Reflexões Matutas

Ai, minha mãe, minha mãe! O meio ambiente de Paulicéia/SP aos olhos dos moradores

Memórias dos impactos da instalação da Usina Caeté em Pauliceia nas palavras de uma moradora local, minha mãe.

Victor Hugo S. Souza | Historiador, professor, entusiasta das causas regionais e pauliceiense | profvictor97@gmail.com Colunista
Victor Hugo S. Souza | Historiador, professor, entusiasta das causas regionais e pauliceiense | profvictor97@gmail.com
(Imagem Ilustrativa). (Imagem Ilustrativa).

Nascida em meados da década de 1970, Sidinéia dos Santos Silva é um desses curiosos seres que habitam os rincões do oeste paulista, mais especificamente a cidade de Paulicéia/SP. Filha de trabalhadores rurais, ainda na infância, como era de praxe, já acompanhava os pais em colheitas nas lavouras de algodão, tomate, amendoim dentre outras culturas nas empreitadas da vida do pai, iniciou as suas próprias.

Ainda jovem amancebou-se com um leiteiro tão jovem quanto ela. À época, por volta de 1991, Sidinéia dedicava-se às atividades laborativas nas olarias de Paulicéia, o que lhe custou uma parcela de sua saúde, causando-lhe danos à coluna. Acostumados ao campesinato, a protagonista e seu parceiro rumaram para a zona rural do município, repetindo assim o padrão que marcava um elevado percentual dos casais matutos do extremo oeste paulista.

Sidinéia relembra que o trabalho árduo nas cerâmicas que produziam tijolos e telhas, o sofrimento dos boias frias nas roças e o início da construção da ponte que atualmente liga São Paulo e Mato Grosso do Sul, pela empresa Camargo Correia aqueciam a economia local e regional nesse período.

Em 2002, Sidinéia e o companheiro, agora já acompanhados de mais um membro na família, o primeiro filho, eu, e a espera do segundo, mudaram-se para a Fazenda Paulicéia, atravessada pelo córrego Itaí. A pauliceiense pontua que naquela fase da história da cidade a pecuária, sobretudo de corte, era muito expressiva na cidade fronteiriça.

Sidinéia dos Santos Silva (Acervo Pessoal).

Com a chegada da Usina Caeté no ano de 2005 a moradora relembra que a maior parte das propriedades rurais foram arrendadas para o plantio da monocultura da cana de açúcar.

“Assim que os aviões sobrevoavam as terras arrendadas pulverizando agrotóxico sobre a cana, no dia seguinte, nos córregos, em especial no Itaí, que passava pela fazenda em que eu morava, víamos dezenas de papagaios, maritacas, tucanos, pardais, melros, seriemas, coelho, sapos e tantos outros animais, todos mortos, muito provavelmente por terem ingerido a água contaminada. A população rural tinha medo até mesmo de colher maxixes próximo aos canaviais, pois muito provavelmente também estavam contaminados”. Sidinéia dos Santos Silva, 43 anos, entrevista cedida em 22 de março de 2021.

Com a ascensão da usina a maior parte da população rural foi forçada a migrar para a zona urbana, a paisagem da cidade tornou-se o contraste entre a beleza e imponência da ponte interestadual e do rio Paraná, com os grandes desertos verdes de cana de açúcar justificados pelos empregos gerados durante o período de safra.

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