Proclamação da República? Onde? Quando? Para quem?
Uma breve análise sobre a Proclamação da República no Brasil
“Percorremos um longo caminho, muitos anos de história do esforço para construir o cidadão brasileiro. Chegamos ao final da jornada com a sensação desconfortável de incompletude”.
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“A ausência de ampla organização autônoma da sociedade faz com que os interesses corporativos consigam prevalecer”.
José Murilo de Carvalho
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Nos últimos dias a ânsia pelos feriados prolongados toma conta da população como um todo. Nesta semana como todos sabem, comemoramos a Proclamação da República no Brasil, o famoso “15 de novembro de 1889”. Mas, o que mudou de lá para cá?
Vamos aos fatos: Foi comum, ver nos livros didáticos, a imagem do Marechal Deodoro da Fonseca em cima de um cavalo, com o traje de gala do exército, etc. Criando dessa forma um “mito (ou herói)” que nunca existiu da forma como pintam.
A queda da Monarquia em nosso país deve ser entendida com base em diversos fatores, que não devem ser considerados únicos e nem entendidos como feitos de uma única pessoa:
Família Imperial Brasileira.
- O fim da escravidão em 1888, acabou desestabilizando os fazendeiros, extremamente dependentes dessa mão-de-obra no período.
- O Brasil ao contrário das outras nações americanas, foi o único país a se tornar uma Monarquia ao invés de uma República, após a sua independência. (Aliado ao fato de que o grupo ligado à Metrópole portuguesa ainda imperava por aqui)
- A centralização monárquica de nosso país prejudicava a autonomia e economia de diversas províncias do país (São Paulo e Minas Gerais)
- A Perda de apoio popular, D. Pedro II e sua família sofriam inúmeras retaliações e chacotas nos periódicos nacionais e locais, demonstrando tamanho descontentamento da população e de grupos liberais.
Charges com D. Pedro II: chacotas nos periódicos nacionais e locais.
- A Crise com a Igreja Católica, devido à política do Padroado exercida por D. Pedro II frente às decisões eclesiásticas.
- E não podemos esquecer das campanhas realizadas pelo Exército (Guerra do Paraguai), que acabaram suscitando ainda mais os ânimos dos militares para um possível levante, o que de fato veio a ocorrer.
Marechal Deodoro da Fonseca: o mito que nunca existiu.
Se fizermos uma análise dos primeiros anos do período republicano, veremos que muito pouco se alterou em todos os setores, apenas a nossa organização política, que passou de Monarquia a República de forma despercebida. Quanto aos ex-escravos e o povo de uma forma geral, como já mencionado, permaneciam à margem de tudo.
E se analisarmos um pouquinho mais tal período, veremos que até os símbolos que utilizamos, não passam de cópias e invenções daqui ou acolá, criados naquele momento, como forma de se incentivar o “tal sentimento nacionalista” que nunca houve em nosso país.
Nos dias atuais e em terras longínquas (Bem distante do Brasil!), criam-se mitos e heróis que nunca o foram, e de forma torta tentam buscar e exaltar ares nacionalistas com discursos e frases prontas. Mas, isso ocorre bem longe daqui! Quanto ao povo? Este ainda espera “bestializado” a troca de um herói (ou mito) pelo outro, à espera de que um dia, tudo possa mudar.
Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.
Efigie da República: uma remodelação da Efigie da República Francesa; e a capa da Revista Fon Fon, representando a Velha Monarquia a Jovem República.