Memória

Quem eram os donos de Adamantina no início?

Uma breve análise sobre as origens do território de Adamantina.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Mapa do Estado de São Paulo com indicações de terrenos desconhecidos e em exploração, o que incluía a região, produzido pela então Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo (Reprodução). Mapa do Estado de São Paulo com indicações de terrenos desconhecidos e em exploração, o que incluía a região, produzido pela então Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo (Reprodução).

 “O homem que não conhece a História é um menino.”

Cícero

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Nas diversas crônicas já produzidas para tal coluna, são inúmeros os nomes, dos ditos pioneiros, e as datas elencadas como importantes e/ou construídas ao longo da história da terrinha. E claro que, você também constatará em outros meios, redigidos por outros autores, a mesma coisa, ou seja, quem fez e quando fez. Aquela famosa “história cronológica”. No entanto, pouco se fala do que havia “antes do início”.

Conforme já descrito, por aqui a presença indígena das tribos Kaingangs era tamanha, que inúmeros foram os ataques aos membros das Expedições Geográficas e Geológicas do Estado de São Paulo (reveja). Os quais chegam a ser evidenciados em seus Relatórios. No entanto, o que me fez redigir o atual texto, foi um mapa recebido pelo Whats App.

Mapa do Estado de São Paulo com indicações de terrenos desconhecidos e em exploração, o que incluía a região, produzido pela então Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo (Reprodução).  

Provavelmente o mesmo fora produzido antes das Expedições Geográficas e Geológicas do Estado de São Paulo, pois na região onde residimos, o Extremo Oeste Paulista, ainda constavam os dizeres: TERRENOS DESCONHECIDOS E EM EXPLORAÇÃO”. Até aí, nenhuma novidade! Mas, aí surgiu uma dúvida: De quem eram essas terras? Infelizmente, já não eram mais territórios pertecentes aos agrupamentos indígenas que por aqui viviam. Então, quem eram os donos de tudo isso?

Precisamos ir um pouquinho longe, lá pelos idos de 1850, quando é criada a famosa “Lei de Terras”. A lei nº 601 de 18 de setembro de 1850(1), foi a primeira tentativa no sentido de se organizar a propriedade privada no país, tendo em vista que não havia até então nenhum documento que o fizesse, ou seja, a terra poderia ser comercializada. Acabando assim com o sistema de “sesmarias”(2). Mas, o que isso tem a ver com a terrinha?

Traçado do loteamento da Gleba Boston Cattle, no ano de 1939. Fonte: Rubens Galdino da Silva, 1989; p. 75 (Reprodução). 

As primeiras transcrições de compra e venda dessa região datam do ano de 1890, conforme descreve o Prof. Cândido Jorge de Lima:

1ª Transcrição nº 93, de 02 de outubro de 1901, Manoel Vicente de Araújo Cintra e outros receberam por compra feita a Domiciano Luiz Roza e outros em 26 de julho de 1890.  – Registro Público das terras de Campos Novos do Paranapanema(3).

2ª Transcrição nº 6174, de 28 de agosto de 1920. Os herdeiros de Manoel Vicente de Aráujo Cintra, receberam essas terras conforme formal de partilha do Juízo federal na divisão da Fazenda Monte Alegre, por sentença de 17 de junho de 1918.  – Juízo de Direito de Assis.

3ª Transcrição nº 5855 e 5854 de 14 de junho de 1920, Murdo Mackenzie e sua mulher receberam parte da Fazenda Monte Alegre, dos herdeiros de Manoel Vicente de Araújo Cintra, gleba com área de 19.200,43 alqueires, por compra feita a Dona Leocádia Proost Rodovalho Cintra e outros, em 17 de fevereiro de 1920, conforme transcrição acima da Comarca de Assis, e o restante por carta de arrematação expedida em 29 de maio de 1920, no Juízo de Direito de Assis.

4ª Transcrição nº 6636 de 07 de janeiro de 1921, Boston Cattle Company Ltda. adquiriu por compra de Murdo Mackenzie e sua mulher, parte da gleba de terras situada na Fazenda Monte Alegre com área de 20.677,37 alqueires, compra feita em 23 de dezembro de 1920. – Comarca de Assis.

5ª Transcrição nº 301 de 07 de novembro de 1939 – “Escritura de 20 de outubro de 1939 -  Companhia Industrial Citrícola Aparecida adquiriu de Boston Cattle Company Limited com sede em Montreal (Canadá) parte da gleba de terras situada na Fazenda Monte Alegre com área de 1.792.320 metros quadrados = 74,062 alqueires, situado no município de Martinópolis, Comarca de Presidente Prudente – CRI da 2ª Circunscrição. (LIMA, 1999, p. 29-30).

Mapa do primeiro loteamento do Patrimônio de Adamantina efetuado pela CICA (Companhia Industrial e Citrícola Aparecida), conforme registro sob nº 1, em 12/12/1939, no 2º Cartório de Registro de Presidente Prudente (Reprodução: Livro Jubileu de Ouro/Cândido Jorge de Lima). 

A  Companhia Industrial Citrícola Aparecida (CICA), em 1942 passou a se denominar Companhia de Indústria e Comércio, Mineração e Agricultura (CICMA). E daí para frente a história já é conhecida por todos nós. No entanto, é sempre bom saber o que havia antes do início. 

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(1) Conferir: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L0601-1850.htm> Acesso em 12/01/2020.

(2) As sesmarias eram um lotes de terras distribuídos a um ou mais beneficiários, em nome do rei de Portugal, com o objetivo de se cultivar nas terras recém-descobertas, nesse caso o Brasil.

(3) Atual Campos Novos Paulista.

 Tiago Rafael dos Santos Alves

Professor, Historiador e Gestor Ambiental

Membro Correspondente da ACL e AMLJF

tiagorsalves@gmail.com

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