Opinião

Quando a ignorância é maior que a própria baleia

Se não há disposição para contribuir, que não haja contribuição para ampliar as tragédias opinativas.

Por: Acácio Rocha | Jornalista | Diretor de Conteúdo do Portal Siga Mais | Vereador em Adamantina
Quando a ignorância é maior que a própria baleia

O primeiro desafio é tentar trazer alguns aspectos sobre o significado da palavra ignorância. A expressão define o estado de quem não está a par da existência ou ocorrência de algo, ou o estado de quem não tem conhecimento, cultura, por falta de estudo, experiência ou prática.
A recente notícia sobre um registro de eventual participante em Adamantina (SP) no macabro desafio da “Baleia Azul” repercutiu imediatamente nas redes sociais, e expôs o quanto há pessoas despreparadas para discutir a sociedade e a própria vida. Na falta de argumentos – pela incapacidade, ignorância ou a própria negação – tentam relacionar esses episódios ao que definem como “desvios de modelos e padrões”.
As questões dramáticas vividas no interior de cada um, acometido por uma depressão, um desvio comportamental ou qualquer outra fragilidade emocional possível a todos os indivíduos, são trazidas rasamente à discussão. Esses, na reflexão equivocada sobre educação, formação dos filhos e autoridade paterna, defendem que “uma boa chinelada” resolveria tudo.
Com referência a determinado período ou época, ou a determinados padrões de formação cultural, social e familiar, embasam muitos fatores atuais como decorrentes de desvio ou transgressão a esses conceitos. E que a retidão e a observância a esses padrões deveriam ser regidos sob a ameaça ou castigo das chineladas.
Outro ponto preocupante é o posicionamento daqueles que negam a depressão ou outros problemas comportamentais como problema de saúde, e que “umas boas palmadas” resolveriam isso. Ou então, argumentam que isso de dá por “falta do que fazer”.
Nesse cenário dramático, nos tempos de hoje, o que se tem é o indivíduo e a sua rendição à baleia. Nos tempos atuais isso se estabelece pela via tecnológica, que por sua vez conecta a vítima – com suas fragilidades e sua vulnerabilidade – às armadilhas construídas pelos argumentos da sedução e do aliciamento sádico, daquele que está do outro lado, que se conduz pela busca de prazer com a humilhação e o sofrimento alheio.
Assim, os aspectos comportamentais, íntimos e dramáticos desse grupo, que é alvo desse aliciamento e terrorismo emocional, e cujos indivíduos abrem seu interior conturbado, fragilizado e vulnerável para uma apropriação externa, invasiva e dominante, merecem ser acolhidos por quem é capaz de lidar profissionalmente com esse quadro.
Nesse ambiente, inserem os pais, familiares, educadores, psicólogos, psiquiatras, terapeutas e outros profissionais que lidam com a saúde e o comportamento humano. A junção desses fatores e a atuação objetiva sobre esses indivíduos, pode eventualmente produzir um cenário diferente e um final menos sombrio. Ou, melhor, um cenário sem sombras e de novas oportunidades de vida.
Fora disso, o que se ambientaliza é a especulação nutrida por opiniões que tornam ainda mais turbulentas as águas onde naufraga o indivíduo, que silenciosamente agoniza, devorado pela própria criatura. A baleia pode ser maior que si, e em todos os aspectos – naturais e simbólicos – se faz maior. Só não é maior que o mar da ignorância, que os cerca, por todos os lados.
Nesse universo, o desafio é pela sobrevivência. Entram em cena o indivíduo e a luta contra si, onde ele mesmo, sem ajuda, se faz perdedor na maioria das vezes. E pode se fazer perdedor até mesmo com ajuda profissional. O tema é preocupante, atual, urgente e precisa mobilizar e sensibilizar a todos, e que haja maturidade, racionalidade, solidariedade e compaixão com quem se vê envolvido no drama e aos que estão dispostos a ajudar.
É preciso se colocar no lugar do outro e reconhecer todos os reflexos de uma conduta, um posicionamento ou uma palavra pronunciada. Se não há disposição para contribuir, que não haja contribuição para ampliar as tragédias opinativas originadas naqueles que na maioria das vezes se colocam como inatingíveis, mas que revelam o próprio despreparo emocional.
Essa conduta perversa ajuda a explicar esse mundo de tantos dessabores e decepção, e a justificar esse mar turbulento, tomado por águas turvas, com náufragos à espera da baleia azul. O resgate é dever de todos!

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