Sociedade

Hoje acordei, Clarice

A grande escritora Clarice Lispector completaria 100 anos em dezembro.

Débora Nazari | Cientista social, jornalista, escritora e adamantinense | nazaridebora@gmail.com Colunista
Débora Nazari | Cientista social, jornalista, escritora e adamantinense | nazaridebora@gmail.com
Clarice Lispector (Foto: Maureen Bisilliat/Acervo IMS). Clarice Lispector (Foto: Maureen Bisilliat/Acervo IMS).

Clarice Lispector pode não ter dirigido grandes filmes ou escrito roteiros que arrastaram uma legião estrangeira de fãs nessa Era de podcasts e streamings. Porém, para muitos de nós leitores, todas as suas personagens e histórias nos deixaram uma felicidade clandestina na alma. Um texto intimidador, daqueles que chegam nos cantos mais escondidos da alma, aliás, como a própria Clarice recomenda em sua obra A Paixão segundo G.H., que gostaria que seus textos fossem lidos “por pessoas de alma já formada”. Tamanha complexidade, pois muitos de nós ainda estamos em formação.

É a intensidade de viver que talvez tenha inspirado essa incrível mulher, que agora em dezembro de 2020 completaria 100 anos. Histórias profundas, com adjetivos por vezes excêntricos ou personagens que comem baratas, porém de difícil interpretação para aqueles que não têm a tal “alma formada” ou que têm medo de experimentar a vida com todos os seus mistérios e o que mais ela oferece de belo.

Clarice publicou seu romance de estreia aos 24 anos, Perto do Coração Selvagem em 1943, e com ele ganhou seu primeiro prêmio literário Graça Aranha. Na mesma década começara a trabalhar como jornalista na Agência Nacional, em tamanha raridade para uma mulher adulta, numa área em que haviam pouquíssimas mulheres jornalistas no Brasil.

Segundo Teresa Monteiro, na publicação Clarice na Cabeceira (Editora Rocco), “Clarice está no mundo virtual, no cinema, no teatro, na dança, na televisão, na música. Ela continua atravessando fronteiras e cativando leitores.” A autora que deu novos significados aos laços de família e que com apenas alguns contos sensibilizou e apreciou o que há de mais humano em cada um de seus personagens nos deixou apenas fisicamente, pois sua obra é universal, ela consegue tocar cada coração nos momentos mais importantes da vida no amor, na dor, na felicidade e nos “apesar de”.

Vivemos um ano intenso e difícil, que para muitos foi um catalizador da alma, daquilo que vem de dentro. Particularmente gosto de reler esse pequeno trecho do livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, em momentos que sinto serem transformadores e quando necessito da minha dose clariceana:

“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida.”*

A simplicidade com que ela fala da complexidade da vida fez muitas pessoas declararem que a amam e que Clarice as entende. Por isso, fica a mensagem do mestre Guimarães Rosa para celebrar essa amada autora: “Clarice, eu não leio você para a literatura, mas para a vida”.

*

Você pode conhecer um pouco mais de Clarice em livros, contos, novelas de suas principais obras:

Perto do Coração Selvagem (1943)

Menor mulher do mundo (1950)

Alguns contos (1952)

Legião Estrangeira (1964)

Felicidade clandestina (1971)

Laços de Família (1960)

A Paixão segundo G.H. (1964)

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969)

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