Memória

Lendas brasileiras (I): o lobisomem

As histórias e crendices locais sobre o lobisomem.

Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental Colunista
Tiago Rafael | Professor, historiador e gestor ambiental
Lendas brasileiras (I): o lobisomem

“Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem” (Jean-Paul Sartre).

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No mês de agosto me propus a escrever sobre as lendas do folclore brasileiro e suas relações com a terrinha. Infelizmente muito disso acaba caindo no esquecimento ou vive à margem de um tal de “ralôim” (espécie de festa típica nos “EUA”, mas que vem invadindo a nossa cultura cada vez mais). Pois bem, era comum quando criança escutarmos inúmeras lendas locais, de sacis, caiporas, sereias (Iara), botos e de lobisomens, confesso que quando criança tinha um medo danado deste último.

Morei e continuo morando próximo ao cemitério municipal, e convivi com uma história que me intrigava quando era criança. Diziam que naquele bairro havia um certo senhor que se transformava no tal do lobisomem, um misto de homem e lobo. É claro que, naquela época não precisava muito para apavorar qualquer criança, principalmente no lugar onde morávamos.

Os vizinhos, meus avós e minha mãe, sempre contavam uma história, que em períodos de “quaresma” e com uma lua cheia, esse tal de lobisomem aparecia e devorava crianças recém-nascidas, que ainda não haviam sido batizadas e filhotinhos de animais. E para garantir ainda mais o conto, diziam que o senhor que “amarrava” os cavalos próximo de nossa casa, era o tal do “bicho”.

É claro que isso assombrava a todas as crianças da rua, que em determinadas horas da noite, iam para suas casas com medo do tal do lobisomem. Mas, de onde vem essa lenda? Alguns pesquisadores apontam que esta é bem antiga e remete a alguns mitos gregos da antiguidade, outros também a relatam na Europa, nos períodos medievais.

Aqui no Brasil, a lenda como já mencionada sofre alterações locais e regionais. Em algumas versões, conta-se que somente o sétimo de filho homem depois seis filhas mulheres, se tornaria um lobisomem. Uma outra versão diz que um homem se transformaria em lobisomem se não fosse batizado (ou como diziam: se fosse pagão). Mas, também há relatos de seres com as mesmas características na mitologia guarani. Outra história bem difundida, se dá com relação à fraqueza deste ser em relação aos objetos de prata.

Atentemos ao fato de que cada mito ou lenda possui as suas particularidades locais, e muitos também são adaptados ao bel-prazer dos que contam e/ou recontam cada história. Enfim, o mais importante disso tudo são as recordações de um período onde não importava o crepúsculo, o amanhecer, se tinha eclipse ou sequer lua nova, nós nos divertíamos (com muito medo, é claro) a cada novo episódio.

Tiago Rafael dos Santos Alves é historiador. Acesse aqui seu perfil.

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