânea.

Eu fiquei surpresa, de forma extremamente negativa, com a condução de alguns temas no Estado de São Paulo, principalmente no que tange questões socioambientais e socioeconômicas. E nem estou me referindo ao gravíssimo problema da água em São Paulo, mas sim da gestão socioambiental e socioeconômica de regiões do interior de São Paulo.

Posso afirmar, sem medo de errar, que a nova alta paulista está abandonada, talvez porque não tenha força política, afinal são apenas dois milhões de eleitores em um universo de aproximadamente 40 milhões, afinal o que representa para os políticos do estado 5% de votos?

Talvez por eu ter morado tanto tempo em um lugar que se respira gestão socioambiental e as exigências socioambientais e socioeconômicas de órgãos públicos sejam muito severas e quando não o são, estes órgãos são muito cobrados (e olha que nem assim a coisa funciona como deveria, havendo imensos gargalos), eu estou muito chocada com o que se passa no estado de São Paulo.

Vejo regiões sendo exploradas e dizimadas e nenhuma contrapartida é designada para a sociedade, talvez por isso o estado esteja vivenciando um crise tão grande. Não há gestão inteligente no campo, não há visão estratégica de modernização e aperfeiçoamento da malha de transporte. Há estradas maravilhosas, mas a um custo altíssimo de pedágios. Cortando todo o estado havia, ha 3o anos atrás, um malha ferroviária robusta que foi destruída por estes governantes incompetentes e corruptos que cederam a lobbies.

Que futuro há para o interior quando a mais econômica e segura forma de transporte de carga e humana foi destruída para dar suporte a conluios? E o que estava por trás disso? Um sistema de corrupção, de beneficiamento de uma parcela de empreiteiras construtoras de estradas, de consórcio de pedágios, empresas de ônibus, montadoras de carros. E ninguém será responsabilizado por isso, destruiram todo um canal de acesso que dava suporte ao interior para beneficiar pagadores de campanhas, empobrecem todo uma região e simplesmente nada aconteceu com os responsáveis, pior, a população sequer se dá conta disso.

E quando uma parcela da sociedade nem se dá conta dos problemas e seus agentes e, uma vez que não percebe a complexidade do problema, não participa de forma ativa cobrando soluções de seus representantes.

O que restou para o oeste empobrecido do estado de São Paulo? Cana e presídios, uma região que já foi pujante e hoje amarga um declínio absurdo. Esta região sofre com as agruras do clima, da péssima estratégia de gestão do campo, da desindustrialização, da incapacidade de seus gestores, da politicagem e de uma total ausência de estratégia conjunta entre as cidades da região para lutar por mais investimentos, se contentam com migalhas do governo estadual e federal.

Afinal, quando você pensa em São Paulo vem em sua mente algum tipo de avanço, mas não, vivemos um ocaso do pensar complexo e do conhecimento. Em Adamantina há um parque, que está simplesmente afundando, pois houve corrosão das tubulações.

Por onde anda a fiscalização ambiental dos órgãos responsáveis do município e estado?

É triste você ver toda uma região definhando e mais triste ainda é constatar a apatia política. Há muito que ser feito, mas como se a região dormisse em berço esplendido a “elite” política se comporta como se não houvesse nada para que lutar!

Faz certo tempo, para minha surpresa, ao ler um jornal local vi que nesta região há blocos de estudos para uma, talvez possível, exploração de gás de xisto. O processo foi embargado pelo Ministério Público, devido a diversas irregularidades. Sabemos como funcionam as coisas neste país e interesses da população, principalmente quando está em jogo energia,  são atropelados e açodados por vontades escusas. Não sei se este projeto foi abandonado de vez, pois ao baixo preço do Petróleo e o alto custo da extração do xisto, o que inviabilizaria este processo. Mas em algum momento o preço do Petróleo voltará a subir e o xisto poderá voltar a ser viável.

O País vive um grave problema energético que tende a se agravar, portanto o gás extraído do xisto será muito importante para um governo desenvolvimentista e que não respeita e solapa direitos dos cidadãos em nome de um tal “bem maior”. Sabemos como as “coisas” são conduzidas, nestes processos apressados o bem comum da sociedade nunca é levado em conta.

