Memória

Festas juninas: entre o sagrado e o profano

A origem multicultural das festas juninas no Brasil.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Festas juninas: entre o sagrado e o profano

 “Cai, cai, balão. / Cai, cai, balão. / Aqui na minha mão. /
Não vou lá, não vou lá, não vou lá. / Tenho medo de apanhar.”
(Cai, cai, balão)

* * *

O mês de junho é claramente marcado pelas diversas festas populares que ocorrem nas escolas, nos bairros e até mesmo nas residências. As festas juninas como são chamadas, homenageiam os três santos da Igreja Católica: Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29). Mas, será que sempre foi desse jeito? É claro que não!

Antes da Era Cristã, diversos cultos e festejos pagãos eram realizados no Hemisfério Norte em pleno Solstício de Verão, tendo em vista que entre os dias 21 e 22 de junho, os dias são mais extensos que as noites. Além disso, outros povos, como os celtas e os egípcios, realizavam nesse período, rituais de fartura nas colheitas.

Na Idade Média, tais cultos e rituais foram reproduzidos até o séc. X, lembrando que neste período os costumes e ritos populares eram combatidos de forma “ferrenha” pela Igreja Católica. Dessa forma, a solução encontrada foi a “cristianização” de rituais e cultos pagãos à fertilidade, e como as datas acabavam coincidindo com os três santos mencionados, surgiam assim as primeiras festas juninas.

Mesmo antes da chegada dos primeiros europeus ao Brasil, o curioso é que alguns agrupamentos indígenas que aqui viviam, também praticavam rituais semelhantes e na mesma época. Assim os festejos dos nativos acabaram se fundindo às festividades católicas trazidas pelos jesuítas.

Mas, e de onde vem o “estilo caipira “ da festa? Atentemos ao fato de que a maioria da população nessa época vivia na zona rural e a urbanização, se levarmos em conta a história de nosso país, ainda é um processo bem recente.

Dentre algumas curiosidades, podemos destacar a multiculturalidade das festas juninas, por exemplo: A quadrilha, possui influências francesas e foi introduzida por aqui pelos portugueses; a fogueira por sua vez, está presente na maioria dos rituais pagãos e indígenas e até mesmo no cristianismo; a música acaba refletindo a região onde se insere a festa, mas de forma geral nomes como Luiz Gonzaga, Mario Zan e Dominguinhos sempre são executados; As simpatias misturam o profano, dos ritos e costumes locais, e o sagrado, presente na religião cristã católica; Por fim, destacam-se as comidas típicas, também presentes na alimentação dos nativos e dos povos que por aqui chegaram.

Aqui na terrinha, as festas juninas também fazem a alegria de muita gente, tradições ainda são mantidas em diversos lugares, quem não se lembra das “cadeias”, dos “correios elegantes”, da “barraca do peixinho”, dos “mastros” que homenageiam os santos juninos, das “batatas doce” assadas na brasa das fogueiras, dos “pulos” que foram dados sobre estas, enfim, lembranças não faltam.

Pois bem, o fato é que muito disso está se perdendo hoje, a diversão das festas juninas de outrora acabou se perdendo, ou está sendo reinventada, por esse ou aquele motivo. A nós, que um dia vivenciamos tudo isso, ficam apenas as boas lembranças de que fazer parte de uma quadrilha era legal (Pelo menos nas festas juninas!)

Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.

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