A cidade e o preço de uma escolha errada
O que fica é o vazio institucional, a atuação decadente e o retrocesso.

O desfecho trágico da gestão do prefeito cassado Ivo Santos (PSDB) mostra o preço de uma escolha errada, de uma proposta de governo populista, que prometeu de maneira fácil e simplista os avanços necessários, mas não trouxe os caminhos para isso. Passados três anos, sequer deixou sementes. O que fica é o vazio institucional, a atuação decadente e o retrocesso.
Adamantina viveu, desde janeiro de 2013, um governo agonizante, desencontrado e de múltiplos interesses internos, sobretudo a disputa por espaço e vantagens, por meio de nomeações diretas e indiretas de parentes e o loteamento de oportunidades. A campanha política custou muito. Precisou ser paga aos colaboradores, e cada um fez a retirada, como quis.
O que se viu, se deu – sobretudo – pela iniciativa do Ministério Público, que investigou e despertou as demais instituições, entre as quais o Poder Judiciário e o Poder Legislativo. Já o Poder Executivo, saqueado, desinteressadamente – intencionalmente ou não – nada fez. Minimamente apurou a atitude do então secretário municipal de finanças. E se houvesse interesse objetivo de se aprofundar na apuração, teria feito.
Porém, o risco de morder o próprio rabo pôs medo. Qualquer apuração mais detalhada poderia revelar o que o próprio Poder Executivo queria esconder, e hoje aponta o dedo e joga o peso da culpa ao ex-secretário, sobre quem teve a oportunidade de apurar, internamente, bem como denunciar qualquer conduta irregular, na salvaguarda do interesse público. Mas o dirigente público não fez, e não adiantou gritar agora, aos prantos, ao final do desgoverno decadente.
No transcurso das investigações realizadas pela Câmara Municipal, o próprio investigado tentou trazer o ex-secretário, na condição de testemunha de defesa. E na oportunidade de dizer algo, e se defender, e defender o prefeito, nada disse. O que, então, fez calar-se?
Aquele que era peça-chave na defesa do investigado, foi chamado de criminoso, rompendo uma atuação que até então parecia estar alinhada – o que justificaria a condição do ex-secretário como advogado de defesa –, passando a apontá-lo como alguém que criou um enredo para enganar ao prefeito, aos demais funcionários, e cometer um crime. Se até pouco antes era visto como testemunha de defesa, por que deixou de ser?
As peças desse quebra-cabeça, juntadas, podem revelar o jogo. A apuração da infração político-administrativa responsabilizou e penalizou o prefeito. Já a apuração que tramita junto ao Poder Judiciário, pode eventualmente evidenciar uma ação criminosa – fora a possível admissão da improbidade administrativa – e implicar em novos desdobramentos.
É esse peso futuro que pode ser a diferença, e mostrar que a cidade eventualmente possa ter sido cenário de um enredo criminoso, cuja uma única ação sob investigação – a exemplo da Operação Lava Jato – pode vir a revelar outras conexões locais, em uma rede de interesses costurada nos bastidores da campanha política, onde muitos – com seus próprios interesses nas oportunidades que se abririam – fizeram o papel do diabo, a quem foi vendida a alma, em um contrato assinado tendo uma cidade inteira por testemunha.
Ao final decadente, o que se viu na Sessão da Câmara Municipal foi uma sessão de julgamento de um acusado sozinho, e o único que ajudou a elegê-lo e estava presente, era quem fazia as maiores acusações. Com uma defesa desastrosa, teatrista e sem qualquer estratégia para o convencimento, ampliou ainda mais a fragilidade da verdade que propunha trazer, nos autos do processo e no plenário, e não foi vista.
A cidade, inteira, ainda espera por respostas, e neste caso, qual responsabilização pode recair ao ex-secretário de finanças? E sobre outras aventuras (des)governamentais, também quer saber: Cadê o balanço da ExpoVerde? Cadê as 98 casas populares já autorizadas pela CDHU? Cadê o selo Município Verde-Azul? Cadê a pavimentação e recapeamento asfáltico já contratados e não executados? Cadê Fatec que já poderia estar na sua segunda ou terceira turmas? Cadê os medicamentos no Centro de Saúde?
Enfim, Adamantina vive hoje as suas escolhas e consequências.
Que a cidade saiba escolher melhor.