Sociedade

Redes sociais e milhares de dados: será que ainda estamos conectados?

Desde o início dos anos 2000 muita gente se diverte ao postar mil coisas, mas será que estamos realmente conectados uns com os outros?

Débora Nazari | Cientista social, jornalista, escritora e adamantinense | nazaridebora@gmail.com Colunista
Débora Nazari | Cientista social, jornalista, escritora e adamantinense | nazaridebora@gmail.com
(Foto: Rob Hampson em Unsplash). (Foto: Rob Hampson em Unsplash).

Já faz algumas décadas desde que ouvimos pela primeira vez a tal história do bug do milênio. Quem aqui era grande o suficiente para se lembrar da propaganda clássica do “Os anos 2000 vem aí”, não imaginaria o novo paradigma que as redes sociais estariam criando em nossas vidas. Não teve bug no sistema, mas teve bug nas comunidades virtuais. Segundo o sociólogo Barry Wellman comunidades “são redes de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação, um senso de integração e identidade social”. Seja ela real ou virtual, acabou que desde a virada para os 2000 nós nunca mais fomos simples pessoas na Internet, nós criamos a sociedade em rede, mas ainda pecamos no senso comunitário e no entendimento de um “nós” perante um “outro”.

Um assunto que tem sido pauta constante este ano desde a vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é a questão da nossa privacidade e direitos sobre nossos dados. Mas afinal, o que são dados? Sabe quando interagimos com tecnologias digitais? Isso deixa um “rastro” digital, como um post no Facebook ou as informações armazenadas no app do banco. Por isso, cada um de nós cria, multiplica e deixa dados por aí, mas isso não quer dizer que eles estão seguros. A lei é importante para garantirmos nossos direitos de usuários digitais, pois o que você posta é sua responsabilidade, assim como quando uma empresa pede para você preencher um questionário com os seus dados para receber ofertas.

Foi com essa gigantesca leva de dados que produzimos e coletamos todos os dias, principalmente desde o surgimento das populares redes sociais nos anos 2000, que muita gente está de cabelo em pé quando o assunto é manipulação no mundo online. Quem aqui assistiu o documentário O Dilema das Redes na Netflix, sentiu o drama da captação e uso desses dados de forma indevida, como se o ser humano fosse um bonequinho altamente influenciável pelas grandes corporações.

Como em todo documentário a neutralidade não existe, o ponto de vista da conspiração das grandes empresas digitais mais assusta do que informa, entretanto os usuários precisam estar atentos ao uso que fazem das redes sociais, muito mais hoje por motivo de saúde mental. A bela crítica que o filme nos traz da área de Growth Hacker (uma forma de alavancar o crescimento do negócio) das empresas nos dá um alerta com simples questões: Será mesmo que precisamos consumir tanto? Será que esse post patrocinado está me influenciando? Será que esse algoritmo me mostrou o que eu queria ver ou que eu esperava ver? Muitas questões, muitos problemas.

Desde o surgimento dos nostálgicos ICQ, MSN, Orkut, MySpace, Fotolog e Blogger, nos sentimos livres para postar o que quiséssemos e ninguém nunca nos falou sobre para onde iam parar todos esses dados. Em um levantamento da Visual Capitalist em 2019 temos o assustador infográfico do que acontece na Internet em apenas 1 minuto, vamos aos números:

  • 1 milhão de logins no Facebook
  • 41,6 milhões de mensagens enviadas no Facebook Messenger e no WhatsApp
  • 3,8 milhões de buscas no Google
  • 4,5 milhões de vídeos assistidos no YouTube
  • 87 mil pessoas tuitando
  • 695 mil horas de vídeos assistidas na Netflix
  • 188 milhões de e-mails enviados

E para onde vai tudo isso?! Pois é, com o jarro cada vez mais cheio temos nos afastado uns dos outros no mundo real para nos mantermos conectados. Você pega o celular para ver as horas e pula uma notificação na tela, o que ia levar segundos se tornaram horas navegando em todos os app e você acabou não vendo as horas. O grande pensador sobre a sociedade em rede, Manuel Castells, afirma que “o maior medo das pessoas, contudo, é o medo mais antigo da humanidade: o medo dos monstros tecnológicos que podemos criar”. Nós não só criamos, como alimentados continuamente sem um filtro sobre o bom uso das redes sociais. Por isso os números do 1 minuto são assustadores, pois estamos online, mas não ouvindo uns aos outros. Estamos conectados em aparelhos modernos, mas desconectados de nós mesmos.

Reparou como vilanizar a tecnologia é o caminho mais fácil? Mas sabe quem é a cabeça por trás disso? Nós, os seres humanos! Precisamos (re)abrir o debate sobre o bom uso das redes sociais, não só pela publicidade crescente, mas por como isso está afetando nossas escolhas e a vida cotidiana. A Internet sim é um campo livre para criação de muitas coisas boas, mas nem tudo nela é saudável. Vale assistir o documentário, mas com consciência crítica e sem ficar mais e mais horas preso nas redes sociais.

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