Por que não era boato o fechamento da Escola Grion?
Imprensa vazou, comunidade se mobilizou e autoridades voltam atrás.

As últimas duas semanas foram marcadas pela notícia sobre o fechamento da Escola Estadual Durvalino Grion, o que a Secretaria Estadual de Educação (SEE) convém nominar sutilmente como “disponibilização do prédio”. Mesmo que se destine a outras finalidades, em palavras práticas, é fechamento sim.
A decisão interna havia sido tomada, e foi noticiada com exclusividade pelo SIGA MAIS. Mesmo com negativas dos representantes da SEE, as informações apuradas pelo portal de notícias permitiram aglutinar elementos suficientes para a divulgação da informação. O que era até então expectativa e medo, “vazou” para além dos gabinetes de decisões.
Internamente a Escola viveu um drama silencioso e contido, diante das informações que chegaram aos seus representantes, sobre o desenrolar da reorganização escolar em curso, e seus impactos na dinâmica das escolas púbicas estaduais de Adamantina.
A mobilização se deu, oportunamente, após a divulgação da notícia de fechamento da Escola, pelo SIGA MAIS. Primeiro a indignação, pelas redes sociais. Depois, as primeiras manifestações que invocavam a necessidade de a comunidade, como um todo, se mobilizar. E isso se fez. Rapidamente os mais engajados se organizaram e foram às ruas, e um abaixo-assinado agregou mais de 3,5 mil assinaturas, pedindo a permanência da Escola.
A representação política se juntou à mobilização comunitária. E com as assinaturas embaixo do braço, prefeito e deputado estadual, do PSDB, se reuniram com o Secretário Estadual de Educação, e de lá, foi tomada e anunciada a decisão pelo não fechamento – ou a não disponibilização – da referida unidade escolar.
Inoportunamente, o Secretário Estadual de Educação tentou desqualificar a informação sobre o fechamento da escola, e disse se tratar de boatos. O Prefeito Municipal engatou no mesmo discurso. O que também foi endossado pelo deputado estadual que advogou a causa.
O que foi divulgado, todavia, que sinalizava o fechamento da Escola Grion, não era boato.
O pronunciamento do vereador Hélio Jose dos Santos, na sessão da Câmara Municipal, em 19 de outubro passado, foi esclarecedor e confirmou que havia decisão tomada, pelo fechamento (ou “disponibilização”) de uma escola estadual em Adamantina.
Hélio tem informações privilegiadas, já que é supervisor de ensino na Diretoria de Ensino de Adamantina, e atuou de maneira direta no tema, sobretudo na reunião de aspectos e argumentos técnicos que defendessem a permanência da unidade escolar em funcionamento.
Dentro da reorganização escolar, várias informações foram levantadas em âmbito local e apresentadas à SEE, onde reside o núcleo de decisões, ficando estabelecido que a “disponibilização” atingiria uma escola local, e pelas características da Escola Grion, e das outras duas – Helen Keller e Fleurides – a menor delas seria diretamente atingida.
O Secretário Estadual de Educação permitiu que a Diretoria Regional de Ensino de Adamantina fizesse uma contraproposta, devidamente e tecnicamente argumentada, o que foi feito pelo supervisor de ensino Hélio José dos Santos e outros dois supervisores de ensino, como ele mesmo revelou, na condição de vereador, no plenário da Câmara Municipal.
Hélio disse em 19 de outubro que o levantamento de informações teria consumido cerca de duas semanas, objetivando compor o projeto que organizasse a utilização e funcionamento das três escolas estaduais locais, ou seja, Durvalino Grion, Fleurides Cavalini Menechino e Helen Keller, sem o fechamento de qualquer uma das unidades de ensino. “A Secretaria Estadual de Educação não aceitou, de forma objetiva, e disse: vocês têm três escolas e somente deverão permanecer duas. Uma delas é o Fleurides. Aí vocês escolhem entre Grion e Helen Keller. E a Diretoria Regional de Ensino disponibilizou a Escola Grion”, disse Hélio.
Ainda segundo Hélio, a argumentação para tentar reverter a decisão, agora, deveria se dar no campo político. “Começa outra luta que envolve os agentes políticos”, disse, o que de fato ganhou novos contornos semana passada.
De repente, após essa exposição, e considerando a credibilidade da fonte, por ser parte da estrutura administrativa da Diretoria Regional de Ensino, começou de fato a mobilização política.
Diante do exposto, o conjunto de falas – anunciadas em coro, ditas pelo Secretário Estadual da Educação, pelo prefeito e pelo deputado estadual que advogou a causa – desmereceu todo o esforço da comunidade, que se mobilizou, ganhou espaço e visibilidade, sendo assim merecedora de todo o mérito. Esse recurso foi determinante para a tomada da decisão política.
Se o tema fosse apenas fruto da boataria, uma palavra oficial, no início, teria colocado um ponto final definitivo nisso, sem desgastes, sem sofrimento, sem preocupações, e sem uma mobilização comunitária e política nas proporções vistas.
Assim, se o tema não tivesse sido vazado pela imprensa, a decisão seria mantida e conhecida quando estivesse no âmbito do “agora não dá mais tempo de fazer nada”, já no território das impossibilidades. Porém, e em tempo, foi possível reverter e saber que em 2016 a Escola não será fechada.
Sobre o autor | Acácio Rocha é jornalista, diretor de conteúdo do Portal Siga Mais. | Acesse aqui sua fanpage.