Infelizmente conhecemos muito bem como são feitas estas coisas, sempre de forma apressada e impositiva. No cenário nacional atual, há necessidade do governo por energia, ainda mais com o pré-sal em baixa e, soma-se a isso a nova alta paulista precisando desesperadamente de novas fontes de recursos, a tendência é fazer tudo a toque de caixa não se importando muito com a população e quando a sociedade local se dá conta o estrago já está feito.

Há necessidade que a sociedade fique alerta - se o projeto estiver apenas “dormente” - que exija estudos minuciosos, criteriosos, corretos e sérios. E o principal, a população precisa ser envolvida e se envolver! A extração de gás do xisto é um processo caro e extremante poluente, mas em um cenário de deficiência energética é muito atraente para o governo estadual e federal.

Os EUA são hoje autossuficientes em energia devido ao xisto. Um dos motivos para o baixo preço do petróleo no cenário mundial, é devido a estratégia de países produtores para tentar derrubar a extração de xisto dos EUA (muito cara a extração, ainda mais cara que o pré-sal), dessa forma os EUA voltariam a exportar petróleo de países produtores como a Arábia Saudita.

Mas voltando ao processo de extração, é importante a comunidade local ficar muito atenta, pois além da absurda quantidade de água utilizada no processo de extração do gás, há sérios riscos de contaminação da água subterrânea. Mas o mais importante e que precisa ser premissa básica nesta discussão, nesta região se encontra parte do Aquífero Guarani. É importante ter em mente que a água de Adamantina, distribuída pela Sabesp, é oriunda de poços profundos.

Vejam este VÍDEO e reflitam sobre o grau de contaminação ambiental e no tanto de água utilizada no processo de extração chamado fracking.

Em época mudanças do clima, de calor extremo, de seca, não se iludam com a chuva, de rios secando, o quanto vale para uma região arriscar o bem mais precioso, água, em troca de gás, principalmente quando energias limpas, solar e eólica, substituiriam perfeitamente esta matriz energética?

Se a ideia de extração de gás de xisto voltar a tona, aabe à sociedade ficar atenta, participar de audiências públicas e cobrar rigidez nas análises ambientais realizadas - os EIA/RIMA. Pois no açodamento de governos, que se procupam apenas com o aqui e agora, toda uma sociedade pode perder, portanto este processo precisa ser EXTREMANTE BEM ENCAMINHADO e muito bem discutido, com a participação popular.

É importante que a população tenha em mente que um processo como este, se mal conduzido, pode ser extremamente danoso para sociedade, pois água é vida, em todos os sentidos e água contaminada contamina, polui e mata!

É imprescindível que os políticos da cidade tenham habilidades e competências para comandar este processo, que os órgãos fiscalizadores sejam compostos, também, por técnicos competentes. A população não pode ficar a mercê de vontades escusas, por este motivo precisa se apropriar da discussão e participar ativamente na tomada de decisão.

Pois meus caros, políticos criam o monstro e aí depois se dão conta que ele precisa ser alimentado e o povo? Ahhh o povo! Bem este que fique com o ônus. Afinal, para estes nossos gestores, que não conseguem pensar com contexto e não compreendem que gerir com sustentabilidade é muito diferente da gestão baseada no tal desenvolvimento “sustentável”, a população é um mero detalhe, não duvidem disso, lembrem sempre de Mariana.

Nos moldes desenvolvimentistas o sustentável não passa de um adjetivo que eles nem sabem para que serve. Quer dizer, convém, apenas e tão somente, para “vender” apenas a idéia. Eles provocam a diluição voluntária do termo, utilizam os substantivos abstratos como Gestão, Responsabilidade, Sustentabilidade, não observando um equilíbrio entre as dimensões e mesmo uma ponderação das atividades, provocando, assim, uma diluição conceitual, ou seja, há um desvio intencional da questão buscando uma melhor aceitação de um público, com crescente susceptibilidade às estas questões.

Qualquer obra faraônica antes de ser instalada precisa de estrutura, e esta estrutura está diretamente ligada a população, a seu bem estar, transporte, saúde, educação, segurança e saneamento básico, é direito constitucional básico. Fiquem atentos!

CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 1988

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações

Isabel Cristina Gonçalves é Adamantinense, Oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental. Atualmente trabalha como pesquisadora, Pós-Doutoranda, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: "Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação - REDELITORAL NORTE SP" | Acesse aqui seu perfil no Facebook.
 

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