Opinião

10 de setembro: dia mundial da prevenção do suicídio

Data alerta a sociedade sobre o suicídio e busca conscientizar acerca das medidas de prevenção.

Ana Vitória Salimon C. dos Santos Colunista
Ana Vitória Salimon C. dos Santos
10 de setembro: dia mundial da prevenção do suicídio

O suicídio, abarcando também os comportamentos suicidas, como as tentativas, é uma questão complexa, não havendo explicações simplistas para sua ocorrência, menos ainda para sua prevenção. É resultante de fatores complexos, os quais envolvem pessoas, sociedade, condições existenciais que se desenvolvem ao longo da vida em determinado tempo histórico e contexto social. Sua idealizada prevenção demanda dedicação humana na vida cotidiana, porém, também, alterações complexas em políticas públicas e modos de organização social.

O suicídio é compreendido mundialmente como uma relevante questão de Saúde pública, não sendo sinônimo de problema médico e sim no sentido amplo de que afeta muitas vidas, direta e indiretamente, sendo produzido e produzindo adoecimentos e impedindo condições de bem-estar e qualidade de vida.

O dia 10 de setembro marca mundialmente a “prevenção do suicídio”.  A data foi instituída há 15 anos pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio (IASP – International Association for Suicide Prevention), apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com o intuito de alertar sobre a existência do sério problema e conscientizar a sociedade da necessidade de medidas de prevenção. Cada ano a IASP define uma temática. Em 2017 é: “Doe um minuto, mude uma vida”.

No Brasil, há muitos anos ocorrem atividades nesta data e, em especial, há três, vem ocorrendo campanhas denominadas “Setembro amarelo”, fortemente estimuladas pelo Centro de Valorização da Vida e pela Associação Brasileira de Psiquiatria, ganhando forças por várias outras instituições, inclusive em nossa cidade e região, dando visibilidade ao tema através de diversas atividades.

Com apoio dos meios tecnológicos as informações se propagam rapidamente e experts em suicidologia, organizações e profissionais, pessoas da comunidade, leigas ou não no assunto, se colocam a público em prol da vida e da prevenção do suicídio. Também neste mês é incentivada a iluminação amarela de prédios, fachadas, bem como o uso de objetos amarelos como flores, bexigas, e em cartazes, como forma de dar visibilidade ao fenômeno.

Se, por um lado, essas ações tiram o problema do suicídio da invisibilidade, do silêncio, conscientizando a população sobre a existência de suicídios e dando visibilidade a um problema que precisa ser tratado com cuidado e com providências efetivas; por outro, preocupantemente, estão ocorrendo vários equívocos.

Motes como “vamos falar sobre suicídio” e “fale comigo” estão sendo reiteradamente propagados. Está existindo por muitos, a compreensão de que para prevenir suicídios é preciso falar sobre suicídios. Porém, falar indiscriminadamente sobre suicídio pode ser irresponsável, pois sem conhecimentos sobre o assunto, especialmente sobre a complexidade, modos de compreensão e intervenção adequados, podem ser realizadas afirmações com impacto negativo em vidas.

É necessário existir respeito e cuidados com pessoas afetadas por um suicídio ou que tentaram suicídio. Que estas pessoas possam ser ouvidas, compreendidas e atendidas em suas necessidades como ser humano. É preciso acabar com o preconceito, com estereótipos, com julgamentos culpabilizantes e moralizantes, os quais dificultam que pessoas em condição de sofrimento procurem ajuda e acabem mantendo-se ocultas com receio de serem discriminadas, sendo assim, é necessário, sim, quando se falar de suicídio, fazê-lo de forma cuidadosa e qualificada.

É necessário identificar, escutar e compreender atentamente quem se encontra em situação de risco; que as pessoas conheçam as instituições que podem prestar serviços em situação de crise, de risco ou de necessidade de acompanhamento profissional; que possam ser tolerantes, pacientes e compreensivas, refletindo sobre suas ações na situação, mesmo nesse nosso mundão de respostas rápidas; que os serviços estejam preparados para reconhecer e atender qualificadamente as demandas; que exista suporte social, seja familiar e/ou de amigos, e profissional, nas várias áreas, de acordo com a necessidade.

As “amarelizações” generalizadas que tem ocorrido em todo o Brasil tem impacto midiático, realmente chama a atenção para o tema, mas, só isto não bastará, que exista continuidade. O “tema/problema” não se resolve se só for amarelado. Que os prédios que se iluminam de amarelo aprovem Leis que garantam planos de prevenção do suicídio, que possibilitem estudos, pesquisas fundamentadas, e, a existência e funcionamento dos serviços necessários em Saúde, Educação, Segurança, Assistência Social, Habitação, Trabalho, Cultura, lazer, e outros; que as caminhadas e capacitações sejam contínuas, auxiliando em formas dignas de promoção de Saúde, que o “fale comigo” seja diário entre as famílias, nos locais de trabalho, em todos os espaços de convivência. Que existam convivências! O fortalecimento dos laços sociais em qualquer e toda fase do desenvolvimento humano e a garantia de condições dignas de existência são fatores de proteção ao suicídio.

Que 10 de setembro e todo o setembro sejam mais uma possibilidade de compreender que suicídio não é “uma doença”, é a resultante de uma combinação complexa de fatores que ocorrem em sociedade, sendo esta, em primeira e última instância, responsável pela constituição e cuidado com os seus membros.

No Brasil, desde 2006, temos as Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio, as quais indicam medidas a serem tomadas pelos três níveis de governo, porém, até hoje não se concretizou um plano nacional de prevenção do suicídio. Ações são realizadas em vários municípios e estados, porém, não há uma política pública definida.

Voltando ao tema internacional (e a parte de outras reflexões mais profundas): “Doe um minuto, mude uma vida” permite-nos pensar tanto naquele tempinho que paramos para conversar com um colega ou familiar desesperançado e/ou desesperado quanto nos momentos que paramos para “bater um papo” com um vizinho, com amigos, para embalar nossos filhos, brincar, jogar, dançar com crianças, jovens e adultos, ouvirmos nossos companheiros, nossos idosos, fazermos uma atividade escolhida por outro, mesmo não sendo a de nossa preferência, quando temos paciência em uma discórdia, quando demonstramos afeto... Prevenir suicídio, muito mais do que falar sobre suicídio, é colaborar para que a vida valha a pena!

Em urgências e emergências acione o Corpo de Bombeiros, 193, ou dirija-se ao Pronto Socorro Municipal. Em caso de necessidade de avaliação e suporte profissional procure a Estratégia de Saúde da Família de seu bairro, a mesmo poderá atender em suas especificidades e encaminhar para outros serviços necessários, em várias áreas. Ou informe-se no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou no Núcleo de Psicologia da UNIFAI (NUPFAI).

(1) Ana Vitória Salimon C. dos Santos - Mestre em Psicologia – UNESP/Assis, Pesquisadora FAMERP/S.J.Rio Preto, Docente, supervisora de estágio e coordenadora do Núcleo de Psicologia/UNIFAI, Membro e articuladora da Rede Promover Vida/Adamantina/SP, Membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio – ABEPS, Membro do Comitê Pró-CVV de Adamantina-SP.

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