A Epidemia de Dengue, e a leishmaniose e a chacina de cães
Isabel Gonçalves escreve sobre dengue e leishmaniose, e os desafios para o poder público e população no combate a essas doenças devastadoras.

Dois problemas me preocupam em demasia, um deles - porque já fui vítima e não quero nem pensar em pegar esta doença devastadora novamente – é a dengue, já o outro não menos inquietante, porque como a dengue, é provocado por um vetor, um mosquito, mas no caso o mosquito palha.
Desde o início da epidemia de dengue, não percebi nenhuma movimentação extraordinária que efetivasse conter o avanço da doença no município. Para minha preocupação, continuo não sentindo nenhuma ação neste sentido. O que é alarmante, pois em tempos de zika vírus e chikungunya, contar apenas com o inverno para conter estas doenças é temeroso. O mosquito Aëdes aegypti continua por aí, ameaçando e colocando toda a população em risco, já o mosquito palha, colocando não apenas a população, mas também, nossos cães.
O problema da dengue e leishmaniose é de extrema gravidade, são doenças devastadoras, que prostram o sujeito e também, podem matar! Dessa forma é imperativo que haja uma participação efetiva e harmônica entre o poder público e população para minimizar as ameaças e riscos, não apenas na busca por soluções em tempos de crise, mas durante todos os dias do ano. O caso da leishmaniose, por exemplo, ilustrou o quanto este problema pode ser visto de forma simplista, pois a ação dos gestores foi baseada na chacina de cachorros, enquanto o problema principal não estava no hospedeiro, mas sim, no vetor, o mosquito palha!
O cidadão precisa questionar
Os mosquitos transmissores de doenças são a causa? Quem deve ser duramente e arduamente combatido, no caso da leishmaniose, por exemplo, o mosquito ou os cães? Infelizmente a gestão (federação, estado e municípios) simplista desse grave problema intentou nos fazer acreditar, que matando os cães acabariam com a doença, ora senhores é necessário erradicar o transmissor, ou seja, o mosquito! Ah, mas isso demanda mais trabalho, não é? Mas as autoridades responsáveis por este problema estão aí para trabalhar e procurar soluções inteligentes para todos estes problemas, qualquer ação simplista deve ser duramente questionada, criticada e combatida pela população, que precisa exigir ações de prevenção em curto, médio e longo prazo. É importante considerar que em tempos de crise e falta de recursos, quando se atua na prevenção, se gasta menos com a remedição.
O orçamento do município precisa ser gerido de forma inteligente, eficiente e que vise o bem estar da população, bem estar social, cultural, ambiental... Para erradicar estes vetores da dengue e leishmaniose é imprescindível e imperativo que haja uma gestão inteligente e integrada entre várias secretarias que compõem administração da cidade.
Havia na cidade um trabalho, que em minha opinião era fantástico, que consistia na distribuição gratuita da coleira Scalibor (colocadas nos cachorros e altamente eficiente como repelente do mosquito palha), a colocação de chip nos cães, além de um controle de todo este processo pelas autoridades. Pelo que me foi dito, este foi um projeto idealizado e desenvolvido por um estudante de biologia que trabalhava no grupo de controle de vetores. Este projeto e ação foram considerados modelo para todo o estado e consequentemente, amealhou recursos para sua implementação.
Não sei o nome do idealizador de tão maravilhoso projeto que é prova inequívoca de que boas ideias trazem recursos e dão, sim, resultados. Mas infelizmente, em nosso país, o que é bom dura pouco e, esta ação foi desmantelada. Consequentemente o município voltou a estaca zero na prevenção a leishmaniose, uma vez que a epidemia de dengue nos mostrou que o combate ao vetor está sendo ineficiente, ou seja, a ameaça (mosquito) continua por aí, colocando a população e os cães em risco.
É imperativo que as autoridades sanitárias do município procurem refazer este convenio, ou criar outro do tipo de ação para buscar recursos. A coleira Scalibor é cara, portanto pouco acessível à significativa parcela dos munícipes, ainda mais em tempos de carestia, aumento de tarifas públicas, inflação e defasagem no valor dos salários. É hora do poder público se manifestar e buscar formas e recursos para conter estes problemas, pois é inadmissível que a cidade volte a ter uma epidemia de dengue, ou que cheguem por estas bandas zika vírus ou chikungunya, ou mesmo que os cachorros da cidade sejam submetidos a uma nova chacina em decorrência a imobilidade e incompetência das autoridades para atuar na prevenção desse problema.
Sobre a autora | Isabel Cristina Gonçalves é Adamantinense, Oceanógrafa, Mestre em Educação e Doutora em Educação Ambiental. Atualmente trabalha como pesquisadora, Pós-Doutoranda, pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no projeto: "Mudanças climáticas globais e impactos na zona costeira: modelos, indicadores, obras civis e fatores de mitigação/adaptação - REDELITORAL NORTE SP" | Acesse aqui o perfil de Isabel Gonçalves no Facebook