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Surdos comemoram Dia Nacional do Deficiente Auditivo e cobra inclusão

Surdos buscam inclusão, visibilidade e oportunidades no cotidiano onde vivem.

Por: Da Redação atualizado: 2 de outubro de 2017 | 14h18
Surdos, familiares e intérpretes promovem integração, comemorando data em Adamantina (Foto: Cedida). Surdos, familiares e intérpretes promovem integração, comemorando data em Adamantina (Foto: Cedida).

O 26 de setembro é comemorado o Dia Nacional do Deficiente Auditivo. A data foi escolhida em razão de ter sido o dia da inauguração da primeira escola para surdos no Brasil, em 1857. Com o nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro (atualmente INES — Instituto Nacional de Educação de Surdos), a instituição foi fundada pelo professor francês Ernest Huet, que era surdo.
A data não passou despercebida em Adamantina, graças à mobilização de um grupo de voluntárias, que atuam como intérprete de Libras junto a um grupo de surdos na região, e permitem a inserção social dessas pessoas em diversas situações do cotidiano. O encontro desse grupo, para celebrar a data, foi realizado nesta semana, na Cupim House.

Trabalho voluntário com surdos

Uma das voluntárias é a comerciante Raquel Borges Filgueira. Ela é formada no magistério pelo CEFAM (1990) e fez curso superior em pedagogia, pela UNIDERP. Em 2103 fez seu primeiro curso de Libras ministrado pela professora Rosane de Carvalho (Especialista em Libras e Educação Especial), de Flórida Paulista. Desde então, não parou mais.
Raquel toca suas atividades profissionais como comerciante, mas isso não a restringe de realizar trabalhos voluntários de intérprete de Libras. Ela lembra que no início eram três, e dividia esse desafio com as colegas Maria Eloísa Paulino Braz (intérprete em Ouro Verde atualmente) e Daiane Suzuki (intérprete oficial da Prefeitura de Lucélia). Agora, estão ela, em Adamantina, e Daiane, em Lucélia, dividindo a ação voluntária de tradução.
Elas conhecem grande parte dos deficientes auditivos na região e os contatos se dão de maneira presenciais, em diversas situações, e pelas redes sociais. Segundo Raquel, a cooperação maior acontece em Lucélia, onde o trabalho voluntário se iniciou e por haver um maior estreitamento de laços com os deficientes auditivos. “Atendemos no contexto religioso e nas diversas necessidades do dia a dia, em lojas, negociações, consultas médicas, entre outras situações”, explica a voluntária.
No ano passado elas ministraram um curso aberto para a comunidade, no Templo da Primeira Igreja Batista de Lucélia, onde puderam ensinar o módulo básico de Libras. A atividade contou com a participação de um grupo de surdos, que reforçou a importância inclusiva do curso. “Os donos dessa linguagem são os surdos, portanto eles têm maior autonomia sobre o conteúdo. Foi muito gratificante ver os surdos vendo sua língua sendo divulgada, destaca Raquel.

População de surdos na região e desafios

A voluntária Raquel Filgueira explica que não há números oficiais sobre a população de pessoas surdas na região onde atuam. Informações extraoficiais apontam entre 20 a 30 surdos em Lucélia, e entre 40 e 50 surdos em Adamantina. Um ponto preocupante citado pela voluntária envolve aqueles que se escondem e não participam da vida social. “Ainda hoje existem muitos surdos praticamente escondidos, que não estudam, não participam de eventos culturais e não são vistos. A pergunta é: por quê? A resposta está na falta de acessibilidade nos eventos culturais”, exemplifica.
Raquel cita a Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, que oficialmente reconhece a Libras como meio de comunicação e expressão. “A língua de sinais foi reconhecida por lei como a língua oficial da comunidade surda, com estrutura própria e garantida pelo poder público. Sendo assim, eles têm seus direitos de acessibilidade nos eventos e vida pública garantidos por Lei”, destaca.
No âmbito local e regional, as principais dificuldades vividas por essa comunidade é a interrupção das ações do poder público em prol dos surdos. Ela explica que existe o suporte e atenção aos surdos na fase escolar, por exemplo, mas quando deixam a escola se tornam ouvintes (termo que usamos para designar as pessoas que ouvem normalmente). “Acaba aí a preocupação e a acessibilidade desse povo”, reclama. As necessidades dessa comunidade permanecem. “Agora sinta o drama de um surdo que precisa frequentar um psicólogo, falar sobre o subjetivo, emoções, enfim, é quase um luxo conseguir isso para eles”, reitera. Essa ausência de atenção ocorre em diversas situações, como acesso a eventos culturais e diversas situações rotineiras, do cotidiano.
Raquel destaca que os desafios de promover a inclusão são de todos – da sociedade e do poder público. “Assim como os ouvintes, os surdos são brasileiros portadores de direitos, como todo cidadão. Cabe então assegurá-los, lutar com eles a partir do momento que conhecemos esse déficit em nossa sociedade”, diz.

Surdos: estrangeiros no local onde vivem

Para a voluntária Raquel Filgueira, aceitar o outro requer conhecimento sobre sua condição e realidade. “Há tanto para ser feito, a começar perto de mim, por existe um povo estrangeiro dentro de seu próprio país. É preciso aprender sua língua interagir com eles e ajudá-los”, reclama. Quando se torna possível encontrar pessoal que falam o mesmo idioma – inclusive Libras – a sensação é libertadora e de segurança.
Diante de todo esse desafio, e do trabalho que é possível realizar, Raquel se vê motivada, sobretudo pela prática das obrigações como cidadã e cristã. “Sei que o caminho é longo e temos muito que aprender, mas a direção está correta e é isso que importa. Se olharmos na história dos surdos, veremos que eles evoluíram muito e continuam a evoluir, pois a sua limitação auditiva não os incapacita a aprender e crescer como pessoa.  O que impede os surdos de crescerem se chama falta de oportunidade”, reforça.
Por fim, Raquel cita um trecho do livro “Vôo da Gaivota, de Emmanuelle Laborit: “Recuso-me a ser considerada excepcional, deficiente. Não sou. Sou surda. Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus olhos são meus ouvidos. Sinceramente nada me falta. É a sociedade que me torna excepcional".

Fique por dentro

Outro ponto trazido por Raquel Filgueira é uma orientação sobre a expressão surdo-mudo. Ela explica que esse termo foi abolido e não se usa mais pois já foi comprovado que a audição não tem nada a ver com o aparelho fonador (o conjunto de órgãos responsáveis pela fonação humana). Segundo Raquel, os surdos não falam porque não aprenderam a falar, não tiveram experiências auditivas na maioria das vezes, porém há alguns que são oralizados, falam e entendem a leitura labial dos ouvintes.

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