Memória

Entre Coroados e Kaingangs, a presença indígena no extremo oeste paulista – Parte II: O Verdadeiro Bandeirante de Adamantina

Repensando e reinterpretando a presença indígena no extremo oeste paulista através de novas fontes.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Índios Coroados. Fonte: Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo - Exploração do Rio do Peixe; 1913. p. 33. Índios Coroados. Fonte: Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo - Exploração do Rio do Peixe; 1913. p. 33.

“A diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que constrói, tudo o que toca, pode e deve fornecer informações sobre eles.”

Marc Bloch

* * *

Nesta semana, em meio aos atuais tempos de reclusão doméstica pós-coronavírus, enquanto muitos de nós estamos realizando o tal do “home office” (ou teletrabalho), como fico em meu escritório, acabei reencontrando em uma de minhas estantes, alguns arquivos da época de graduação .

O mais curioso é que em meio a tais documentos, acabei localizando uma cópia da Dissertação de Mestrado do Prof. Dr. Rubens Galdino da Silva, um dos primeiros trabalhos sobre a história da terrinha. Me recordo de tê-la lido em meados de 2008, logo no ínício da minha graduação em história.

Pois bem, mas o que tal estudo tem a ver com o texto em questão? Como já relatei por aqui em outrora (reveja) sabemos da presença indígena dos Kaingangs (Coroados) em nossa região e que os mesmos também acabaram sendo dizimados e/ou expulsos pelo “pioneiro/desbravador/bandeirante” em seu movimento de expansão para o oeste.

Mesmo sabendo de tudo isso, são poucos os vestígios dessa presença na terrinha. Muitos deles são encontrados nos Relatórios das Comissões Geográficas e Geológicas do Estado de São Paulo, mas também existem outras fontes daqui e dali que merecem destaque. É aí que entram alguns trechos de tal estudo realizado pelo Prof. Dr. Rubens.

Para minha surpresa, ao folhear tal dissertação, logo nas primeiras páginas, acabei localizando uma citação de 1942, do  Sr. Arthur Pacífico Garbini, presente no material “Memórias de Adamantina”, por ele utilizada. Nela fora relatada a “suposta” presença de restos mortais de indígenas que por aqui um dia já residiram. A qual reproduzo abaixo: 

“Eu estive na roça dos Mantovani (Córrego do Pavão) para retirar madeiras (toras), como costumeiramente fazia em todos os sítios onde tivesse esse material para serraria. No meio do café recém plantado divisei uma montanha de terra. A minha intuição era de que embaixo desse monte estaria sepultado um índio. Quando regressei contei o fato ao compadre João Jorge de Oliveira, inspetor de quarteirão. Ao dia seguinte ele e eu, com os Mantovani, fomos ao local, com enxadas e enxadões. Fizemos a escavação até depararmos com um tôco de mais ou menos um metro e meio. Não continuamos o afundamento, para não violarmos a URNA QUE DEVERÁ CONTER OS RESTOS MORTAIS DESSE ÍNDIO, representante de uma raça que foi, sem dúvida, a do verdadeiro Bandeirante de Adamantina. “ (Letras maiúsculas do autor e negrito nosso) (SILVA, 1989, p. 18)

Assim, percebe-se que conforme já fora mencionado que, somente vestígios e relatos foram encontrados dos agrupamentos indígenas que por aqui um dia já existiram. No entanto, e assim também confirma o Prof. Dr. Rubens em sua pesquisa, os “desbravadores da região de Adamantina”, que adentraram as densas “matas virgens” “nunca encontraram índios”, somente pertences e jazidas de restos mortais. (Idem)

Isso nos leva a outra constatação, conflitos entre os ditos “desbravadores” e os indígenas existiram. E sabemos quem levou a melhor em tudo isso! Mas, também é importante destacar que, conforme a “marcha para o oeste” avançava, assim também avançavam sertão adentro os indígenas, ante às ameaças de seus invasores. (Idem)

Enfim, novas fontes e novos vestígios, sempre nos levam a novas descobertas e novas interpretações disto ou daquilo e nisso reside a história e o nosso ofício.

Tiago Rafael dos Santos Alves

Professor, Historiador e Gestor Ambiental

Membro Correspondente da ACL e AMLJF

tiagorsalves@gmail.com 

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