Sociedade

Os relacionamentos modernos e a responsabilidade afetiva

A responsabilidade afetiva de ajuda e entender as questões do coração.

Débora Nazari | Cientista social, jornalista, escritora e adamantinense | nazaridebora@gmail.com Colunista
Débora Nazari | Cientista social, jornalista, escritora e adamantinense | nazaridebora@gmail.com
(Imagem: Debby Hudson em Unsplash). (Imagem: Debby Hudson em Unsplash).

Quem aqui nunca ouviu aquela expressão de “sorte no jogo, azar no amor” ou no período atual, “sorte no trabalho, azar no amor”? Nessa última década estamos passando por um momento muito interessante que é a questão dos relacionamentos em que as pessoas simplesmente não sabem se estão ou não numa relação. Muitas vezes estamos enrolados com alguém durante meses ou até anos, mas essa relação não tem nome ou então temos conhecidos que vivem relacionamentos abusivos ou mesmo que deveriam ter acabo a relação há tempos. No geral, as pessoas não saem dessa situação de sofrimento por questões variadas, como acomodação, status social, filhos pequenos ou porque não tem condições financeiras. Cada pessoa é uma pessoa, assim cada caso, também é um caso, mas assim, quem aqui já ouviu falar sobre responsabilidade afetiva?

Como lidamos com essa questão do coração do outro? Você é do time que ignora relações, ou que mergulha de cabeça ou aquele mais complicado que é o das pessoas que morrem de medo de se envolver com alguém? Já dizia minha avó Dona Irma, que fez promessa para Santo Antônio na nossa igreja matriz – Coração é terra que ninguém pisa – e não pisa mesmo, mas como tem ficado cada vez mais difícil entender esse órgão muscular que nos pulsa.

Responsabilidade afetiva é uma classificação moderninha, muito por conta da onda dos sites e aplicativos de relacionamento que surgiram desde os anos 2000, e ela fala em sobre o ter cuidado com os sentimentos do outro, sobre respeitar os acordos da relação e principalmente sobre manter a comunicação (não violenta de preferência) com o seu par. São coisas que deveriam ser simples e pautar todo um relacionamento, mas essa não é a realidade dos dias de hoje. Será que a oferta está muito grande nos aplicativos? Será que as pessoas estão tão acomodadas no “é seguro”? Será que são felizes sozinhas? Será que tem medo de se apaixonar? São muitas perguntas que deixam solteiros, enrolados e casados de cabelo em pé, mas vamos descomplicar!

Tem alguns anos que li um texto que dizia que ser solteiro no século XXI é uma experiência antropológica, completo que bem bizarra, porque as pessoas estão muito difíceis, individualistas e inalcançáveis. Se você for baixinha, sabe aquela situação de o produto que você precisa está na prateleira mais alta do supermercado, e aí você olha no corredor e não tem uma alma para te ajudar? É mais ou menos essa sensação de desamparo para pegar algo que permeia grande parte dos relacionamentos hoje em dia. A impressão que tenho sempre que escuto um relato dos amigos é que não se importar com o outro virou moda. Como se não demonstrar afeto, demorar 1 dia útil para responder o WhatsApp, ver todos stories e não chamar pra sair ou ainda vir com frases de para-choque de caminhão do tipo “não podemos nos encontrar, pois estou num momento de transformação” se tornasse o novo padrão para justificar a falta de resposta e cuidado com o coração do outro. Isso não é aceitável gente.

Eu poderia citar teorias, falar de amor líquido, trazer pensamentos profundos de psicanalistas ou mesmo tratados da filosofia, mas no fundo o problema é o ser humano que criou esse muro de concreto em torno do seu coração. Se você não se importa com uma outra pessoa e se importa menos ainda com os sentimentos dela, pode parar aqui. Responsabilidade afetiva é justamente sobre se ver no outro, como um espelho, e lembrar que todas as pessoas possuem histórias de vida e cada relacionamento será uma experiência diferente.

É extremamente cansativo e frustrante se envolver com alguém e ter que fazer uma lista de “Não coisas”, pensando que você vai cumprir etapas e ganhar um prêmio no final se der tudo certo dessa lista, quando deveria ser totalmente ao contrário. Se cada vez que vamos a um encontro, precisarmos nos monitorar com a lista mental, perdemos a naturalidade de quem somos e isso transparece uma falsa verdade. Já está tão difícil conviver em sociedade que não precisamos dessas amarras na vida pessoal.

Responsabilidade afetiva é sobre se importar com a outra pessoa, entender que ali vive um coração que provavelmente também tem muitas dúvidas e incertezas como você. Pessoas, se comuniquem uns com os outros, expressar o que sentimos, falar o que não gostamos, se colocar no lugar do seu par e respeitar o seu autoamor podem fazer com que a vida seja menos complicada e um dia repleta de boas histórias.

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Caro leitor (a): se você tem sugestões de pauta ou gostaria de falar com a colunista sobre o texto acima, envie um e-mail para nazaridebora@gmail.com.

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