Memória

E os nordestinos? Como chegaram por aqui?

Um pouco da história de uma família nordestina que por aqui chegou na década de 1950.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Grupo de nordestinos imigrantes embarca em um veículo pau de arara (Acervo: Arquivo Nacional) Grupo de nordestinos imigrantes embarca em um veículo pau de arara (Acervo: Arquivo Nacional)

Quando se fala na história da terrinha, são comuns as inúmeras falas sobre os descendentes de imigrantes, sejam eles italianos, portugueses, espanhóis, árabes, alemães, japoneses, etc. No entanto, pouco se menciona sobre os grandes contingentes de nordestinos e mineiros que por aqui também chegaram nas primeiras décadas.

E tudo isso me fez lembrar de alguns momentos de conversa com os meus avós, Urbino e Guiomar. A alguns anos atrás, quando ainda residia com eles, era bem comum vê-los contando a saga de sua viagem nos caminhões pau de arara e trens, com malas, sacolas e o muito pouco que possuíam.

Sempre destacavam que o principal motivo de sua saída lá do distrito de Cristalândia, em Brumado na Bahia, foram a fome, a seca e morte de filhos recém-nascidos em decorrência da falta de atendimento médico adequado.

O mais curioso é que por falta de documentos básicos (certidão de nascimento, casamento, RG, etc) e aliado ao fato de também não serem alfabetizados, muitos desses migrantes precisavam portar um documento denominado “Atestado de Nacionalidade Brasileira”, emitido pelas delegacias locais, para que pudessem transitar de um estado para outro. E no caso dos meus avós, isso não foi diferente.

Atestado de nacionalidade brasileira para fins de viagem, de Urbino Vieira, usado na época para os deslocamentos de imigrantes pelo país (Acervo Pessoal).

 Ao chegarem até a nossa região no início da década de 1950, meus avós adquiriram uma pequena propriedade rural no então distrito de Mariapólis. Poucos anos depois, acabaram vendendo tal propriedade e se mudaram para Adamantina, onde meu avô continuou a trabalhar na zona rural, mas alguns anos depois, decidiu abrir um boteco à frente de sua residência (Alameda Navarro de Andrade, hoje Bráulio Molina Frias – 398). E assim, permaneceu até se aposentar.

É claro que, esta é apenas uma breve história de parte da minha família, que por aqui se fizeram presentes, no entanto muitos são os Urbinos e Guiomares que também percorreram o mesmo trecho ou empreitada nesta mesma época, mas que sequer são ao menos lembrados na história da terrinha. A estes, o meu singelo agradecimento e respeito.

Tiago Rafael dos Santos Alves

Professor, Historiador e Gestor Ambiental

Membro Correspondente da ACL

 

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